Brasil pressiona por nova PrEP de longa duração e transferência de tecnologia contra HIV/Aids
O Ministério da Saúde do Brasil reafirmou seu compromisso com a busca por estratégias inovadoras e tecnologias de prevenção contra o HIV/Aids, destacando a intenção de negociar a incorporação de um medicamento de longa duração no Sistema Único de Saúde (SUS). O anúncio foi feito pelo ministro Alexandre Padilha ontem (1º), Dia Mundial de Luta contra a Aids.
Negociação por Lenacapavir: A PrEP a cada seis meses
A principal aposta do governo é o lenacapavir, um medicamento injetável, desenvolvido pela farmacêutica Gilead, que representa um novo horizonte na Profilaxia Pré-Exposição (PrEP) ao HIV. Sua grande vantagem é a forma de aplicação: apenas uma injeção a cada seis meses.
Essa formulação de longa duração, que ainda aguarda registro sanitário no país, tem o potencial de substituir a abordagem preventiva atual, que exige o uso diário de comprimidos e visitas médicas constantes para renovação de receitas. Estudos clínicos já demonstraram altíssimos níveis de eficiência do lenacapavir na neutralização da infecção viral.
Prioridade na transferência de tecnologia
O ministro Padilha destacou que o Brasil não apenas busca diálogo para viabilizar o produto, mas também insiste em participar de um acordo de transferência de tecnologia.
“Queremos participar da transferência de tecnologia desse produto para o Brasil,” afirmou Padilha em Brasília, durante evento de lançamento da campanha “Nascer sem HIV, viver sem aids” e de uma exposição que celebra os 40 anos da resposta brasileira à epidemia de Aids, que integra a programação do Dezembro Vermelho de 2025.
O governo defende essa parceria como crucial, especialmente porque o produto pode ser “decisivo na profilaxia de várias populações mais vulneráveis,” como jovens, que frequentemente enfrentam dificuldades em seguir a rigorosa adesão diária exigida pela PrEP oral.
Preços e patentes: O obstáculo do acesso
A negociação acontece em um contexto desafiador. Países de renda média, como o Brasil, ficaram de fora de uma versão genérica do lenacapavir anunciada este ano, que será disponibilizada a 120 nações de baixa renda e com alta incidência do vírus.
Padilha criticou o preço praticado pela farmacêutica, que seria inviável para programas de saúde pública. Nos Estados Unidos, o custo anual projetado do tratamento ultrapassa 28 mil dólares por pessoa.
“O que está sendo proibitivo é que a empresa quer um preço absolutamente impraticável para programas de saúde pública,” disse o ministro, argumentando que a inovação, que recebeu subsídios do governo americano, deveria ter um acesso mais amplo, pois a exclusão de países de renda média compromete a resposta global à pandemia.
Em caso de impasses nos acordos, Carla Almeida, representante da Articulação Nacional de Luta contra a Aids, defendeu que o governo considere o licenciamento compulsório e a quebra de patentes para proteger o parque industrial nacional e garantir o desenvolvimento de novas tecnologias preventivas.
Brasil avança em metas e reduz mortalidade
Enquanto busca novas tecnologias, o Brasil celebra importantes avanços nas políticas de prevenção e tratamento, que agora incluem a PrEP e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), além da distribuição de preservativos.
Aumento na PrEP: O número de usuários da PrEP cresceu mais de 150% desde 2023, atingindo 140 mil pessoas que utilizam a abordagem diariamente.
Melhora no Tratamento: Mais de 225 mil pacientes utilizam o comprimido único de lamivudina mais dolutegravir, um esquema de alta eficácia que facilita a adesão e melhora a qualidade de vida.
Metas Globais: O país cumpriu duas das três metas globais 95-95-95, que visam que 95% das pessoas vivendo com HIV conheçam o diagnóstico, 95% delas estejam em tratamento e 95% das tratadas alcancem supressão viral.
Queda nos Óbitos: Pela primeira vez em três décadas, o número de óbitos por aids no Brasil ficou abaixo de 10 mil, registrando uma queda de 13% entre 2023 (mais de 10 mil) e 2024 (9,1 mil), de acordo com o boletim epidemiológico.
Transmissão Vertical: O ministro Alexandre Padilha antecipou que, ainda em dezembro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) deverá confirmar o reconhecimento de que o Brasil eliminou a transmissão vertical do HIV (da mãe para o bebê) como um problema de saúde pública. O Brasil será o maior país do mundo a alcançar esse marco. Com informações da Agência Brasil


