Especialista em trânsito diz que mototáxi por aplicativo é tragédia anunciada

A crescente popularidade dos serviços de transporte de passageiros por aplicativo em motocicletas é vista por especialistas como uma “tragédia anunciada”. A afirmação é de Erivelton Guedes, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e doutor em engenharia de transporte. Em entrevista à Agência Brasil, Guedes expressou preocupação com a regulamentação desses serviços, que ele acredita poder dar uma falsa sensação de segurança. A disseminação do Uber Moto e do 99Moto, que já realizaram bilhões de viagens, tem um potencial alarmante de agravar a crise de mortalidade no trânsito brasileiro, que já tem as motos como as maiores vítimas.

O crescimento da violência no trânsito
Os dados do Atlas da Violência 2025, produzido pelo Ipea e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostram que, enquanto os homicídios diminuem, as mortes no trânsito aumentam. Em 2023, os acidentes com motocicletas já representavam um terço das mortes no trânsito, com 13.477 vítimas. O pesquisador do Ipea acredita que a disseminação do transporte por aplicativo em motos contribuirá para um aumento ainda maior nesse número.

Guedes alerta para a alta vulnerabilidade dos passageiros, que estão passivos e não têm o mesmo controle de um motociclista. A inadequação das roupas e a falta de equipamentos de segurança tanto dos condutores quanto dos passageiros também é um fator de risco que pode agravar as lesões em caso de queda.

Letalidade 17 vezes maior e falta de proteção
Antonio Meira Júnior, presidente da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), reforça a preocupação ao afirmar que a probabilidade de morte de um motociclista em um acidente é 17 vezes maior do que a de um ocupante de um carro. Motociclistas e passageiros estão expostos a impactos diretos, além de riscos como imperfeições no asfalto e outros elementos que podem causar acidentes graves. As lesões resultantes, quando não são fatais, podem causar deficiências e sequelas permanentes, alterando drasticamente a vida de toda a família.

A assistente social Erika Rogatti, de 35 anos, exemplificou essa vulnerabilidade ao sofrer uma queda em baixa velocidade que lhe causou uma fissura no dedão do pé e agravou um quadro de artrose. Ela, que utilizava o serviço por ser mais barato e prático, ainda está em recuperação após meses do acidente.

A necessidade por alternativas
O professor Glaydston Ribeiro, da Coppe/UFRJ, aponta que o crescimento do uso de motos está diretamente ligado à desigualdade na urbanização das cidades brasileiras. A falta de um sistema de transporte público de qualidade, especialmente nas periferias, leva a população mais pobre a buscar soluções individuais, mesmo que arriscadas. Ele defende que a solução não é proibir o serviço, mas sim oferecer alternativas de mobilidade que atendam à população mais vulnerável.

Procuradas pela reportagem, Uber Moto e 99Moto responderam que investem em segurança. As empresas citam medidas como verificação de identidade dos condutores, alerta de velocidade e seguros contra acidentes. Ambas também contestam que a culpa pelo aumento de acidentes seja dos aplicativos e ressaltam que o número de motociclistas cadastrados em suas plataformas representa uma pequena parcela da frota nacional de motos. Com informações da Agência Brasil

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