Disparidade salarial no topo: diretores e gerentes negros recebem 34% menos que os brancos
A desigualdade racial no mercado de trabalho brasileiro se acentua nos cargos de maior prestígio e remuneração, conforme aponta a Síntese de Indicadores Sociais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada na quarta-feira (3). O levantamento, baseado em dados de 2024, revela que profissionais pretos e pardos que atuam como diretores e gerentes têm um rendimento mensal médio 34% inferior ao de seus colegas brancos.
Enquanto um diretor ou gerente branco recebe, em média, R$ 9.831 por mês, o rendimento de um profissional negro (preto ou pardo, conforme o Estatuto da Igualdade Racial e o Censo 2022) é de R$ 6.446, resultando em uma diferença de R$ 3.385. A desvantagem salarial para negros nesse topo de carreira, embora ainda alta, apresentou uma leve melhora desde 2012, quando a diferença era de 39%.
A desvantagem em todas as ocupações
A disparidade salarial é uma realidade em todos os dez grandes grupos ocupacionais analisados pelo IBGE, sendo os diretores e gerentes o grupo com o maior rendimento médio (R$ 8.721 mensais) e também com a maior diferença percentual entre as raças.
Na média geral dos dez grandes grupos, o trabalhador branco recebe R$ 4.119, contra R$ 2.484 do trabalhador preto ou pardo, o que representa uma diferença de 65,9% a mais para os brancos. A análise por hora trabalhada reforça o abismo: o branco ganha R$ 24,60 por hora, 64% a mais do que o preto ou pardo (R$ 15).
A segunda maior diferença salarial ocorre entre os profissionais das ciências e intelectuais, onde os brancos recebem R$ 2.220 a mais que os negros (R$ 7.412 contra R$ 5.192).
Apesar de ser a menor diferença entre os grupos, na categoria de Forças Armadas, policiais e bombeiros militares, a remuneração dos brancos (R$ 7.265) ainda supera a dos pretos ou pardos (R$ 6.331) em R$ 934.
O diploma não elimina a desigualdade
A pesquisa do IBGE demonstrou que a obtenção do diploma de ensino superior não é suficiente para mitigar a disparidade salarial para a população negra. Pelo contrário, a maior diferença percentual de rendimento se manifesta justamente entre os trabalhadores com ensino superior.
Entre aqueles que concluíram a faculdade, o branco ganha R$ 43,20 por hora, um valor 44,6% superior ao rendimento por hora do preto ou pardo, que é de R$ 29,90.
O pesquisador João Hallak Neto explica que, além da escolaridade, fatores como a área de atuação e a progressão na carreira influenciam a disparidade. Ele ressaltou que “não importa a graduação, importa mais como a pessoa se inseriu no mercado de trabalho, se está exercendo ocupação compatível com o nível de instrução”.
Sub-representação e informalidade
A desigualdade se manifesta também na distribuição das ocupações. Embora pretos e pardos representem 55,5% da população brasileira, eles estão sub-representados nos cargos de liderança: apenas 8,6% dos negros estão ocupados como diretores e gerentes, contra 17,7% dos brancos.
Na outra ponta, os negros estão concentrados no grupo de ocupações elementares, o de menor rendimento médio (R$ 1.454), correspondendo a 20,3% dos trabalhadores pretos e pardos, em comparação com 10,9% dos brancos.
Além disso, a população negra vivencia mais a informalidade. Enquanto a taxa de informalidade geral no país é de 40,6%, ela atinge 45,6% entre os pretos ou pardos, um índice bem acima dos 34% registrados entre os brancos. Com informações da Agência Brasil


