Campanha Julho Verde reforça a conscientização e prevenção do câncer de cabeça e de pescoço
Hélio Francisco da Costa trabalhava como pedreiro quando começou a apresentar rouquidão constante. “O tempo foi passando e meus colegas sempre me dizendo que não era normal e que eu deveria procurar um médico. Quando eu finalmente fui consultar, tive a notícia que estava com câncer de laringe”, conta ele, que descobriu a doença há três anos.
O tratamento incluiu sessões de radioterapia e cirurgia. “No início foi muito difícil, eu ficava muito nervoso, pois tentava me comunicar com as pessoas, mas somente a minha irmã me entendia, já que com a retirada das cordas vocais eu não podia mais falar”, lembra.
Ele foi um dos 13 pacientes do Hospital Alberto Cavalcanti (HAC), que receberam uma laringe eletrônica em 2023. Um ano depois, Seu Hélio, que ainda frequenta a unidade para consultas regulares de acompanhamento, só tem a agradecer. “Agora está muito bom, melhorou 100%. Me comunico com qualquer pessoa, sem nenhum problema”, afirma feliz.
O Hospital Alberto Cavalcanti, da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), foi o primeiro hospital público estadual a entregar laringes eletrônicas. O investimento total foi de R$ 50 mil na compra das 20 primeiras unidades do equipamento.
Em 2024, oito novas laringes eletrônicas já foram entregues e outras duas estão previstas para os próximos dias.
“Todos os pacientes que foram submetidos a tratamentos que resultaram na retirada completa das cordas vocais – laringectomia total – são elegíveis ao uso de laringe eletrônica. Isto melhora a qualidade de vida dos pacientes e familiares, principalmente daqueles com dificuldades de comunicação escrita”, afirma o médico cirurgião Guilherme de Souza Silva, coordenador do Serviço de Cirurgia de Cabeça e Pescoço do HAC.
Julho Verde
Neste mês, a campanha Julho Verde intensifica os alertas sobre a importância da prevenção e da detecção precoce do câncer na região da cabeça e pescoço, que atinge órgãos como boca, língua, gengivas, faringe, laringe, esôfago, tireóide, cavidade nasal, seios paranasais e glândulas salivares.
Entre o período de 2019 e 2024 foram registrados em Minas Gerais mais de 22,7 mil casos e 8.645 óbitos por causa desse tipo de câncer.
Dentre as neoplasias de cabeça e pescoço, o câncer de lábio e cavidade oral estão entre os mais prevalentes. Entre 2019 e 2024 foram diagnosticados 3.504 casos do câncer de orofaringe e 2.976 casos da doença na língua e mais de 30 mil internações associadas ao câncer de cabeça e pescoço. Cerca de 66% delas estavam relacionadas ao câncer de boca.
Esse é o quinto tipo de câncer mais incidente no Brasil, mas seu índice de cura pode chegar a 90% se tratado precocemente. “Quando o diagnóstico é feito na fase inicial da doença, as chances de cura são muito altas”, destaca o médico cirurgião.
Fatores de risco e prevenção
Esse tipo de câncer atinge, em sua maioria, homens acima de 50 anos. Todavia, o médico alerta para o crescimento do número de mulheres acometidas pela doença, que é causada, em grande parte, pelo consumo exagerado de cigarros e bebidas alcoólicas. O número de casos em fumantes chega a ser de duas a três vezes maior que entre não fumantes.
“Há alguns anos, a proporção era de 11 homens para cada mulher. Hoje, com o aumento no número de mulheres fazendo uso de álcool e cigarros, essa proporção diminuiu e temos três homens para cada mulher com a doença”, ressalta Guilherme de Souza Silva.
Além disso, outros fatores de risco são o uso de cigarros eletrônicos ou de narguilé, exposição ao sol sem proteção, que representa risco importante para o câncer de lábio, e infecção pelo vírus HPV, que está relacionada a alguns casos de câncer de orofaringe quando transmitida por sexo oral.
“A principal forma de prevenção é não fumar nem consumir bebidas alcoólicas. Além disso, a vacina contra HPV também ajuda a prevenir”, afirma o médico.
Diagnóstico
Os cânceres de cabeça e pescoço afetam as partes superiores ou iniciais das vias respiratórias e digestivas, sendo o câncer de boca o mais comum. Os primeiros sinais de que algo pode estar errado são feridas na boca e garganta que não cicatrizam, dificuldade e dor para engolir e alterações na voz, podendo surgir ainda nódulos no pescoço e sintomas como falta de ar.
“Diante de qualquer lesão no lábio e na cavidade oral que não cicatrize em até 15 dias a orientação é procurar atendimento em uma unidade básica de saúde para avaliação com um profissional cirurgião-dentista, que vai realizar o exame clínico da boca e, se necessário, o encaminhamento para biópsia para estabelecimento do diagnóstico”, destaca a coordenadora de Saúde Bucal e Ações Integradas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Jacqueline Silva Santos.
Segundo ela, as biópsias podem ser realizadas nas unidades básicas de saúde pelo cirurgião-dentista ou nos Centros de Especialidades Odontológicas.
“Além disso, as pessoas com maior risco para desenvolver câncer de boca, como os fumantes e etilistas, devem fazer visitas periódicas ao cirurgião-dentista para um cuidadoso exame de rotina, pois as chances de cura são maiores nas fases iniciais da doença e quando o tratamento é adequado e oportuno”, orienta.
“Os casos considerados urgentes e de alta suspeição para o câncer de boca devem ser encaminhados diretamente às Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) ou aos Centros de Assistência Especializada em Oncologia (Cacon) para confirmação diagnóstica”, explica Jacqueline Silva Santos.
Tratamento
O Sistema Único de Saúde (SUS) oferece tratamento tanto para quem quer parar de fumar, por meio do Programa Nacional de Controle do Tabagismo nas Unidades Básicas de Saúde (UBS), quanto para quem foi diagnosticado com a doença, por meio das Unidades de Assistência de Alta Complexidade em Oncologia (Unacon) e Centros de Assistência Especializada em Oncologia (Cacon).
Essas unidades realizaram o tratamento para o câncer de cabeça e pescoço, com atendimento integral e gratuito para todos os cidadãos, por meio de profissionais cirurgiões, oncologistas, radioterapeutas, dentistas, fonoaudiólogos e nutricionistas, visando oferecer o melhor cuidado possível aos pacientes. O tratamento pode variar de acordo com o estágio do câncer, a localização específica e a saúde geral do paciente.
Atualmente, em Minas Gerais, o tratamento do câncer de cabeça e pescoço é realizado em 17 municípios e são responsáveis pela demanda de todo o estado. Nos últimos 12 meses (de maio de 2023 a abril de 2024), foram realizados 8.471 procedimentos relacionados ao câncer de cabeça e pescoço, sendo 1.356 cirurgias, 5.305 quimioterapias e 1.810 radioterapias.
Confira a localização das Unacon e Cacon no estado.
Referência
O Hospital Alberto Cavalcanti é referência na oncologia com atendimento 100% pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em média, são realizadas 166 consultas e 37 cirurgias por mês na unidade, somente pelos cirurgiões de cabeça e pescoço. Entre elas, estão tireoidectomias (retirada da tireoide), glossectomias (retirada de parte ou toda a língua), laringectomias (retirada das cordas vocais), linfadenectomias cervicais (retirada dos linfonodos do pescoço), além de biópsias para diagnósticos.
O tratamento é realizado por uma equipe multidisciplinar, composta pelos profissionais da cirurgia de cabeça e pescoço, oncologia clínica, fonoaudiologia, enfermagem, serviço social, psicologia, nutrição, terapia ocupacional e fisioterapia.
“Cada paciente tem seu tratamento definido e realizado, com ou sem cirurgia. Após o tratamento oncológico específico, é feito um acompanhamento regular do paciente na unidade”, informa o médico cirurgião Guilherme de Souza Silva.
As consultas acontecem às segundas, terças, quintas e sextas-feiras e são realizadas por meio de agendamentos, que podem acontecer por encaminhamento das unidades de saúde, pela Comissão Municipal de Oncologia ou por matriciamento (quando o paciente está internado em outra unidade da Rede Fhemig e é diagnosticado ou possui suspeita de câncer). Além disso, o HAC oferece serviço de pronto-socorro 24 horas, todos os dias da semana, para os pacientes. Com Agência Minas