Cultura da Macaúba conta agora com Zoneamento Agrícola de Risco Climático

Acaba de ser publicado a portaria com o Zoneamento Agrícola de Risco Climático (Zarc) para a cultura da macaúba no território brasileiro. Trata-se de uma palmeira capaz de produzir 5 toneladas de óleo por hectare, oferecendo matéria-prima para combustíveis renováveis, alimentos, cosméticos e medicamentos. Sua introdução no Zarc significa que serão disponibilizadas informações sobre as regiões mais avançadas para o plantio dessa palmeira.

A ferramenta classifica os municípios em diferentes níveis de risco de frustração de safra de acordo com as características climáticas, especialmente relacionados ao solo e à disponibilidade de água, em conjunto com o ciclo de desenvolvimento da espécie e as necessidades da cultura. O Zarc ajuda a minimizar os riscos relacionados às consequências climáticas adversas; com isso, subsídio técnico à concessão de crédito e seguro rural.

O Zarc da macaúba foi elaborado para três espécies de interesse econômico dessa palmeira: Acrocomia aculeata (de ocorrência predominante no Brasil Central), Acrocomia totai (noroeste do Paraná, oeste de São Paulo, Mato Grosso do Sul e Pantanal) e Acrocomia intumescens (algumas áreas do Nordeste). Os sistemas de produção foram tipificados em sequeiro e irrigados. Ainda foi elaborado o Zarc para a fase de implantação, considerando-se também as situações de sequeiro e de segurança.

Simone Favaro, pesquisadora da Embrapa Agroenergia, que coordena o Zarc Macaúba, conta que foram utilizados os riscos hídricos e térmicos e observações de área de ocorrência natural de macaúba no território brasileiro, considerando as particularidades das diferentes espécies de interesse. “A macaúba é uma cultura que está em fase de domesticação e a organização da sua cadeia e o ganho de escala estão tendo forte atração”, relata o cientista. “O Zoneamento de Risco Climático para a Macaúba traz maior segurança para os novos investimentos que estão sendo feitos, ao mesmo tempo que exige a continuação das pesquisas para o desenvolvimento de cultivares adequadas para todo o território nacional, de forma a avançar num zoneamento com base em dados experimentais e não apenas em observações de dispersão das espécies”, completa Favaro.

Participantes do Zarc Macaúba
Atuaram nesse trabalho Mauricio Lopes (Embrapa Agroenergia), Humberto Umbelino Sousa (Embrapa Meio Norte), Luiz Veras (Embrapa Algodão) e houve apoio externo dos professores Leonardo Pimentel e Sérgio Motoike, da Universidade Federal de Viçosa (UFV), e com o pesquisador do Instituto Agronômico (IAC) Carlos Colombo, além de colaboradores bolsistas da Embrapa.

Ela ressalta que ainda há poucos dados experimentais que podem cobrir todo o território brasileiro envolvendo a vasta diversidade que a macaúba apresenta. “É importante dizer que essa primeira versão do Zarc é limitada pela baixa disponibilidade de informações. Deve-se observar o zoneamento com base nas classes de solo de cada área em que se pretende estabelecer um cultivo da macaúba”, recomenda Favaro, ao informar que o sistema de produção de mudas em sequeiro com produção irrigada não está previsto no Zarc.

Por ter enorme diversidade de características fenotípicas e ocorrer de forma espontânea em boa parte do Brasil, os pesquisadores preveem que seu cultivo comercial seria apropriado em grande parte do território nacional. No entanto, os especialistas reforçam que a espécie requer certas condições de solo, de disponibilidade hídrica e de temperatura para que apresente uma produção de frutos viável para um empreendimento comercial. O Zarc, ao auxiliar na delimitação das áreas de cultivo e na adoção do sistema de produção, promove menos incertezas ao investidor e ao agente financeiro.

O processo de validação
Para chegar à publicação do Zarc, foi realizada a reunião de validação prevista pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), com a participação da equipe que elaborou o Zoneamento de Macaúba e com a comunidade externa, contando com a presença, além da Embrapa, de professores universitários , agentes de extensão, empresários do setor, pesquisadores de outras instituições científicas e de inovação tecnológica (ICTs), além de agentes do sistema bancário.

Na reunião, foram apresentados os resultados dos estudos do Zarc, contendo a metodologia, a fenologia da cultura, critérios de riscos e dados de dispersão da cultura nos biomas brasileiros para conhecimento público e discussão da proposta.

“A reunião foi bastante participativa e foram levantadas questões ligadas a aspectos técnicos do Zarc, para os quais foi necessário reforçar o objetivo como política pública de gestão de riscos e não de prejuízo agrícola. Também foi questionada a restrição em determinadas áreas de menor disponibilidade hídrica. Após considerações da equipe e ponderando o risco excessivo que estas áreas representam no sistema de produção em sequeiro, prevaleceu o entendimento de que, neste momento, o Zarc representa muito bem os riscos potenciais”, afirma Favaro.

Potencial para a produção agroenergética
A macaúba representa uma oportunidade para o Brasil ser protagonista na oferta de óleos vegetais e produtos acabados produzidos a partir deles de forma sustentável. Isso porque a palmeira pode ser produzida em áreas de pastagens com diferentes níveis de manipulação. Com isso prescinde de abertura de novas áreas, ou seja, não é necessário desmatar para que ela seja plantada. A cultura também se adapta muito bem a sistemas de produção integrados com trabalho ou pecuária permitindo intensificação do sistema produtivo.

Outra vantagem é que ela pode ser cultivada em vastas áreas do País, diferentemente da palma de óleo (dendê), restrita a regiões de floresta tropical úmida. A macaúba é matéria-prima de consideráveis ​​produtos capazes de compor uma cadeia diversificada de valor, incluindo a prestação de serviços ambientais e o mercado de crédito de carbono. Ela participa de mercados diversificados que vão desde combustíveis renováveis ​​até produtos de beleza.

No setor agroenergético, a macaúba é uma resposta para a vertiginosa demanda crescente por matéria-prima para a produção dos novos biocombustíveis – diesel verde e combustível sustentável de aviação. Além disso, há um mercado já previsto para o biodiesel, com a previsão legal de aumento da proporção na mistura do biocombustível no diesel de origem fóssil.

“Esse cenário de demanda por novos combustíveis renováveis, como parte da transição energética, é uma realidade também global e, portanto, o Brasil pode se tornar um importante fornecedor de produtos de valor agregado para o mercado internacional”, constata Favaro.

Aplicações do óleo
A macaúba produz dois tipos de óleos com propriedades distintas. O óleo de polpa, com maior teor de ácidos graxos insaturados, e o óleo de amêndoa, com maior proporção de ácidos graxos saturados. Essa diversidade de óleos permite aplicações em segmentos de alimentos, tanto para óleo de mesa quanto para fabricação de produtos fornecidos como chocolates, sorvetes, recheios, frituras e margarinas.

O mercado de cosméticos e de higiene pessoal também é um forte consumidor de óleos vegetais, por exemplo, para a formulação de xampus, sabonetes, hidratantes corporais, maquiagens, entre outros. No setor de oleoquímicos, também podem ser utilizados na produção de tintas, vernizes e lançamentos.

Oportunidades
“Há vários segmentos da cadeia que ainda precisam ser melhor desenvolvidos, desde a produção de mudas por sementes e clonagem, geração de cultivares, sistemas de produção adequados para os diferentes biomas, incluindo sequestro de carbono nos possíveis arranjos produtivos, além da parte industrial que vai desde a conservação pós-colheita do fruto, concentrado dos óleos e a destinação dos coprodutos gerados no processamento”, conta Simone Favaro.

Zarc pode estimular a produção da macaúba
O Zarc, como política pública, coloca a macaúba na lista de culturas de importância econômica e dá diretrizes mais sólidas para o seu cultivo. A percepção da sociedade de que o sistema bancário está preparado para apoiar o estabelecimento da cultura contribui para a tomada de decisão dos investidores, além de exigir uma continuidade de desenvolvimento tecnológico que certamente resultará em aumentos de produtividade.

Para os agricultores, a vantagem é poder ser beneficiada pelo Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), pelo Proagro Mais e pelo Programa de Subvenção ao Prêmio do Seguro Rural (PSR), uma vez que muitos agentes financeiros já estão condicionando a concessão do crédito rural ao cumprimento dos indicativos do Zarc.

Aplicativo Zarc Plantio Certo
Os assuntos da cultura da macaúba poderão ter acesso em seus tablets ou smartphones às informações oficiais do Zarc. O Zarc Plantio Certo, desenvolvido pela Embrapa Agricultura Digital (SP), está disponível de forma gratuita para os sistemas Android e iOS, com limitação sobre dados de plantio para mais de 40 culturas agrícolas, abrangendo todos os municípios do território nacional. Para saber mais sobre o aplicativo, acesse AQUI.

Importância da palmeira
Palmeira nativa distribuída em toda a América Tropical e Subtropical, a macaúba chega a atingir 20 metros de altura, com troncos de 20 cm a 30 cm de diâmetro. A espécie pode ser encontrada em quase todo o Brasil e também é conhecida no Nordeste como macaíba, em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul como bocaiúva e, em Goiás, alguns tratados por coco-babão. No Paraguai é chamado simplesmente de coco ou coquito e também de mbocayá. A macaúba é encontrada de forma nativa desde regiões do oeste do Rio Grande do Sul, no norte do Paraná, até áreas da Amazônia e na área do Semiárido no Brasil. No continente americano, estende-se do norte da Argentina ao norte do México.

Plantas com mais de 20 metros de altura com produção significativa já foram registradas. Seus frutos são arredondados e são compostos por uma casca coriácea, a polpa, o caroço ou endocarpo e a amêndoa. A quantidade de frutos por árvore também é muito variável e há relatos de plantas com produção de até 200 quilos. As histórias apresentadas são espinhosas, as quais também podem estar presentes no tronco e no engaço.

A principal fonte de óleo vegetal no Brasil atualmente é a soja, enquanto que globalmente é a palma de óleo, também conhecida como dendê, e que fornece em torno de 45% do óleo consumido no mundo. A soja supre em torno de 25% da demanda mundial. Isso se dá pela capacidade produtiva dessas espécies. Enquanto a palma de óleo gera de 3 a 5 toneladas de óleo por hectare (t/ha), a soja fica entre 0,5 a 0,8 t/ha.

Considerando o aumento da demanda de óleos vegetais por vários segmentos, como os de biocombustíveis, alimentos, cosméticos, higiene e oleoquímicos, é necessária a produção de fontes com alto rendimento em óleo por área. Isso torna a macaúba, estratégica.

A palma de óleo (dendê) é uma espécie que requer quantidades de água bem distribuídas ao longo do ano, condição encontrada apenas em algumas áreas de floresta úmida tropical no Brasil, além de restrições térmicas bastante pronunciadas, o que limita muito a área de cultivo em sistema de sequeiro. Já a macaúba, espécie nativa, pode ser cultivada, mesmo em sequeiro, em diversas regiões do Brasil, que vão desde o Sul até o Norte do País. E a produção de óleo pode se aproximar daquela da palma de óleo, além dos coprodutos, como casca, endocarpo, cacho vazio, tortas residuais da extração dos óleos que são fontes de matéria-prima para agregar valor à cadeia.

Para saber mais sobre a macaúba, a Embrapa Agroenergia disponibiliza um infográfico com informações como produção de mudas, produção de óleo, sistemas agroindustriais e possibilidades de uso. Confira os dados acessando AQUI. Com informações da Embrapa.

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