Itaipu avalia construção de novas turbinas com avanço do consumo de energia no Paraguai
A Usina Hidrelétrica de Itaipu, que atualmente fornece cerca de 9% da energia elétrica consumida no Brasil, está avaliando a construção de mais duas turbinas geradoras. A medida surge em resposta à crescente demanda energética do Paraguai, impulsionada em grande parte pelo aumento no uso de inteligência artificial (IA) e pela mineração de criptomoedas. A hidrelétrica binacional, que já possui 20 unidades geradoras, tem espaço físico para essa expansão.
Cenário de demanda e desafios
Segundo Enio Verri, diretor-geral da Itaipu, a ampliação é “inevitável”. No entanto, ele ressalta que a concretização do projeto dependerá de estudos técnicos, sociais e ambientais aprofundados, além da viabilidade econômica e de um acordo formal entre Brasil e Paraguai. Verri fez a declaração durante um encontro com jornalistas nas instalações da usina, que fica na fronteira entre Foz do Iguaçu (Brasil) e Ciudad del Este (Paraguai).
O diretor-geral explicou que o Paraguai se aproxima de um cenário em que consumirá toda a energia a que tem direito, o que significa que o excedente, historicamente vendido ao Brasil, deixará de estar disponível. Esse aumento da demanda paraguaia é atribuído ao crescimento econômico do país, à crescente instalação de data centers (incluindo os de IA) e à intensa atividade de mineração de criptomoedas, que exige um alto consumo de energia.
Detalhes da possível expansão
Sobre a viabilidade da construção das duas novas turbinas, Enio Verri informou que as equipes estão analisando a situação. Ele detalhou que a estrutura da barragem de Itaipu, no Rio Paraná, possui espaço físico após os vertedouros que permitiria a instalação de duas unidades adicionais.
Verri esclareceu que aumentar em 10% o número de turbinas não se traduz automaticamente em um aumento de 10% na capacidade de geração. A diferença pode ser para menos, se as novas turbinas tiverem menor produtividade, ou para mais, com o uso de tecnologias que permitam maior produção com menos recursos. Atualmente, as 20 unidades de Itaipu possuem uma potência instalada de 14 mil megawatts (MW), com 700 MW por turbina.
O diretor da hidrelétrica, contudo, não associou essa empreitada a outro estudo que prevê o aumento em um metro do nível máximo do reservatório no Rio Paraná, o que ampliaria a área alagada. “Nós temos comunidades, tem os efeitos sobre a população. Uma coisa é você construir uma usina na ditadura militar [1964-1985]. Outra coisa é você construir uma usina agora”, comentou, referindo-se ao período em que a construção de Itaipu começou, em 1974. Ele completou que um estudo estratégico dessa magnitude precisa considerar políticas ambientais, sociais e os impactos nas comunidades.
Hoje, o reservatório possui uma área de 1.350 quilômetros quadrados, uma extensão de 170 km e um volume máximo de 29 bilhões de metros cúbicos de água.

Perspectivas de longo prazo
Embora classifique a expansão como “inevitável” devido à demanda crescente, Enio Verri pondera que o projeto ainda não pode sair do papel por falta de viabilidade econômica. “Hoje não viabiliza”, afirmou, sem apontar um horizonte temporal para a execução. “Estamos discutindo só a data em que estaremos maduros o suficiente para esse investimento”, explicou, reforçando que “no setor de energia, não existe curto prazo”.
Verri acredita que, quando for concretizado, o investimento será financiado por meio de empréstimos de longo prazo de instituições de fomento, como o Banco Mundial ou o BNDES. O pagamento dessa dívida poderia ser feito por meio de uma pequena taxa na tarifa de energia elétrica.
Além da viabilidade técnica, um projeto dessa magnitude em Itaipu exigirá um acordo conjunto entre os governos e parlamentos do Brasil e do Paraguai.
A dinâmica binacional e o futuro da energia
A Usina Hidrelétrica de Itaipu é um projeto binacional estabelecido há 50 anos, com Brasil e Paraguai detendo 50% da hidrelétrica, tanto no consumo de energia quanto nas decisões e nos cargos. O tratado que rege a Itaipu determina que o excedente de energia de cada país deve ser vendido a preço de custo ao sócio vizinho. Desde 1985, quando a usina começou a gerar energia, o Brasil consumia 95% do suprimento. Em 2024, esse percentual caiu para 69%, enquanto o Paraguai consumia 31%.
O diretor-técnico paraguaio de Itaipu, Hugo Zárate, citou projeções da Administradora Nacional de Eletricidade do Paraguai (Ande) de que o país atingirá 50% do consumo da geração da hidrelétrica até 2035. Ele explicou que o crescimento da demanda nos últimos dois anos foi bastante expressivo, superando 14% no ano passado, impulsionado pela utilização intensiva de energia em empreendimentos de mineração de criptomoedas e pela presença de data centers e servidores de IA.
Outro fator que impactará a disponibilidade da energia paraguaia para o Brasil é um acordo que entra em vigor em 2027. A partir dessa data, a nação que tiver excedente poderá dar o destino que quiser à sua energia, inclusive vendê-la no mercado livre de energia brasileiro ou para um terceiro país.
Enio Verri relativiza o impacto do maior consumo paraguaio na geração total de energia no Brasil, destacando os avanços do país em outras fontes de energia renovável. “Estamos crescendo a oferta de intermitente [solar e eólica, por exemplo] também. Aliás, no Nordeste temos excesso de oferta intermitente. Então, não me parece que seja um grande problema”, avaliou. Com informações da Agência Brasil