Relação de confiança com o professor é vital para o propósito de vida do estudante, diz pesquisa
Um estudo inédito conduzido pelo Instituto Ânima, em parceria com o Laboratório de Estudos e Pesquisas em Educação e Economia Social (Lepes/USP), revelou o papel central do relacionamento entre professores e alunos na construção do propósito de vida dos estudantes. O levantamento, baseado em 500 mil respostas de estudantes e educadores de redes públicas de ensino de cinco estados (Minas Gerais, Goiás, Bahia, Pará e São Paulo), aponta que a confiança no adulto é um fator protetivo crucial.
O gerente-executivo do Laboratório de Inovação em Políticas Públicas Educacionais (Lippe), Gustavo Mendonça Blanco, destacou o achado principal à Agência Brasil: “O grande resultado que a gente encontra nessa pesquisa é entender que o estudante que está em contato com o professor, ou seja, que pode ter uma relação com o professor e sente confiança para ter essa relação, tem melhores indicadores de propósito de vida”.
O poder da relação com adultos
O estudo, intitulado Avaliação Diagnóstica: Pesquisa com Professores e Estudantes sobre Projeto de Vida, Saúde Mental, Clima Escolar e Competências Socioemocionais, comparou os indicadores dos jovens e concluiu que o apoio de adultos é um diferencial significativo:
Relação com o Professor: Alunos que declaram poder conversar com seus professores sobre seus sentimentos apresentam uma média de propósito de vida 16% maior em comparação àqueles que não contam com esse apoio.
Apoio Familiar: Ao se voltar para as famílias, a média de propósito de vida é 20% maior para os estudantes que se sentem à vontade para falar de sentimentos e emoções com os familiares.
“A conclusão aqui é que essa relação com os adultos é muito importante para o desenvolvimento de propósito de vida do estudante”, afirmou Blanco.
Saúde mental e fatores de risco
A pesquisa estabeleceu uma forte correlação entre saúde mental e propósito de vida. Ao comparar dois jovens com o mesmo nível de saúde mental (alto ou baixo), o estudante que relatou poder contar com o professor demonstrou uma diferença de propósito de vida 30% maior.
O trabalho também mapeou diversos fatores de risco que afetam a saúde mental dos alunos e podem, consequentemente, influenciar seu propósito de vida, tanto dentro quanto fora do ambiente escolar:
29% acreditam que os estudos prejudicam sua saúde mental.
26% já foram vítimas de bullying.
24% sentem-se pressionados a se adequar a padrões de beleza.
21% se sentem angustiados com a situação financeira em casa.
16% se sentiram sozinhos no último ano.
13% se sentem compelidos a seguir comportamentos vistos em redes sociais.
Entre os elementos que mais contribuem para o desenvolvimento do propósito de vida dos estudantes, as competências socioemocionais lideram com 54,9%, seguidas pela qualidade da relação com o docente (14,7%), saúde mental (14,5%), apoio familiar (11%) e características individuais (4,7%).
Foco nos educadores e formação continuada
Os 12,5 mil professores participantes da pesquisa também foram avaliados em cinco conceitos: propósito de trabalho, rede de apoio, autoeficácia, saúde mental e capacidade de realizar práticas pedagógicas. O estudo constatou que a saúde mental e a autoeficácia (crença na própria capacidade de executar tarefas) são os elementos que mais impactam o propósito e o engajamento do professor em seu trabalho.
Com base nesses achados, o Instituto Ânima desenvolve o projeto Papo de Cabeça (em parceria com a Fundação Z Zurich), que oferece cursos de pós-graduação e extensão sobre educação socioemocional a educadores de redes parceiras. A iniciativa busca fortalecer a comunidade escolar, promovendo a formação continuada para que os professores possam trabalhar a relação mais próxima com os estudantes em sala de aula, pois a pesquisa mostra que alunos com melhor desempenho são aqueles que veem o professor como referência.
O Instituto Ânima, que já alcançou mais de 15 mil docentes em parceria com secretarias estaduais de Educação, também está distribuindo gratuitamente o jogo Conexões que Cuidam, que utiliza brincadeiras e recursos digitais para estimular a autorregulação e o autoconhecimento de alunos dos ensinos fundamental e médio. Com informações da Agência Brasil


