Crescimento no uso de motos expõe dilema da mobilidade e segurança no Brasil
O aumento na frota de motocicletas no Brasil reflete uma solução perigosa para a falta de opções de mobilidade urbana. Dados recentes mostram um crescimento expressivo no número de motos, que são usadas tanto como meio de locomoção mais rápido quanto como ferramenta de trabalho, mas o uso massivo tem elevado os índices de acidentes e mortes.
A busca por mobilidade em meio ao caos
A história de Laura Maria de Oliveira, uma diarista que sofreu um grave acidente ao usar um aplicativo de moto no Rio de Janeiro, ilustra o risco assumido por muitos brasileiros. Para economizar tempo no trajeto para o trabalho, ela optou por um meio de transporte que, apesar de mais ágil no trânsito, a colocou em uma situação de vulnerabilidade, resultando em lesões graves e a perda de seu emprego.
O especialista em segurança viária da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Victor Pavarino, afirma que esse fenômeno é um reflexo direto de um sistema de mobilidade falho, que prioriza o automóvel e negligencia o transporte público de qualidade. As motocicletas se tornam, assim, a única alternativa viável para muitas famílias de baixa renda e trabalhadores informais, como entregadores e mototaxistas, que buscam renda e enfrentam riscos diários em jornadas exaustivas.
Frota em expansão e o aumento de fatalidades
O número de motocicletas em circulação no país cresceu cerca de 42% entre 2015 e 2024, atingindo a marca de 35 milhões de unidades. Apenas em 2024, as vendas aumentaram 18,6%, um recorde em anos. Em junho de 2025, a frota de motocicletas era de 29 milhões, um acréscimo de quase 6 milhões em cinco anos.
Esse crescimento se traduz em um aumento alarmante nas fatalidades. O Atlas da Violência 2025 aponta que as mortes no trânsito vêm subindo desde 2020 e que os motociclistas são as principais vítimas. Em 2023, mais de 13 mil pessoas morreram em acidentes com motos, o que significa que, a cada três mortes no trânsito, uma envolve motocicletas. Em alguns estados do Norte e Nordeste, onde as motos representam mais da metade da frota, os acidentes com esses veículos chegam a ser responsáveis por quase 70% das mortes no trânsito.
A resposta necessária: do transporte público à prevenção
Para o secretário nacional de Trânsito, Adrualdo Catão, a solução para a “epidemia de acidentes de moto” está no investimento em transporte público de qualidade. A falta de alternativas seguras leva os cidadãos a optarem por veículos mais perigosos.
Paralelamente, a Opas defende medidas imediatas de curto prazo, como a fiscalização rigorosa do uso de equipamentos de segurança (capacetes, roupas apropriadas), a redução dos limites de velocidade e a inspeção periódica dos veículos. A regulamentação do transporte por aplicativo é outro ponto crucial, que deve considerar as condições de saúde e de trabalho dos motociclistas que chegam a trabalhar jornadas de 12 horas.
O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, reforça que os acidentes de moto sobrecarregam o Sistema Único de Saúde (SUS). As vítimas de sinistros com motos ocupam a maioria dos leitos de UTI, impactando o atendimento a outras cirurgias e procedimentos de urgência. Ele defende parcerias com as empresas de aplicativo para a prevenção e a busca por formas de reduzir o custo da CNH, já que cerca de metade dos motociclistas não possuem habilitação. Com informações da Agência Brasil

