Ascensão da tensão no Oriente Médio: a rivalidade entre Israel e Irã sob o microscópio
O mundo observa com apreensão os recentes acontecimentos no Oriente Médio. Desde a noite de 12 de junho (horário de Brasília), os bombardeios israelenses contra centrais nucleares, instalações militares e cidades iranianas reacenderam o temor de uma nova guerra na região. As retaliações do Irã intensificam o receio de uma escalada que pode culminar no uso de armas nucleares, com potencial para se espalhar globalmente.
Para especialistas ouvidos pela Agência Brasil, a raiz do conflito entre Israel e Irã reside na disputa por maior influência na região. De um lado, Israel, um país cercado por adversários, tem expandido seus assentamentos em territórios palestinos e é acusado de genocídio na Faixa de Gaza. Do outro, o Irã, uma nação muçulmana xiita, tem sido um histórico financiador de grupos que se opõem ao Estado israelense.
Ronaldo Carmona, professor de Geopolítica da Escola Superior de Guerra (ESG), sugere que Israel identificou uma “janela de oportunidades” para enfraquecer o Irã, mesmo em meio a desafios internos no governo de Benjamin Netanyahu. Carmona destaca o projeto expansionista de Israel no Oriente Médio. “O que a gente pode concluir dessa situação toda é que exatamente o Netanyahu está observando essa janela de oportunidades para realizar o seu projeto do Grande Israel, ou seja, de uma expansão territorial de Israel e de enfraquecimento dos seus adversários em todo o Oriente Médio. Ele está levando a cabo esse projeto, ainda que numa situação política precária”, explica.
O “Eixo de Resistência” iraniano e a questão nuclear em foco
O professor Carmona lembra que o Irã tem liderado por décadas o que é conhecido como o eixo de resistência islâmica a Israel. Ele aponta que esse eixo está fragilizado após uma série de reveses nos últimos anos, muitos deles, segundo ele, patrocinados por Israel. “O eixo de resistência é exatamente esse conjunto de forças islâmicas aliadas, lideradas por Teerã, que inclui o Hamas, o Hezbollah, os houthis no Iêmen, milícias iraquianas e incluía o antigo governo sírio de Bashar al-Assad. Isso perdurou por décadas”, ressalta.
Carmona acrescenta que a destruição da capacidade do Hezbollah no sul do Líbano e a colaboração com a Turquia para derrubar o governo de Assad na Síria, somadas a episódios anteriores de confrontos e o “acidente de helicóptero bastante atípico” que vitimou o presidente iraniano em 2024, criaram um cenário propício para a ação de Netanyahu, apesar de sua situação política interna delicada.
O programa nuclear iraniano é um dos pretextos para o atual conflito. Uma resolução aprovada em 12 de junho pelo Conselho de Governadores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) acusa o Irã de não cumprir suas obrigações de salvaguardas, que permitem a inspeção das instalações para evitar o desenvolvimento de armas atômicas.
O diretor-geral da AIEA, Rafael Grossi, informou que o Irã estaria enriquecendo urânio a 60% e possuiria um estoque de 400 quilos de urânio enriquecido. A resolução foi aprovada por uma margem apertada: 19 dos 35 países votaram a favor. No dia seguinte, 13 de junho, Israel atacou o Irã, causando danos a instalações nucleares e fábricas de armamentos e resultando na morte de militares e cientistas. O Irã prometeu retaliar, agravando a crise regional.
A guerra de narrativas sobre o arsenal atômico
Israel alega que Teerã está desenvolvendo bombas atômicas para uso contra Tel Aviv. O Irã, por sua vez, nega as acusações, afirmando que sua tecnologia nuclear tem fins exclusivamente pacíficos, como a produção de energia. É importante notar que Israel é um dos poucos países do mundo que não assinaram o Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP).
O Irã, signatário do TNP, nega ter violado seus compromissos com a AIEA. Teerã sustenta que a agência está envolvida em uma campanha “politicamente motivada”, influenciada por Grã-Bretanha, França, Alemanha e Estados Unidos, sob a pressão de Israel.
Bruno Lima Rocha, jornalista e cientista político especializado em Oriente Médio, contesta as acusações contra o Irã. “A AIEA tem mais visitas ao Irã do que todos os países somados. O Irã permite a inspeção e tem um compromisso diplomático desde 2015 de não desenvolver armas nucleares, mas usar a tecnologia para fins específicos, como o desenvolvimento de radioisótopos para a medicina nuclear”, explica. Ele complementa que “quem nunca assinou o TNP e nunca foi fiscalizado é Israel. O general Colin Powell, que comandou a primeira invasão ao Iraque [em 2003] e era de confiança da Família Bush, diz que Israel deve ter cerca de 200 ogivas [nucleares] com mísseis”. Com informações da Agência Brasil