Lula no Vale do Jequitinhonha em MG: “Vim para reconhecer os saberes do povo dessa região”

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva marcou presença nesta quinta-feira, 24 de julho, em Minas Novas, no Vale do Jequitinhonha (MG), para uma série de anúncios e investimentos que buscam fortalecer políticas públicas para povos indígenas, quilombolas e a população do campo. O evento, carregado de simbolismo e com foco na reparação histórica, englobou ações em educação, igualdade racial, direitos humanos e desenvolvimento regional. Dentre as principais medidas, destacam-se a construção de 249 novas escolas para comunidades indígenas e quilombolas, no âmbito do Novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e 22 obras emergenciais em territórios Yanomami e Ye’Kwana.

Durante a cerimônia, Lula reforçou o significado da visita. “Hoje eu venho aqui fazer uma coisa que eu acho mais sagrada. Reconhecer os saberes do povo dessa região. Reconhecer o valor dos indígenas. Reconhecer o valor dos quilombolas. Reconhecer os valores das mulheres. Reconhecer os valores daquelas pessoas que trabalham de sol a sol para construir a sua própria vida, a cidade e a região”, afirmou o presidente. Ele também enfatizou a importância de políticas públicas educacionais para transformar realidades historicamente marcadas pela exclusão, usando sua própria trajetória como exemplo de superação. “Que uma quilombola possa ser doutora, possa fazer mestrado, possa fazer pós-graduação e possa ser o que quiser. A história nos ensina isso. E eu sou o melhor exemplo desse país. Não tem exemplo melhor do que o meu”, declarou.

Articulação interministerial e políticas estruturantes para a educação
A agenda presidencial integrou o I Encontro Regional de Educação Escolar Quilombola do Sudeste, evidenciando um diálogo direto e a articulação entre diversos ministérios com as comunidades locais. A ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, celebrou o momento como histórico, destacando que “hoje está sendo feita a maior entrega de todos os tempos para a educação escolar indígena. Todas as entregas que aqui estão sendo anunciadas não são apenas simbólicas, são políticas estruturantes”. Ela enfatizou que o Governo Federal está criando ferramentas para superar a exclusão de grupos marginalizados ao longo da história.

Camilo Santana, ministro da Educação, sublinhou o poder da educação como ferramenta de transformação social e a força dos territórios tradicionais. “A educação é o caminho mais potente para transformar o Brasil. E é no Vale do Jequitinhonha, esse território fértil de cultura, história e esperança, que semeamos hoje um futuro de justiça social, equidade e dignidade para todas as nossas crianças e jovens”, disse.

Durante o evento, foram assinadas portarias que instituíram a Política Nacional de Educação Escolar Indígena e a Política Nacional de Educação do Campo, das Águas e das Florestas (Novo Pronacampo). Também foram anunciadas iniciativas como o Programa Escola Nacional Nego Bispo e a criação da moradia estudantil do Campus Quilombo Minas Novas, do IFNMG. A ministra dos Direitos Humanos e Cidadania, Macaé Evaristo, ressaltou: “Não é qualquer educação, é uma educação encarnada na vida: é a educação escolar quilombola, indígena, do campo, das águas e das florestas”.

A Política Nacional de Educação Escolar Indígena, baseada nos Territórios Etnoeducacionais, visa proporcionar uma educação bilíngue e intercultural, respeitando as particularidades de cada povo. Para o educador indígena Gersem Baniwa, essa é uma conquista coletiva. “Seguiremos firmes na luta por nossos direitos de viver com dignidade, sendo a educação a nossa principal arma, guiados por nossas ancestralidades e alimentados por sonhos coletivos”, pontuou.

O Novo Pronacampo, originalmente criado em 2013 na gestão anterior de Lula, foi reformulado para fortalecer a educação nesses contextos específicos. “Precisamos fazer chegar a educação comprometida com a soberania e com a democracia em todos os rincões do Brasil. A educação do campo tem apenas 27 anos, mas já tem acumulado frutos da articulação de sujeitos diversos”, afirmou Walter de Jesus Leite, representante do Fórum Nacional de Educação do Campo.

Anielle Franco, ministra da Igualdade Racial, reforçou o compromisso com as pautas sociais e os projetos construídos durante a gestão do presidente. “Essa minha lealdade reconhece muito a luta dos povos quilombolas, dos povos indígenas e dos mais pobres deste país. Foi com esse espírito que reformulamos a lei de cotas, incluindo os quilombolas e indígenas”, relembrou.

Campus Quilombo e programa Nego Bispo: valorização da cultura e saberes ancestrais
O evento também marcou o progresso das obras do novo Campus Quilombo Minas Novas do IFNMG, que recebe um investimento de R$ 25 milhões do Novo PAC e atenderá prioritariamente comunidades quilombolas e tradicionais da região. Janaína Costa, representante do Quilombo Macuco, expressou a riqueza do Vale do Jequitinhonha: “Na dinâmica do Vale do Jequitinhonha, que por muito tempo foi conhecido como o Vale da Miséria, eu acho que podemos ver que aqui de miséria a gente realmente não tem nada. O que a gente tem aqui é uma abundância cultural. A gente tem uma pluralidade aqui que é tremenda e que muitas vezes fica invisibilizada”.

Batizado em homenagem ao renomado pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos, o programa Escola Nacional Nego Bispo visa integrar os saberes tradicionais à formação acadêmica, especialmente em licenciaturas de instituições públicas e institutos federais. A iniciativa busca garantir o pluralismo pedagógico e epistemológico, valorizando territórios e trajetórias historicamente silenciados, além de fortalecer a formação continuada de professores da educação básica e o protagonismo das comunidades locais. Com informações da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República do Brasil

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