Escola não é quartel: ato em São Paulo repudia invasão de PMs armados por causa de desenho de orixá

Entidades de educação, estudantes, pais e profissionais protestaram na terça-feira (25) em São Paulo contra a invasão de policiais militares armados à Escola Municipal de Educação Infantil (Emei) Antônio Bento. O incidente ocorreu após o pai de uma aluna, que também é policial, acionar a corporação por ter se revoltado com um desenho de orixá feito pela filha durante uma atividade pedagógica.

A mobilização saiu em caminhada pelas ruas, partindo da unidade escolar, com cartazes que exigiam o fim da violência no ambiente de ensino e clamando por “Mais amor e mais livros, menos violência” e “Escola não é lugar de polícia”. O ato também serviu para reforçar o pedido por mais redes de resistência antirracista e pela eliminação do machismo nas escolas.

Intolerância religiosa motivou a ocorrência
O caso aconteceu no dia 12 de novembro. Policiais militares, portando armamento, entraram na Emei após o pai da estudante alegar que a filha estava sendo coagida a ter aula sobre religião africana. No dia anterior, 11 de novembro, o pai já havia demonstrado insatisfação na escola, chegando a rasgar o desenho de Iansã que a criança havia feito.

Gisele Nery, mãe de outra estudante e integrante do conselho da escola, acompanhou o desenrolar e confirmou que o pai tirou a filha de perto antes de rasgar a atividade. O gesto agressivo e os gritos contra a professora geraram desconforto e confusão nas outras crianças. “Ela chegou em casa e perguntou: não entendi, mamãe, por que ele rasgou e ainda gritou com a nossa professora?”, relatou.

Segundo Gisele Nery, tanto os pais quanto os profissionais da Emei tentaram dialogar com o homem e o convidaram a participar da atividade para uma melhor compreensão da temática, mas ele ignorou as mensagens.

Diretora negra foi ameaçada de prisão
O momento de maior tensão na escola se deu quando, segundo o relato da conselheira, os policiais ameaçaram dar voz de prisão à diretora, que é uma mulher negra. Os conselheiros, que estavam em reunião, ouviram a discussão e saíram em defesa da diretora, presenciando a tentativa de prisão, que também foi testemunhada pelas crianças.

A universitária Milena Leite, do curso de Pedagogia, classificou a ação como uma investida “brutal” e inaceitável. Ela observou a disparidade no tratamento: “Eles chegam com muita brutalidade quando se fala de deuses africanos. Se fossem deuses nórdicos, gregos, Jesus Cristo, não teria tanto esse problema.”

A diretora da Emei, Aline Aparecida Nogueira, em nota, esclareceu que a escola não promove “doutrina religiosa”, mas sim um “trabalho centrado a partir do currículo antirracista”. Ela relatou ter sido “coagida e interpelada pela equipe por aproximadamente 20 minutos”.

Amparo legal para o currículo antirracista
O Ministério da Igualdade Racial reforçou que a atividade de apresentação de orixás está em plena consonância com as diretrizes educacionais brasileiras. A Lei nº 10.639, de 2003, e a Lei nº 11.645, de 2008, tornam obrigatório o ensino da história e cultura africana, afro-brasileira e indígena nas escolas do país.

A Secretaria Municipal de Educação reiterou que o trabalho apresentado pela criança integrava uma produção coletiva e que a atividade fazia parte das propostas pedagógicas da escola, estando alinhada ao Currículo da Cidade de São Paulo.

A Secretaria de Segurança Pública de São Paulo informou que a Polícia Militar instaurou uma apuração sobre a conduta da equipe policial, com análise das imagens capturadas pelas câmeras corporais. Além disso, a professora da unidade registrou um boletim de ocorrência por ameaça contra o pai da estudante.

Os policiais permaneceram na escola por mais de uma hora e deixaram o local, acompanhados do pai da aluna. Com informações da Agência Brasil

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