Câmara dos Deputados registra baixo engajamento em temas de igualdade racial
Uma pesquisa recente divulgada em Brasília revela que a Câmara dos Deputados apresenta um baixo nível de engajamento médio nas pautas relacionadas à igualdade racial. O “Ranking Igualdade Racial 2025” utilizou uma metodologia inovadora, que combina o uso de Inteligência Artificial (IA) com análise humana, para avaliar o desempenho de 571 parlamentares (entre deputados e ex-deputados).
O estudo, uma parceria entre o Instituto de Referência Negra Peregum, a Fundação Tide Setúbal e o Observatório do Legislativo Brasileiro (OLB), analisou um vasto conjunto de dados, incluindo 37 mil atividades legislativas, como votos nominais, discursos, pareceres e emendas.
Queda abrupta no envolvimento
Ingrid Sampaio, coordenadora de Advocacy do Instituto de Referência Negra Peregum, chamou a atenção para o declínio acentuado nas notas dos parlamentares após as 50 primeiras posições do ranking. As notas, que variam de -10 (pior) a +10 (melhor), caem de forma drástica para o patamar de 3.
“Essa queda brusca faz a gente perceber que existe, sim, algum engajamento incipiente, mas que os parlamentares mais engajados precisam fazer muito esforço para compensar a falta de empenho dos demais,” afirmou Sampaio.
A especialista aponta que o baixo engajamento pode ser atribuído ao fato de a temática racial ser um assunto “desconfortável” para o Congresso Nacional. “É uma decisão política que a pauta não avance. É um tema espinhoso porque obriga a reconhecer a responsabilidade que a gente tem como país de curar essa chaga e andar para frente. E não é confortável e os temas desconfortáveis o Congresso já vai evitar”, avaliou.
Historicamente, o movimento negro brasileiro tem defendido políticas públicas para diminuir a disparidade de renda e de oportunidades. Dados do Centro de Estudos e Dados sobre Desigualdades Raciais (Cedra) indicam que a renda de pessoas negras corresponde, em média, a apenas 58,3% da renda das pessoas brancas no país.
Representatividade é fator determinante
O levantamento utilizou um algoritmo de IA para atribuir notas aos parlamentares, com base em suas posições (favoráveis ou contrárias) a propostas que impactam a população negra ou promovem a igualdade racial.
Um achado crucial do estudo é que parlamentares negros, mulheres e indígenas são os que mais ativamente impulsionam a agenda racial, registrando maior atuação em votações, discursos e emendas.
A pesquisa revela que, mesmo representando apenas 20% da Câmara, as mulheres ocupam a maior parte das primeiras posições.
Esse fato “reforça que a pluralidade de vivências é determinante na formulação de políticas mais robustas e alinhadas às necessidades da população brasileira”, aponta o estudo.
Ingrid Sampaio reforçou a importância desses dados: “Isso comprova, com dados, que a representatividade faz diferença. A presença de mulheres e pessoas não brancas no Congresso realmente influencia nas políticas públicas. Isso influencia na qualificação dos debates que a gente precisa ter como sociedade”.
Divisões ideológicas no ranking
No que diz respeito à orientação política, as posições de destaque no ranking são majoritariamente ocupadas por membros de partidos de centro-esquerda. No entanto, o estudo também identificou a presença de alguns parlamentares de direita ou centro-direita entre os 50 primeiros colocados.
Apesar de a pauta da igualdade racial ser tradicionalmente associada à esquerda, a coordenadora Ingrid Sampaio ressalta que há membros de outros campos que apoiam o tema, agindo, por vezes, em divergência com suas bancadas.
“Os partidos de esquerda são mais engajados no tema e, ao mesmo tempo, a gente tem um centro e centro-direita com algumas dissidências. Eles têm as suas discordâncias internamente e, em alguma medida, têm a liberdade para atuar de acordo com interesses locais ou da própria vivência do parlamentar”, concluiu.
Destaques e notas
O levantamento, que contou também com a participação do Grupo de Estudos Multidisciplinar da Ação Afirmativa (Gemaa) da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), promoveu uma premiação em Brasília para os parlamentares mais engajados.
A seguir, apresentamos os parlamentares com as notas mais altas e mais baixas do Ranking Igualdade Racial 2025:
As maiores notas
Erika Kokay (PT-DF): +10.000
Daiana Santos (PCdoB-RS): +9.997
Talíria Petrone (PSOL-RJ): +9.842
Célia Xakriabá (PSOL-MG): +9.733
Tabata Amaral (PSB-SP): +9.715
Benedita da Silva (PT-RJ): +9.706
Carol Dartora (PT-PR): +9.658
Pedro Uczai (PT-SC): +9.594
Guilherme Boulos (PSOL-SP): +9.517
Dandara (PT-MG): +9.423
As menores notas
Capitão Alden (PL- BA): -7.852
Marcel van Hattem (NOVO-RS): -7.891
Julia Zanatta (PL-SC): -8.072
Sanderson (PL-RS): -8.112
Ricardo Salles (NOVO-SP): -8.351
Delegado Paulo Bilynskyj (PL SP): -8.632
Delegado Ramagem (PL-RJ): -8.859
Chris Tonietto (PL-RJ): -9.098
Helio Lopes (PL-RJ): -9.635
Junio Amaral (PL-MG): -10.000
Com informações da Agência Brasil

