População negra segue mais exposta à violência letal no Brasil. Risco de homicídio entre negros é quase três vezes maior
Ser negro no Brasil significa viver sob um risco consideravelmente maior de ser vítima de homicídio. De acordo com o Atlas da Violência 2025, lançado nesta segunda-feira (12), no Rio de Janeiro, a probabilidade de uma pessoa negra ser assassinada em 2023 foi 2,7 vezes maior do que a de uma pessoa não negra. Ainda que tenha havido leve redução em comparação a 2022, quando esse número era de 2,8, o índice representa um aumento significativo em relação a 2013, quando o risco era 2,4 vezes maior.
A publicação, produzida pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), considera como população negra o conjunto de pessoas pretas e pardas — que representam 55,5% da população nacional e enfrentam condições sociais historicamente mais adversas.
Desigualdade racial se mantém, apesar da queda geral dos homicídios
Embora o número total de homicídios no Brasil tenha caído 20,3% entre 2013 e 2023, passando para 45,7 mil mortes no último ano, a redução não se distribuiu de forma igualitária entre os grupos raciais. O estudo alerta para o agravamento das disparidades: enquanto a taxa de homicídios entre não negros recuou 32,1% (de 15,6 para 10,6 por 100 mil habitantes), entre pretos e pardos a redução foi menor, de 21,5% (de 36,8 para 28,9 por 100 mil).
Em números absolutos, 35.213 pessoas negras foram assassinadas em 2023, frente a 9,9 mil vítimas entre os não negros. O estudo enfatiza que essas diferenças refletem o racismo estrutural e a persistência de uma dinâmica de violência racializada no país.
Avanços legais ainda não rompem estrutura de desigualdade
O Atlas reconhece que houve avanços institucionais e legislativos na última década. Entre eles, a criação da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (2013), do Ministério da Igualdade Racial (2023) e leis como a 12.990/2014, que estabelece cotas raciais em concursos públicos, e a 14.532/2023, que equipara injúria racial ao crime de racismo.
Contudo, os dados revelam que a violência letal segue afetando desproporcionalmente a população negra, mesmo diante desses marcos. A análise conclui que o combate à desigualdade racial exige mais do que legislações: requer a desconstrução de estruturas sociais que reproduzem e mantêm a violência racial.
Violência contra indígenas ainda é crítica em alguns estados
O levantamento também analisa os homicídios cometidos contra indígenas. Em 2023, foram registrados 234 assassinatos de indígenas no país, o que representa uma taxa de 22,8 por 100 mil habitantes — número superior à média nacional, que ficou em 21,2.
Apesar da aproximação gradual entre as taxas ao longo da última década, a situação permanece crítica em estados como Roraima (235,3 homicídios por 100 mil indígenas) e Mato Grosso do Sul (178,7), onde os índices superam em múltiplas vezes a média brasileira.
O estudo destaca que, embora a taxa nacional tenha diminuído de forma geral, houve um aumento entre 2022 e 2023 no índice de homicídios indígenas (de 21,5 para 22,8), enquanto a taxa nacional caiu levemente no mesmo período.
Violência histórica e territorial atinge etnias específicas
Em relação a internações hospitalares decorrentes de agressões, o Atlas analisou dados entre 2013 e 2024 e identificou 1.554 internações envolvendo povos indígenas. A etnia Guarani-Kaiowá, do Mato Grosso do Sul, foi a mais atingida, com 574 registros — o que representa 36,9% de todos os casos.
Outros povos bastante afetados incluem os Kaingang (142 casos), presentes nos estados do Sul e Sudeste, e os Terena (66), com maior concentração no Centro-Oeste. O estudo aponta que a escalada de conflitos armados e agressões físicas está associada à disputa por territórios tradicionais, muitas vezes em áreas pressionadas pelo avanço do agronegócio. Com informações da Agência Brasil