Paraminense teme por sua saúde e racionamento, mas não quer nem ouvir falar em água do Rio Paraopeba

A gestão municipal, a concessionária Águas de Pará de Minas e a população paraminense torcem para que as chuvas continuem para garantir água suficiente no Ribeirão Paciência, Córrego dos Paivas e poços artesianos. Desta forma será mantida a captação e o abastecimento de água no município.

A captação de água no Rio Paraopeba no distrito de Córrego do Barro para abastecer a cidade foi suspensa em 29 de janeiro devido à contaminação causada pela tragédia da Vale, cuja barragem da mineradora rompeu no município de Brumadinho, no dia 25 de janeiro de 2019.

O desastre causou muitas mortes e danos ambientais incalculáveis. Apesar da distância de dezenas de quilômetros entre os municípios, a catástrofe fez reviver o pesadelo enfrentado pelos paraminenses nos anos de 2013 e 2014 no auge da crise de abastecimento que impôs o racionamento de água em Pará de Minas quando o sistema era operado pela Copasa.

O sofrimento foi tamanho que casas de alguns bairros como o Prefeito Walter Martins Ferreira ficaram até 26 dias sem receber uma gota d’água devido á escassez nos mananciais Paciência e Paivas que não suportam a demanda para abastecer a cidade em tempos de estiagem. Isso já está comprovado. É fato.

Para resolver o problema, a concessionária Águas de Pará de Minas, que assumiu o serviço de água e esgoto no município, investiu mais de R$ 40 milhões para construir uma adutora de 28 quilômetros para trazer água do Rio Paraopeba no distrito de Córrego do Barro até a Estação de Tratamento de Água (ETA) localizada no bairro Nossa Senhora das Graças.

Mas devido à tragédia causada pelo rompimento da barragem da Mineradora Vale, contaminando o Rio Paraopeba, a concessionária está impedida de captar água naquele manancial e não se sabe se poderá retomar a captação algum dia.

Importante destacar nessa linha do tempo que antes da solução do problema, entre 17 de abril de 2015, quando assumiu as operações dos serviços de água e esgoto, a concessionária Águas de Pará de Minas também teve que impor um período de racionamento aos paraminenses no segundo semestre de 2015. Mas a empresa construiu a adutora em tempo recorde e por volta das 16 horas do dia 6 de outubro de 2015 a água do Rio Paraopeba já estava jorrando na ETA do bairro Nossa Senhora das Graças, para alívio da população.

Apesar disso, os ambientalistas que atuam no município, especialmente Sônia Naime, sempre afirmaram que não deveríamos depender de “águas estrangeiras”, ou seja, aquela captada no Rio Paraopeba, pois na área do município tem água suficiente para abastecer a cidade. Mas para isso era preciso ações que resultem no aumento da produção de água, como revitalização e cuidados com as nascentes que estão desaparecendo devido aos empreendimentos imobiliários desenfreados no município. Ela dizia isso prevendo uma crise hídrica aguda no futuro, em que a água do Paraopeba não seria suficiente para abastecer as dezenas de municípios que captam água em sua bacia. Ela não esperava que sua profecia se concretizasse tão cedo com a “morte” do Paraopeba que não resistiu aos rejeitos da barragem da Vale.

O Governo do Estado de Minas Gerais confirmou por meio de nota oficial no dia 31 de janeiro o que todos já imaginavam: a água do Rio Paraopeba está contaminada e oferece riscos a saúde humana e animal. Também alertou que ninguém deve utilizar a água do rio e manter distância de 100 metros das margens do Paraopeba.

Ambientalistas ligados aos mais diversos órgãos afirmam categoricamente que o Rio Paraopeba está “morto” devido à contaminação provocada pelos sedimentos da barragem da Mineradora Vale em Bumadinho. Também afirmam que o rio pode levar décadas para se recuperar da grande quantidade de metais pesados contidos em sua água, daí advém dos riscos a saúde humana e animal destacada pelo governo estadual.

Os representantes da Mineradora Vale estão com contato constante com equipes da prefeitura e da Águas da Pará de Minas em busca de soluções para não deixar faltar água para a população. Até porque na nota oficial que atestou a contaminação do Rio Paraopeba, o governo de MG disse que o abastecimento de água dos municípios atingidos pelos rejeitos da mineradora deveriam ter o abastecimento de água garantido pela Vale, nas áreas urbana e rural.

Na tarde da quarta-feira, 6 de fevereiro, uma comissão paraminense chefiada pelo prefeito Elias Diniz (PSD) participou de reunião na Secretaria de Estado de Meio Ambiente em Belo Horizonte. Naquele encontro ficou definido que o município de Pará de Minas passaria a integrar comitê estadual que avalia os danos causados pelo rompimento da barragem da Vale em Brumadinho e busca soluções para o povo mineiro que foi atingido.

Na manha do dia seguinte, 7 de fevereiro, o prefeito Elias Diniz coordenou durante várias horas a primeira reunião com integrantes do Comitê de Gestão e Avaliação de Resposta ao Desastre criado em Pará de Minas por decreto municipal para avaliar reflexos e buscar alternativas para os danos provocado no município pelo rompimento da barragem da mineradora Vale.

Após a reunião ele comentou as ações e foi questionado pela reportagem do Portal GRNEWS se estava em sua pauta á possibilidade de construir uma nova adutora para abastecer Pará de Minas. O prefeito Elias Diniz respondeu afirmativamente e acrescentou que o como o município está integrado ao comitê estadual, o dinheiro para executar esta obra poderia vir dos recursos da Mineradora Vale que foram bloqueados pela Justiça.

Em seguida, o gerente de Regulação da Agência Reguladora de Água e Esgoto de Pará de Minas (ARSAP) Frederico Mendes Amaral afirmou que dois representantes da Vale participaram da reunião do Comitê de Gestão e Avaliação de Resposta ao Desastre em Pará de Minas no dia (7), e disseram que a empresa poderá construir uma nova adutora, caso seja a única alternativa para abastecer o município com água de qualidade.

Mais cauteloso, o superintendente da Águas de Pará de Minas Thiago Contage Damaceno, que estava na mesma reunião, afirmou que ainda é muito cedo para discutir a construção de uma nova adutora para abastecer o município, uma vez que essa obra requer investimentos de grande envergadura.

Na sexta-feira (8) durante encontro promovido pelos integrantes da Comissão Externa das Barragens da Câmara dos Deputados, do Senado, do Ministério Público e da Defensoria Pública, na Câmara Municipal de Brumadinho, para discutir os danos causados pelo rompimento da barragem da Vale, o prefeito de Pará de Minas Elias Diniz destacou as ações realizadas no município neste momento difícil e cobrou responsabilidade da Vale.

Reafirmou aos presentes naquele encontro que a captação de água no Rio Paraopeba para abastecer o município foi suspensa na noite de 29 de janeiro devido à contaminação do rio pelos rejeitos da barragem da mineradora. Voltou a falar em construir nova adutora para captar água e abastecer a população paraminenses.

Fato é que em meio todas essas incertezas e discussões sobre a possibilidade de faltar água para abastecer Pará de Minas, uma coisa é certa: a população paraminense perdeu a confiança na água do Rio Paraopeba e teme por sua saúde caso seja retomada a captação.

A redação do Portal GRNEWS recebeu manifestações de muitas pessoas que não querem nem ouvir falar em consumir água do Rio Paraopeba, por medo de contaminação por metais pesados, mesmo após de a água passar por tratamento e ainda houver a afirmação que todos os parâmetros estão dentro do que exige a portaria do Ministério da Saúde.

Nas ruas também não é difícil encontrar pessoas muito preocupadas com a possibilidade futura de retomar a captação de água em Córrego do Barro. Para estes, água do Paraopeba para consumo nunca mais. Isso demonstra que acabou a confiança dos paraminenses na água daquele manancial após a tragédia da Vale.

Outro dado que comprova esta desconfiança é o crescimento da venda de galões de água mineral nos estabelecimentos comerciais que oferecem esse produto em Pará de Minas. Em algumas empresas o aumento das vendas supera 50% desde o rompimento da barragem da Vale em Brumadinho em 25 de janeiro, se acentuando mais após a nota oficial do governo de MG que a água do rio oferece riscos a saúde humana e animal publicada em 31 de janeiro.

Estas pessoas que perderam a confiança na qualidade da água do Paraopeba, defendem a construção urgente de nova adutora para captar água para abastecer a cidade. Estão temerosas quando ao possível racionamento de água que será imposto ao povo paraminense no período de estiagem. Já está comprovado que os mananciais do Paciência e Paivas, juntamente como os poços artesianos e carros-pipa, não conseguem garantir o abastecimento em Pará de Minas durante a época da seca. Esperar mais para quê? Questionam.

O superintendente da Águas de Pará de Minas, Thiago Contage Damaceno, e o prefeito Elias Diniz, já afirmaram diversas vezes que o abastecimento de água na cidade neste momento está normalizado com a água dos mananciais e poços urbanos. Também não há queixas de falta de água por parte dos moradores, exceto em situações pontuais que requerem apenas trabalho a equipe de manutenção de rede da concessionária para sanar os problemas rotineiros.

Por outro lado, dados de monitoramento da Águas de Pará de Minas atestam aumento de consumo, indicando que a população está armazenando água em seus imóveis. Isso não é bom. Além de aumentar gastar mais água desnecessariamente, também faz aumentar o risco de proliferação de focos do mosquito Aedes aegypti, transmissor da Dengue e outras doenças.

O município já enfrentou duas epidemias de Dengue quando a população lotou as unidades de saúde e a doença também causou mortes na cidade. O último Levantamento do Índice Rápido do Aedes aegypti (LIRAa) apontou infestação de 2,4%, deixando Pará de Minas em estado de alerta com risco médio de epidemia da doença. O Ministério da Saúde preconiza que para afastar esse risco os municípios brasileiros precisam manter esse índice abaixo de 1%.

Este cenário incerto revela que a situação é muito preocupante em Pará de Minas com a falta de confiança da população em uma provável retomada da captação de água no Rio Paraopeba, nem mesmo sabe se isso poderá ocorrer nas próximas décadas, e o armazenamento de água que nos quintais pode ser o gatilho para provocar mais um surto de Dengue no município. Tudo isso causado pela tragédia da Vale com o rompimento de barragem da mineradora em Brumadinho.

O futuro para a população de Pará de Minas está cada vez mais incerto devido a todo esse cenário desfavorável ao município.

Como os ambientalistas afirmam que a captação de água no Rio Paraopeba oferecerá riscos a saúde nas próximas décadas e que os mananciais urbanos não são capazes de abastecer a cidade, será que as autoridades vão esperar o tempo de estiagem para iniciar o projeto de construção de nova adutora?

Será que vão aguardar o tempo passar para submeter à população paraminense a um novo e cruel racionamento de água?

Será que a população fará sua parte e os agentes de combate a Endemias conseguirão manter sobre controle os focos do Aedes aegypti e afastar nova epidemia de Dengue?

As chuvas continuarão frequentes em tempos futuros para reabastecer o Ribeirão Paciência e Córrego dos Paivas, garantindo água nas torneiras dos paraminenses enquanto a captação continua suspensa no Rio Paraopeba?

Será que a Mineradora Vale vai arcar com os custos necessários para garantir o abastecimento de água em Pará de Minas, mesmo que para isso tenha bancar uma nova adutora, ou será que daqui a pouco se esquecem disso e vamos repetir Mariana onde a situação não foi resolvida anos depois da tragédia em Bento Rodrigues?

Nota-se que estes e muitos outros questionamentos demandarão tempo para se obter as devidas respostas. Uma coisa é certa as autoridades paraminenses não podem simplesmente ficar esperando soluções milagrosas ou contar com São Pedro para mandar chuva e abastecer a cidade.

É preciso que determinem ações emergenciais preventivas para evitar que o povo paraminense não sofra com novo racionamento de água, independente de quem tenha causado o problema. Água é vida. E quando se trata de uma questão tão séria como esta não dá para contar com a sorte ou com a bondade divina. É esperar pra ver.

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