Quase 30% dos cuidadores admitem dar palmadas e beliscões em crianças, aponta pesquisa

Apesar de a Lei da Palmada proibir castigos físicos há mais de dez anos, uma pesquisa recente revela que 29% dos cuidadores de crianças de até 6 anos ainda admitem usar métodos como palmadas e beliscões como forma de disciplina. Deste total, 13% afirmam usar esses métodos com frequência. O estudo “Panorama da Primeira Infância”, da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, em parceria com o Instituto Datafolha, marca o início do Agosto Verde, mês dedicado à conscientização sobre a importância da primeira infância.

De acordo com o levantamento, 17% dos cuidadores consideram os castigos físicos eficazes, enquanto 12% os utilizam mesmo sabendo que não são a melhor forma de educar. A diretora-executiva da Fundação, Mariana Luz, lamenta os resultados e critica a “repetição de um padrão cultural que não funciona”. A pesquisa ouviu 2.206 pessoas em todo o país, incluindo 822 cuidadores de crianças na primeira infância.

Consequências da violência e desconhecimento sobre a infância
A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal alerta que a violência contra crianças, mesmo que em pequena escala, não é inofensiva e pode causar consequências graves, como agressividade, ansiedade e depressão. A pesquisa também mostra que 14% dos cuidadores admitem gritar e brigar com os pequenos.

Embora o diálogo seja o método disciplinar mais citado, com 96% das respostas, uma parte significativa dos agressores (40%) acredita que o castigo físico ensina “maior respeito pela autoridade”. No entanto, 33% reconhecem que a violência pode levar a um comportamento agressivo na criança, e 21% admitem que a criança desenvolve baixa autoestima. Mariana Luz reforça que a violência é um “detrator direto do desenvolvimento”. Ela também aponta que a sociedade ainda tem dificuldade em intervir na educação dos filhos de outras pessoas, o que permite que a violência contra crianças seja vista com mais complacência do que a violência contra animais, por exemplo.

Falta de conhecimento sobre a primeira infância
Outro ponto alarmante da pesquisa é o desconhecimento sobre a primeira infância. Apenas 2% dos entrevistados souberam definir corretamente a fase que vai até os 6 anos de idade, e 84% desconhecem sua importância para o desenvolvimento humano. A diretora-executiva da Fundação explica que essa é a fase em que o cérebro realiza 1 milhão de sinapses por segundo e 90% das conexões cerebrais são estabelecidas.

Apesar das evidências científicas, 41% dos entrevistados acreditam que o desenvolvimento humano ocorre principalmente na vida adulta, e 25% pensam que acontece entre os 12 e 17 anos. Mariana Luz defende a necessidade de um trabalho de conscientização, comparando a situação à valorização da terceira idade, que só foi consolidada após um longo processo de conscientização social.

Brincadeiras e o tempo de tela
A pesquisa também buscou entender quais práticas são mais importantes para o desenvolvimento infantil. A mais citada (96%) foi “ensinar a respeitar os mais velhos”, superando ações comprovadas pela ciência, como conversar com a criança (88%) e deixá-la brincar (63%). Mariana Luz destaca que a brincadeira é fundamental para a aprendizagem na primeira infância.

O levantamento revela que crianças na primeira infância passam, em média, duas horas por dia em frente a telas, contrariando a recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) de não expor crianças de até 2 anos a telas e limitar o tempo para uma hora por dia, sempre com a supervisão de um adulto, para crianças entre 2 e 5 anos. A diretora da fundação sugere que, para reduzir o tempo de tela, a criança seja incluída na rotina da casa. Ela também ressalta que é responsabilidade do Estado oferecer vagas em creches, conforme decisão do Supremo Tribunal Federal (STF). Com informações da Agência Brasil

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