Inovação sustentável: lançado fertilizante para plantas urbanas a partir de resíduo avícola
A Embrapa Solos (RJ) desenvolveu um fertilizante inovador que promete simplificar a vida de quem cultiva plantas em vasos ou pequenos jardins em áreas urbanas. O produto, além de ser de fácil uso, oferece uma solução sustentável para um resíduo ambientalmente desafiador: a cama de aviário. Atualmente, a instituição busca parcerias com a iniciativa privada para viabilizar a produção e comercialização em larga escala, levando aos consumidores um insumo completo, de aplicação simplificada e com forte apelo ecológico.
O novo fertilizante é resultado de uma combinação de cama de aviário com fontes minerais de macro e micronutrientes. Apenas meio quilo do produto é suficiente para ser utilizado em seis vasos por um período de dois a três meses, destacando sua eficiência e praticidade. Seu design facilita o manuseio e a aplicação, minimizando riscos de superdosagem e contato direto com as plantas.
Uma das características mais importantes do insumo é sua liberação lenta, que combate a lixiviação – um processo que resulta na perda de nutrientes. A fórmula balanceada contém macro e micronutrientes em fontes solúveis, e a utilização do resíduo da produção avícola como ingrediente principal promove o uso sustentável desse material, que é considerado um passivo ambiental, alinhando-se à Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Parceria estratégica para levar a tecnologia ao mercado
Gizelle Bedendo, chefe-adjunta de Transferência de Tecnologia da Embrapa Solos, explica que a instituição busca uma empresa ou startup com foco em bioeconomia e economia circular para explorar comercialmente o fertilizante. A parceria permitiria que o produto fosse comercializado com o selo de Tecnologia Embrapa. “A empresa deverá ser capaz de produzi-lo em escala industrial, de maneira a atender a demanda de aquisição pelos consumidores”, afirma Bedendo. Em contrapartida, a empresa deverá criar uma marca e um nome fantasia para o produto, e será responsável pela produção, divulgação e logística, seguindo planos de negócios e marketing.
A empresa parceira deverá pagar royalties à Embrapa, cujos valores serão definidos em negociação. Essa etapa também detalhará as obrigações e contrapartidas de ambas as partes, formalizando a parceria por meio de um contrato.
O pesquisador Vinicius Benites destaca que o produto visa “satisfazer as necessidades do cliente urbano, oferecido em pequenas embalagens, um fertilizante completo com um preço competitivo e obtido a partir de reciclagem”. Ele reforça que a cama de aviário não aproveitada pode ser descartada no meio ambiente, e muitos clientes valorizam soluções que evitem esse problema, alinhando-se à visão da bioeconomia.
O teor de nutrientes foi calculado para que um dosador plástico, incluído na embalagem, contenha a quantidade ideal para um vaso de dois quilos, o tamanho médio identificado em pesquisa com consumidores. Em ensaios laboratoriais, o fertilizante granulado demonstrou excelente eficiência agronômica. Um protótipo foi desenvolvido, composto por um kit com embalagem de papel reciclável de 500 gramas, um cachimbo dosador e instruções de uso. Esse protótipo foi validado por 40 potenciais consumidores após um processo de design thinking com 50 pessoas. A área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Solos aponta que, embora existam outros produtos para adubação em vasos no mercado, nenhum é um fertilizante organomineral granulado balanceado nutricionalmente como o desenvolvido.
Olhar do consumidor e a superação do odor
A aplicação do design thinking foi crucial para que os pesquisadores compreendessem as expectativas do consumidor final. “Nós já desenvolvemos fertilizantes organominerais em nossos laboratórios desde 2010. Mas para esse produto, nós queríamos entender melhor o consumidor e suas características, para fazer um produto o mais personalizado possível”, explica Benites. Após questionários com mais de 200 pessoas, chegou-se a uma “persona”: uma mulher, moradora de apartamento, com filho, que possui plantas mas não é especialista no assunto, e que tem forte foco em ecologia, reciclagem e preocupações ambientais.
Com base nessa persona, o processo de design thinking detalhou o produto, desde a escolha da embalagem em papel Kraft reciclado e de tamanho reduzido, até o formato granulado do fertilizante, com odor controlado e todos os macro e micronutrientes na composição, considerando a falta de conhecimento aprofundado do usuário sobre nutrição de plantas.
Uma atenção especial foi dedicada ao odor do produto, para que não atraísse animais domésticos nem incomodasse os usuários, já que a matéria-prima principal são dejetos de aves. “Foi adicionado um extrato de fumaça que repele animais, como gatos e cachorros, muito comuns no ambiente urbano. Também era desejável que o adubo não tivesse cheiro, já que será utilizado em casas e apartamentos. Então corrigimos o odor, baixando o pH e adicionando essa substância”, relata Benites.
Fertilizantes organominerais: sustentabilidade e benefícios para o solo
Fertilizantes organominerais combinam componentes minerais com material orgânico, como a cama de frango utilizada nesta formulação. A legislação brasileira exige concentrações mínimas de nutrientes como nitrogênio, fósforo, potássio e carbono orgânico para que um fertilizante seja classificado como organomineral.
Os principais componentes orgânicos empregados atualmente na produção de fertilizantes organominerais são resíduos da agroindústria, sobretudo dos setores sucroalcooleiro, e estercos de bovinos, suínos e aves. A correta destinação desses rejeitos é crucial, pois, se não forem tratados adequadamente, podem ser prejudiciais ao meio ambiente.
Além do aproveitamento e destinação correta de resíduos, o uso desse tipo de fertilizante melhora as propriedades biológicas do solo devido à adição de matéria orgânica, o que traz benefícios adicionais às plantas através do aumento da eficiência na absorção de nutrientes. Com informações da Embrapa