Clube Zero
Exibido no último Festival de Cannes, onde integrou a Seleção Oficial para concorrer à Palma de Ouro, Clube Zero marcou o retorno da cineasta austríaca Jessica Hausner ao celebrado evento francês quatro anos após “Little Joe: A Flor da Felicidade”, onde a atriz britânica Emily Beecham foi laureada com o prêmio de Melhor Atriz. Agora, é a vez da obra controversa chegar ao Brasil, onde receberá lançamento exclusivo nos cinemas pela Pandora Filmes no dia 18 de abril.
Jessica Hausner prossegue refletindo sobre falhas sistêmicas em nossa sociedade enquanto desenvolve uma premissa delicada: a manipulação de um grupo de jovens alunos induzido a parar de comer com o objetivo de encontrar a evolução espiritual promovida pela Miss Novak, papel central defendido pela australiana Mia Wasikowska (de “A Ilha de Bergman” e “Alice no País das Maravilhas” na versão de Tim Burton), alicerçada por um elenco formado por veteranos e jovens atores iniciantes.
Nas palavras da realizadora e coautora do roteiro, “Clube Zero analisa como os pais transferem sua responsabilidade pelos filhos à uma professora que abusa dessa confiança. A Miss Novak manipula as crianças e as aliena de seus pais. Eles são obrigados a viver o maior pesadelo de todo pai: perder seu filho. Clube Zero aborda esse medo existencial e questiona: ‘Como os pais podem monitorar seus filhos quando simplesmente não têm tempo suficiente para eles?’”
Para exibir a dessintonia entre jovens e adultos, Hausner e Géraldine Bajard, com elementos satíricos, contornam quase todos os responsáveis pelos alunos que se tornam seguidores fiéis da Miss Novak, onde passam a formar o Clube Zero que dá título ao filme. Basicamente uma seita liderada por uma educadora que também tem assuntos mal resolvidos com a sua mãe, como se vislumbra nas pinceladas que se dão nas lacunas desta personagem, ao mesmo tempo, aprazível e perigosa.
Em coletiva de imprensa no Festival de Cannes, Mia disse que conversou muito com Jessica Hausner no processo de pré-produção sobre Miss Novak e o que estava por trás de suas motivações. “Chegamos à conclusão de que era muito importante interpretá-la como se realmente acreditasse em suas filosofias de vida, de uma forma que ela acreditasse que realmente estava fazendo a coisa certa, que estava ajudando a salvar aquelas crianças e que não estava conscientemente manipulando toda uma situação.”
Com um rigor técnico que a faz conceber planos simetricamente perfeitos, Hausner basicamente cria uma fábula de casa de bonecas bizarra, onde os elementos cenográficos denotam uma sensação de ambientes perfeitos que camuflam vidas infelizes de famílias que promovem uma fachada de comerciais televisivos.
Sobre esta estética particular, refletida no guarda-roupa de Tanja Hausner, no desenho de produção de Beck Rainford e na fotografia de Martin Gschlacht, a realizadora define que “há um exagero humorístico em Clube Zero. De repente, você percebe detalhes, como uma flor em uma blusa, e isso o leva a pensar sobre o processo de tomada de decisão criativa. Acho isso interessante, pois preserva a capacidade do espectador de acompanhar. Eu gosto quando um filme deixa lacunas e espaço para seus pensamentos. É um dos elementos que tornam a experiência de assistir muito prazerosa.” Com informações da Assessoria de Comunicação da Pandora Filmes.