Determinação política é a chave para conter o desmatamento em florestas da Amazônia brasileira e da Indonésia
A vontade política, impulsionada pela sociedade civil e pela pressão internacional, é o fator mais importante para a proteção de florestas como a Amazônia brasileira e as da Indonésia. Essa é a principal conclusão de um estudo publicado na revista Conservation Letters. A pesquisa analisou os elementos que levaram a quedas históricas no desmatamento em ambos os países.
O Brasil conseguiu uma redução de 84% no desmatamento entre 2004 e 2012, enquanto a Indonésia diminuiu a derrubada de florestas em 78% entre 2016 e 2021. A pesquisa, que envolveu 36 especialistas dos dois países, utilizou a metodologia Delphi para ir além dos números, investigando fatores menos tangíveis, como a vontade política, a atuação da sociedade civil e a pressão internacional.
O consenso entre especialistas
Para chegar aos resultados, o estudo consultou 17 especialistas brasileiros e 21 indonésios por meio de questionários anônimos e um workshop virtual. O objetivo era identificar os fatores que contribuíram para a manutenção das florestas e como sua importância mudou ao longo do tempo.
A metodologia Delphi permitiu que o grupo refinasse suas opiniões sem a influência de vozes dominantes. Inicialmente, os participantes identificaram os fatores-chave e, em seguida, priorizaram os mais relevantes. Um workshop online aprofundou as discussões, e uma nova rodada de avaliações avaliou a importância dos fatores nas décadas de 1990, 2000 e 2010.
Pressão social e diplomacia como motores
O estudo confirmou que a vontade política para fiscalizar e aplicar as leis é o ponto central para a conservação. No entanto, essa determinação não surge do nada. É o resultado de esforços constantes da sociedade civil, do engajamento público e da pressão diplomática.
No Brasil, a relação entre a agricultura e a perda de florestas é histórica. No entanto, o estudo apontou que políticas públicas como o Código Florestal e o Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) mostraram que, com a vontade política, é possível dissociar a agricultura da derrubada de florestas.
O caso da Indonésia se mostrou mais complexo, com uma combinação de fatores do setor privado, como políticas de “desmatamento zero”, e ações governamentais, como a moratória para novas licenças para o cultivo de palma de óleo.
O papel vital de comunidades tradicionais
Outro ponto crucial destacado pelo estudo na Amazônia brasileira foi o reconhecimento dos direitos e territórios de comunidades tradicionais e indígenas. Segundo a pesquisa, o reconhecimento desses direitos pelo governo brasileiro foi essencial para o sucesso da conservação entre 2004 e 2012 e continuará a ser fundamental no futuro.
Dados do Censo de 2022 do IBGE mostram que 5,82% da população brasileira vive em Unidades de Conservação, incluindo quilombolas e indígenas. Garantir o bem-estar e a qualidade de vida dessas populações é essencial para a conservação a longo prazo, já que são os guardiões desses recursos naturais.
Um alerta para a COP30
As descobertas do estudo chegam antes da COP30, que ocorrerá em Belém, no Pará, em 2025. Os pesquisadores esperam que o trabalho sirva como um alerta para líderes globais. A mensagem é clara: a conservação das florestas tropicais é possível, mas depende de uma decisão política sustentada, alimentada pela vigilância da sociedade e pela cooperação internacional. Com informações da Embrapa


