Desigualdade ambiental expõe falta de árvores em 2 de cada 3 domicílios de favelas

Estudo do IBGE revela que 10,4 milhões de moradores de comunidades urbanas vivem em vias sem nenhuma vegetação, contraste acentuado em relação a áreas não-faveladas. Déficit de arborização agrava o desafio do conforto térmico.

Em um cenário de crescentes debates sobre a crise climática, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou novos dados do Censo 2022 que evidenciam uma profunda desigualdade urbana no Brasil. O levantamento, parte do suplemento Favelas e comunidades urbanas: características urbanísticas do entorno dos domicílios, mostra que a maior parte dos habitantes de comunidades carece de vegetação básica: cerca de dois em cada três moradores de favelas (64,6%) residem em trechos de vias públicas onde não existe sequer uma árvore.

A disparidade territorial é gritante: nas áreas fora das comunidades, a proporção de moradores que vivem em ruas sem árvores cai significativamente para 31% (três em cada dez habitantes).

O custo da falta de verde para 10,4 milhões de pessoas
Dos 16,4 milhões de habitantes mapeados pelo IBGE em 12.348 favelas em 2022, um total de 10,4 milhões estão nessa situação de ausência de arborização.

O IBGE considerou, para a análise, apenas árvores com, no mínimo, 1,70 metro de altura localizadas em vias públicas, como becos, vielas e escadarias, excluindo a vegetação em quintais.

O chefe do Setor de Pesquisas Territoriais do IBGE, Filipe Borsani, destacou a importância direta da vegetação para a qualidade de vida. Ele ressaltou que, especialmente no contexto do aquecimento global, a arborização é uma variável crucial para o conforto térmico e a melhoria das condições do ambiente urbano.

A divulgação do estudo acontece no mesmo ano em que o Brasil sediou a COP30. Durante a Conferência, o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima lançou o Plano Nacional de Arborização Urbana, reconhecendo a necessidade de aumentar a cobertura vegetal nas cidades, que está abaixo dos patamares adequados.

Disparidade na densidade de árvores e no tamanho da comunidade
Apenas 35,4% dos moradores de favelas (o equivalente a 5,7 milhões de pessoas) têm alguma árvore próxima de casa. A análise da densidade de vegetação reforça a desigualdade.

Nas comunidades, apenas 10,5% dos moradores vivem em vias com cinco ou mais árvores.

Em contraste, fora das favelas, 33,5% dos habitantes desfrutam dessa mesma proporção de arborização nas proximidades.

A pesquisa também identificou que a proporção de moradores com árvores próximas é maior em comunidades menos populosas. Em favelas com até 250 habitantes, 45,9% dos moradores vivem perto de vegetação, mas em comunidades gigantes, com mais de 10 mil habitantes, a taxa cai para 31,8%.
Os extremos de Belém, Rio e Brasília

O estudo detalhou a situação em algumas das maiores aglomerações. A cidade de Belém, capital que sediou a COP30, apresentou um índice de falta de árvores superior à média nacional, com 65,2% dos moradores de favelas sem vegetação em frente de casa.

Ao examinar as 20 maiores favelas do país, o contraste foi mais evidente. A comunidade de Rio das Pedras, no Rio de Janeiro (quinta mais populosa), tem a pior situação, com somente 3,5% de seus quase 56 mil moradores vivendo em vias arborizadas. Em oposição, o Sol Nascente, em Brasília (a segunda maior favela), apresenta a melhor marca, com 70,7% dos domicílios próximos à vegetação.

Déficit em infraestrutura básica de drenagem
Além da vegetação, o IBGE mapeou o acesso a bueiros, infraestrutura essencial para o escoamento de águas pluviais e para a mitigação de inundações.

A pesquisa identificou que somente 45,4% dos habitantes das favelas contam com bueiros no trecho da via em que residem. Nas áreas não-faveladas, esse número sobe para 61,8%.

No que se refere à drenagem, a presença de bueiros se mostrou mais frequente nas favelas mais populosas (54,1% nas que têm mais de 10 mil habitantes) do que nas menos populosas (38% nas com até 250 habitantes). Com informações da Agência Brasil

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