Canola tropical: nova parceria vai desenvolver híbridos adaptados ao clima brasileiro

Uma colaboração estratégica entre a Embrapa Agroenergia (DF) e a empresa Advanta Seeds marca o início de uma nova era para a cultura da canola no Brasil. A parceria visa ao desenvolvimento dos primeiros híbridos tropicais de canola, especificamente adaptados às condições climáticas e de solo do país, com foco na região Centro-Sul. Essa iniciativa, que deu origem ao projeto BRSCanola, tem o potencial de transformar o cenário agrícola, abrindo novas oportunidades para produtores rurais, especialmente na segunda safra, e contribuindo para suprir a crescente demanda por óleo vegetal e biocombustíveis. O objetivo é criar cultivares híbridas de alto desempenho agronômico, com resistência a doenças, tolerância a herbicidas e adaptação aos ambientes tropicais.

A canola, uma planta da família das crucíferas (como o repolho e a couve, do gênero Brassica), já possui espaço nas lavouras brasileiras, principalmente na Região Sul. No entanto, as sementes atualmente utilizadas são, em sua maioria, importadas. O projeto BRSCanola, com duração de dois anos, integra os resultados de dois outros projetos em andamento, também voltados para a produção sustentável de canola no Brasil. “São esforços em Pesquisa e Desenvolvimento e em Inovação que se complementam para o aprimoramento e a consolidação da cadeia produtiva da canola no Brasil para a produção de biocombustíveis”, destaca o pesquisador da Embrapa Bruno Laviola, coordenador do BRSCanola.

Laviola enfatiza o papel estratégico da canola na diversificação das culturas e na produção sustentável de óleo vegetal no Brasil. “Com essa parceria, vamos unir o conhecimento acumulado da Embrapa em melhoramento genético para o Cerrado com a expertise global da Advanta em suas linhagens de elite, para a geração de cultivares híbridas adaptadas ao nosso ambiente tropical”, declara o cientista.

Para ele, há um grande potencial para aumento da produtividade e redução da dependência externa na importação de sementes, uma vez que, atualmente, não existem cultivares comerciais de canola desenvolvidas no Brasil. Todas são provenientes de outros países. Além disso, ao tropicalizar a canola, a cultura se adapta às condições impostas pelas mudanças climáticas, resultando em materiais mais tolerantes a altas temperaturas e a déficits hídricos.

Cruzamentos estratégicos e o potencial agroenergético do brasil
O projeto BRSCanola inicia com o cruzamento de linhagens desenvolvidas pela Embrapa com as da Advanta, originárias de fora do país. Dezenas de combinações híbridas serão geradas e avaliadas em testes de campo e em casas de vegetação, incluindo análises de tolerância ao estresse hídrico, qualidade dos grãos e resistência às principais doenças da cultura, como canela preta, mofo branco e mancha de Alternaria. A Advanta contribuirá com o fornecimento de materiais genéticos desenvolvidos ao longo de 40 anos de melhoramento genético tradicional.

Essa iniciativa é pioneira para o mercado brasileiro, pois a ausência de híbridos adaptados às condições tropicais tem sido uma das principais barreiras para a expansão da cultura e, principalmente, para o aumento da média de produtividade de grãos. Para Ana Luiza Scavone de Camargo, líder de Desenvolvimento de Novos Negócios nas Américas da Advanta, essa parceria é uma oportunidade valiosa que aproveita o melhor do conhecimento científico existente entre as duas instituições. “Isso permitirá acelerar o desenvolvimento de materiais genéticos mais resilientes e produtivos, fundamentais para o avanço da cadeia produtiva”, prevê a executiva. A parceria conta também com o apoio administrativo e financeiro da Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) para a execução das atividades.

“Acreditamos que o desenvolvimento de híbridos tropicais de canola poderá posicionar o Brasil como um player de destaque na bioeconomia global. Estamos promovendo ciência aplicada com foco em resultados concretos para o produtor, para o setor alimentício e para o mercado de biocombustíveis”, conclui Laviola.

A área plantada de canola no Brasil cresceu significativamente, passando de 40 mil hectares em 2021 para 250 mil hectares em 2024. A perspectiva é alcançar cerca de 350 mil hectares em 2026. Com as políticas públicas voltadas para a produção e adoção de biocombustíveis no país, com destaque para o Biodiesel, SAF (combustível sustentável de aviação) e Diesel Renovável, essa produção necessita de aprimoramento técnico para o aumento da produtividade, além do crescimento da área cultivada, consolidando um sistema de produção sustentável para a canola.

Expansão na segunda safra e projetos integrados
A canola vem se consolidando como uma opção estratégica para a rotação de culturas na segunda safra, especialmente nas regiões do Cerrado, onde há uma demanda crescente por alternativas ao milho safrinha. Com ciclo relativamente curto, boa adaptação a temperaturas amenas e capacidade de agregar valor ao sistema produtivo, a canola pode ser cultivada logo após a colheita da soja, otimizando o uso da terra e promovendo a sustentabilidade do sistema agrícola.

“O cultivo da canola como segunda safra pode se tornar um vetor de transformação para o agronegócio brasileiro. Estamos falando de uma cultura que melhora a estrutura do solo, quebra ciclos de pragas e doenças e ainda gera grãos com alto valor para a indústria de alimentos e de biocombustíveis”, reforça Laviola.

No Brasil, a canola tem potencial para ocupar até 20% da área de segunda safra cultivada com soja, o que possibilita expandir sua produção sem a necessidade de incorporar novas áreas à agricultura. Isso representa um diferencial competitivo para o país.

Estudos conduzidos pela Embrapa Agroenergia indicam que áreas hoje subutilizadas durante o outono/inverno no Centro-Oeste, Sudeste e Sul do Brasil têm grande potencial para o cultivo da canola. A expectativa é que, com a oferta de híbridos tropicais mais produtivos e adaptados, a área plantada no país possa crescer significativamente nos próximos anos, ampliando e diversificando a oferta de óleo vegetal para a produção de Biodiesel, Diesel Renovável e SAF (combustível sustentável de aviação).

O projeto SAFCanola, voltado ao uso da espécie como matéria-prima de combustível sustentável de aviação, já selecionou linhagens adaptadas ao clima tropical, com produtividade semelhante a híbridos comerciais. As dez linhagens mais produtivas identificadas neste estudo serviram de base para o início dos testes do projeto BRSCanola.

Quando a canola é cultivada durante o outono/inverno na Região Sul do Brasil, há, em geral, disponibilidade hídrica ao longo de quase todo o ciclo da cultura. Por outro lado, no Cerrado, onde a canola é utilizada como alternativa de segunda safra, a disponibilidade de água limita-se, geralmente, à primeira metade do ciclo, impondo desafios à adaptação dos sistemas produtivos. Para contornar essa limitação, têm sido desenvolvidas estratégias no projeto SAFCanola que envolvem a otimização da adubação nitrogenada, associada ao uso de bioinsumos à base de microrganismos com funcionalidades específicas, como a mitigação do estresse hídrico e a promoção da fixação biológica de nitrogênio. Esses experimentos também visam ao desenvolvimento de sistemas de produção mais sustentáveis, com menor emissão de carbono.

Já o RedeCanola – Desenvolvimento da cadeia produtiva da canola em regiões tropicais: cultivares, sistema de cultivo, zoneamento de risco climático e sustentabilidade, um terceiro projeto com a variedade, também liderado por Laviola, busca transformar dados em conhecimento. O projeto objetiva o desenvolvimento da cadeia produtiva da canola em regiões tropicais com foco na validação de cultivares, sistemas de cultivo, manejo agrícola, zoneamento agrícola de risco climático e métricas de sustentabilidade.

O projeto realizou testes em Unidades de Referência Tecnológica (URTs) em Mato Grosso, avaliando sistemas de manejo para o cultivo da canola em regiões tropicais; o ciclo de vida da planta em plantios comerciais; o impacto econômico-social-ambiental da adoção do sistema de cultivo tropicalizado; gerando dados para o Zoneamento Agrícola de Risco Climático – Zarc Canola 3.0 (novas regiões), além de capacitar agricultores por meio de ferramentas geradas pela pesquisa: o curso on-line (e-Campo) Produção Sustentável de Canola, e o App Mais Canola.

Outra ação do projeto avaliou 18 híbridos de canola em 14 municípios em sete estados do Brasil e gerou dados que também serão utilizados para as pesquisas do projeto. Com essa ação, será possível uma ampla compreensão da interação das cultivares com os ambientes de cultivo, além de fornecer dados para o ZARC Canola.

“Com todos esses projetos desenvolvidos em parceria com o setor produtivo, queremos fazer da canola mais um caso de sucesso de tropicalização de cultivos no Brasil, consolidando cada vez mais o país como referência em agricultura tropical no mundo”, finaliza Laviola. Com informações da Embrapa

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