Câncer de Mama: pacientes e Femama cobram acesso a tratamentos aprovados no SUS

Pacientes com câncer de mama avançado e metastático, junto com representantes da Federação Brasileira de Instituições Filantróficas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), realizaram ontem (9) uma manifestação em frente ao Ministério da Saúde, em Brasília. O objetivo é cobrar o acesso a tratamentos já aprovados para a doença no Sistema Único de Saúde (SUS), mas que ainda não estão disponíveis.

O objetivo, conforme Mely Paredes, coordenadora de comunicação da Femama, é sensibilizar a pasta para promover a disponibilização de medicamentos que já estão incluídos no Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) do câncer de mama, conhecido como PCDT Rosa, publicado em dezembro do ano passado. “A função desse protocolo, a razão dele existir é que ele padroniza e regulamenta todas as linhas de cuidado do câncer de mama, com todas as medicações de cada linha de tratamento. A gente tinha medicações que tinham sido incorporadas em 2021 e 2022 para câncer de mama metastático e avançado que não eram disponibilizadas para os pacientes porque não tinha regulamentação”, explicou Mely.

A mobilização faz parte da campanha “PCDT Rosa: quantos passos faltam?”, que simboliza a jornada pelo acesso ao tratamento do câncer de mama, medindo o tempo entre a aprovação e a efetiva disponibilização das terapias na rede pública. “Em 5 de junho deste ano, completaram-se seis meses da publicação do documento e o acesso às medicações para tratamento de câncer de mama avançado e metastático ainda não acontece. O que acontece com essas pacientes? Não é que elas ficam sem tratamento. Elas recebem os tratamentos disponíveis dentro dos centros de saúde, mas que não são os mais adequados”, complementou.

Detalhes do PCDT Rosa e a lacuna no acesso
O Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de câncer de mama, aprovado em dezembro de 2024, visa otimizar o acesso ao diagnóstico e ao tratamento da doença no SUS, padronizando o cuidado e regulamentando a oferta de terapias.

Contudo, a Femama destaca que, apesar da aprovação do documento, grande parte das mulheres com câncer de mama avançado e metastático que dependem da rede pública não têm acesso aos novos medicamentos incorporados. Essa situação, segundo a federação, reduz a qualidade de vida e até mesmo a taxa de sobrevida dessas pacientes. “Partindo da compreensão de que os marcos legais são apenas o início do percurso percorrido rumo ao pleno acesso ao diagnóstico precoce e tratamento adequado, a iniciativa da Femama destaca que a efetividade de uma política pública reside na disponibilização integral ao paciente de tudo aquilo que a regulamentação estabelece”, afirma a Femama.

Medicamentos e a jornada pela disponibilização
Em 2021 e 2022, duas portarias oficializaram a incorporação de inibidores de ciclina e da medicação trastuzumabe entansina no SUS. Para a Femama, esses documentos representaram apenas os primeiros passos de uma longa caminhada. A partir dessas publicações, a entidade organizou a campanha “PCDT Rosa: quantos passos faltam?”, que utiliza a analogia de um percurso, similar a aplicativos de caminhada e corrida, para ilustrar o tempo decorrido desde a incorporação dos tratamentos.

Números e o tempo de espera
Dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca) preveem cerca de 74 mil novos casos anuais de câncer de mama no Brasil. A Femama ressalta que aproximadamente 75% da população brasileira depende exclusivamente do SUS.

A campanha utiliza um cálculo simbólico: “Ao se considerar que uma pessoa saudável caminha cerca de 7 mil passos por dia e que essa caminhada teve início em 2021, mais de 8,9 milhões de passos foram dados até o marco dos seis meses da publicação do PCDT, em junho de 2025, sem que a disponibilização igualitária dos novos medicamentos para as pacientes fosse uma realidade”.

Histórias que ilustram a luta
Cintia Cerqueira, de 49 anos, foi diagnosticada com câncer de mama em 2018. No ano seguinte, a doença já havia metastatizado para os ossos e o cérebro. Ao longo dos últimos sete anos, ela tem enfrentado um quadro de metástase, quando células cancerígenas se espalham pelo corpo.

Cintia passou por três craniotomias, além de sessões de radioterapia. Para ter acesso aos medicamentos mais indicados para seu caso, precisou recorrer à Justiça e, mesmo assim, aguardou cerca de oito meses para iniciar o tratamento. “Eles cuidam daqueles que têm chance de ser curado, mas não cuidam dos que não têm chance de cura. Antes, eu não andava. Ficava mais deitada, não dava conta de varrer uma casa. Hoje, eu ando. Mudou minha vida completamente. A qualidade é outra. Tudo por causa da medicação”, relatou.

“Dói mais que o câncer saber que existe um medicamento que pode te dar vida, mas que você não tem acesso. O que a gente quer é o mesmo direito que quem tem um câncer primário tem. Não porque somos melhores, mas porque não temos tempo pra esperar. Nossa luta é diária pra que os medicamentos sejam liberados.” Com informações da Agência Brasil

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