População LGBTQIA+ de Pará de Minas recebe atendimento de saúde especializado

Pará de Minas deu um importante passo para avançar no respeito à diversidade de sua população LGBTQIA+. O município é um dos poucos do país a contar com profissionais especializados e um centro público de saúde específico para o atendimento a essa parcela da população. O Centro de Atenção à Saúde LGBTQIA+, que atende cerca de 140 pacientes por mês, é fruto do Projeto Transformação, coordenado pela Secretaria Municipal de Saúde e apoiado pela Vale, através do Programa Ciclo Saúde.

Desde 2011, a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBT), instituída pelo Ministério da Saúde, garante o direito à saúde integral, humanizada e de qualidade no Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, estudos mostram que a rotina ainda está longe dessa realidade. Uma pesquisa com os alunos da área da saúde da Universidade Federal do Paraná demonstrou que 59,6% deles nunca haviam estudado nenhum assunto relacionado com saúde da população LGBTQIA+ e 61,5% nem sequer conheciam a Política Nacional de Saúde Integral LGBT.

O despreparo dos médicos, somado à falta de empatia por parte da equipe, é uma queixa recorrente dos pacientes LGBTQIA+. “O sistema público de saúde não está preparado para lidar com as diferenças. Eu tenho muitas amigas que não procuravam atendimento porque se sentiam intimidadas, morriam de vergonha. Coisas simples, como o respeito pelo nome social, muitas vezes não acontecem”, relata Gabriela Faria Dias, mulher trans moradora de Pará de Minas. Ela acredita que muitos profissionais não têm orientação para lidar com as necessidades específicas da população LGBTQIA+.

Desde a inauguração, Gabriela Faria Dias é atendida pelo Centro de Atenção à Saúde LGBTQIA+ de Pará de Minas. Ela conta que sua relação com a Atenção Básica de Saúde mudou bastante. “É um privilégio contar com profissionais que nos atendem e nos acolhem dessa forma”, conta. Gabriela frequenta o espaço semanalmente para a realização de tratamento hormonal, acompanhamento psicológico e assistência para a troca de seu nome de registro.

Para desenhar o Projeto Transformação, a equipe da Secretaria Municipal de Saúde realizou um mapeamento de demandas em conjunto com a Associação Diversidade, que atua no município. Apesar de não haver dados oficiais sobre o tamanho da população LGBTQIA+ no Brasil, “estima-se uma proporção entre 5% e 15% do número total de habitantes do país. Considerando isso, chegamos a aproximadamente 9 mil pessoas LGBTQIA+ no município de Pará de Minas”, informa a assistente social do projeto, Adriana Maria de Oliveira Pereira.

Ela explica que “o principal objetivo da iniciativa é propiciar atendimento integral às necessidades de saúde da população LGBTQIA+, principalmente àquela parcela que não tem acesso aos serviços de saúde”. Para isso, além da infraestrutura completa do centro de atendimento – comum a todas as Unidades Básicas de Saúde (UBS) do município – o projeto apostou na capacitação profissional de sua equipe multidisciplinar.

O Programa Ciclo Saúde chega para apoiar a evolução desse projeto tão importante para a comunidade de Pará de Minas. Desde o ano passado, atuamos no apoio à gestão e à capacitação dos profissionais envolvidos”, conta Juliana Bahia, gestora do Ciclo Saúde na Reparação da Vale.

A ideia é que a equipe capacitada seja multiplicadora e leve os conhecimentos adquiridos aos profissionais das outras unidades da rede municipal de saúde. “Queremos que todas as UBSs sejam pontos de referência para a população LGBTQIA+. Nosso objetivo é que as pessoas que trabalham na atenção primária estejam preparadas para receber essa comunidade, acolher e saber conduzir sem nenhum tipo de preconceito”, afirma a Coordenadora Distrital Atenção Básica, Mariana Guimarães Viegas.

As ações do Ciclo Saúde para o fortalecimento do Projeto Transformação devem ser concluídas em dezembro deste ano. Até o momento, foram realizadas quatro reuniões técnicas para a modelagem do formato, do conteúdo e da estratégia a ser adotada, duas oficinas de formação para gestores e uma para agentes multiplicadores – outras duas devem acontecer ainda em julho. “É muito importante ter contato com profissionais que já atuam nesse âmbito há mais tempo. É uma troca de experiências muito rica, que tem agregado muito para nossa equipe”, conta Mariana.

Todos os conteúdos programáticos, recursos técnicos e atividades abordadas nas oficinas serão sistematizados no guia “Apoio à Promoção da Saúde LGBTQIA+ na Atenção Básica em Pará de Minas”, que será usado na formação dos profissionais da Rede de Atenção Básica do município. As UBSs que participarem receberão o selo “Unidade Amiga LGBTQIA+”

O Ciclo Saúde vai apoiar ainda a criação de um portfólio que será usado no processo de articulação com empresas e instituições locais, visando à melhora da empregabilidade do público LGBTQIA+. Àquelas que aderirem à proposta, serão oferecidas formações sobre a temática e concedido o selo “Empresa Amiga LGBTQIA+”.

A última etapa do programa consiste no intercâmbio entre gestores, profissionais do Projeto Transformação e nomes com atuação destacada na temática LGBTQIA+ no cenário nacional para a troca de experiências e valorização das boas práticas voltadas à saúde integral da população LGBTQIA+.

O ciclo saúde contribui significativamente para o nosso trabalho. Através das palestras e atividades de formação, conseguimos enxergar novas possibilidades de atuação”, conclui Adriana.

Vale / Divulgação

Ciclo Saúde
O Ciclo Saúde é uma tecnologia social desenvolvida pela Fundação Vale. Desde 2019, vem sendo utilizado também para o fortalecimento da Atenção Básica em comunidades impactadas pelo rompimento da Barragem de Brumadinho e territórios evacuados.

Em 2021, as 76 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) de Itabirito, Barão de Cocais, Nova Lima (São Sebastião das Águas Claras), São Joaquim de Bicas, Paraopeba, Pará de Minas, Pompéu e Inhaúma receberam 1,3 mil novos equipamentos para atenção primária de saúde da população. Essa foi a segunda entrega realizada pelo Programa Ciclo Saúde nesses municípios e incluiu equipamentos tecnológicos (computadores, tablets e roteadores), mobiliário (cadeiras, mesas, projetores, televisores e ventiladores) e itens voltados ao atendimento à saúde, a exemplo de macas, termômetros, caixa térmica de vacina, oxímetros, e cadeiras para coleta de sangue.

Também este ano, o programa ampliou sua abrangência, passando a contemplar mais quatro cidades: Fortuna de Minas, Morada Nova de Minas, Papagaios e Pequi, todas localizadas na região da Bacia do Paraopeba. Com a nova parceria, a Vale passa a impactar positivamente a Rede de Atenção Básica de Saúde de 15 localidades.

Já são 1.255 profissionais de saúde capacitados, 143 Unidades Básicas de Saúde (UBS) atendidas e mais de 4,5 mil equipamentos doados. O programa reforça o compromisso da Vale com a reparação integral e o bem-estar das comunidades atingidas.

Eixos de atuação do programa
O Ciclo Saúde atua em três principais frentes. O eixo “Equipagem” contempla o fornecimento de instrumentos e mobiliários para fins de aperfeiçoamento do diagnóstico e da prática clínica, aumentando a resolutividade nos atendimentos e o cumprimento do direito à saúde nos territórios.

O eixo “Promoção e Educação em Saúde” qualifica multiplicadores e profissionais de saúde que atuam nas equipes de Estratégia de Saúde da Família (ESF) em temas de atenção, prevenção e promoção da saúde.

Já a frente de “Apoio à Gestão da Atenção Básica” reforça a capacidade da gestão local (Secretarias Municipais de Saúde), incluindo o aperfeiçoamento dos processos de trabalho e das práticas implementadas, bem como o apoio à informatização e à gestão integrada da informação para suporte, controle e organização dos serviços.

Territórios onde o Ciclo Saúde atua
Brumadinho, Mário Campos, Sarzedo, Itabirito, Barão de Cocais, Nova Lima (Macacos), São Joaquim de Bicas, Paraopeba, Pará de Minas, Pompéu, Inhaúma, Fortuna de Minas, Morada Nova de Minas, Papagaios e Pequi.

Raio-X do Ciclo Saúde
– 1255 profissionais de saúde capacitados nos temas de atenção, prevenção e promoção da saúde;
– 631 horas de formação;
– 127 oficinas já realizadas;
– Cerca de 4,5 mil equipamentos entregues entre itens para atendimento, como macas, termômetros, nebulizadores, otoscópios, eletrocardiógrafos, ultrassom odontológico, mobiliário e tablets;
– 143 Unidades Básicas de Saúde (UBSs) atendidas. Com informação da Assessoria de Comunicação da Vale

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