Desenvolvida nova espécie de amora-preta para produção de geleias e sucos

Desenvolvida com foco no processamento, a amoreira-preta BRS Ticuna chega ao mercado de frutas como opção para a produção de geleias e sucos. O tamanho do fruto é atraente aos olhos, que aliado à acidez acentuada faz com que uma cultivar ocupe um espaço para fins industriais. Um hectare pode render até 20 toneladas de frutas, o que o posiciona entre as cultivares mais produtivas e superior ao material de referência, a amoreira BRS Tupy.

A BRS Ticuna é uma cultivar de amoreira-preta (amora-preta) obtida por hibridação controlada, altamente produtiva e testada nos mais variados ambientes e sistemas de cultivo. Foi testado principalmente nos estados da Região Sul do País, o que não significa que não tenha adaptação a outras regiões.

Desde 2018, ela vem sendo avaliada pela pesquisa nos Campos de Cima da Serra, numa parceria entre a Estação Experimental de Vacaria (RS), a Embrapa Uva e Vinho e a Embrapa Clima Temperado , em Pelotas (RS). O material foi apresentado há um ano aos produtores, para que conheçam a nova cultivar e tenham acesso ao material com os parceiros já licenciados para produção de mudas.

De acordo com a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira , coordenadora do projeto que desenvolveu a nova amoreira, uma cultivar com plantas de porte ereto, frutas grandes e colheita mais tardia que a cultivar Brazos. “A sua acidez mais elevada limita a acessibilidade para o consumo in natura e a direciona para a indústria, a qual, logicamente, paga menos em comparação ao preço obtido no mercado de frutas frescas. Para compensar, é importante que uma cultivar seja altamente produtiva”, pondera.

O fato de as frutas não serem comercializadas in natura com facilidade pode estimular o produtor a plantá-la, segundo Raseira. Porém, ela acredita que, além da produtividade superior, a menor necessidade de tratamentos fitossanitários nessa cultura é capaz de compensar economicamente o fruticultor proporcionando melhor retorno.

A BRS Ticuna, como a maioria das cultivares de amora-preta, é bastante rústica, sendo necessário o controle de ferrugem e cuidados com a mosca-das-frutas (Drosophila suzukii). Um cientista relata que uma cultivar é considerada resistente a doenças.

O pesquisador Rodrigo Franzon , conta que uma nova variedade tem características semelhantes à de outra amoreira, a Brazos, bastante antiga e introduzida no estado norte-americano do Texas. “A BRS Ticuna é mais produtiva, produz frutas mais firmes e apresenta menor reversão de cor das frutas após a colheita”, compara o cientista.

O especialista revela que a maior contribuição desse material ao mercado industrial é a acidez elevada do fruto, benéfica para o processamento. “Isso diminui a necessidade de ajustar a acidez por meio de aditivos”, detalha Franzon.

De acordo com um dos produtores que testaram a cultivar de amoreira, ela se destacou pela sua produtividade. “Ela produz entre 20% a 30% a mais que as outras variedades BRS Tupi, BRS Caiguangue e BRS Guarani e tantas outras que se têm à disposição”, relata o fruticultor Roque Casset.

Oportunidade para produção orgânica
Raseira aponta oportunidades para a cultivar, como o seu direcionamento para produção de doces, principalmente geleias e chimias, sem a necessidade de adição de ácidos. “Além disso, há a possibilidade de cultivo no sistema orgânico”, reforça, assegura que uma cultivar é adequada a uma produção mais sustentável, por ser um alimento mais limpo e de maior qualidade.

A industrialização da amora é bastante utilizada devido ao baixo período de conservação da fruta, e mesmo produtores de frutas para o mercado in natura destinam parte da produção para a industrialização, em períodos de picos de safra.

O preço médio pago ao produtor varia em função da época de produção e da forma de comercialização. A indústria, dependendo da região do País, paga ao produtor entre R$ 4,50 e R$ 6 por quilo. Se uma fruta congelada esse valor varia entre R$ 8 e R$ 15; contudo, em áreas próximas a grandes centros consumidores, o valor pode chegar a até R$ 20 por quilo de amora produzido.

Amora-preta no Brasil e no mundo
Os dados referentes ao mercado de amor-preta no Brasil não são precisos. Em 2014, havia uma área plantada superior a 500 hectares (ha) e, atualmente, estima-se uma área superior a 1,2 mil ha e em expansão, de acordo com informações coletadas com os produtores do Sul e Sudeste.

A cultura está ocupando, por exemplo, áreas de altitude na Região Nordeste, como a Chapada Diamantina, na Bahia, região não tradicional de cultivo. Sua produção tem maior destaque no Rio Grande do Sul, onde também é tradicional a indústria de doces e conservas, exatamente o nicho da nova cultivar.

Não há dados atualizados sobre a produção de amor-preta no mundo. Os dados mais recentes são de 2007, segundo os quais a produção mundial de amora-preta, em 2005, ocupou 20 mil hectares, sendo 7,7 mil ha cultivados na Europa, 7,2 mil ha na América do Norte, 1,6 mil ha na América Central, 1,6 ha na América do Sul, 297 ha na Oceania e 100 ha na África.

A produção mundial, em 2005, foi de 140 mil toneladas (t), tendo como principais países produtores os Estados Unidos (31,8 mil t), o México (27 mil t), a China (26,35 t), a Sérvia (25 mil t) e Hungria (12 mil t). Com informações da Embrapa.

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