Banco de Tecidos Oculares do Hospital João XXIII promove roda de conversa sobre doação de córneas

O Banco de Tecidos Oculares (BTOC) do Hospital João XXIII (HJXXIII), da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig), promoveu roda de conversa com o objetivo de debater o processo de doação de córneas. Participaram da iniciativa, realizada em 17 de setembro, transplantados e profissionais da área da saúde de diversos hospitais e centros transplantadores da Região Metropolitana de Belo Horizonte e do interior do estado – além de profissionais do próprio BTOC e do MG Transplantes.

Na ação foram compartilhadas experiências, eventuais dificuldades e esclarecidas dúvidas sobre todo o processo de doação – desde a identificação de possíveis doadores e a abordagem da família até a documentação, o transplante em si e o pós-operatório.

“No processo de transplantes, o papel de cada um importa”, afirmou a médica oftalmologista e responsável técnica do Banco de Olhos do João XXIII, Priscila Cunha.

Médico oftalmologista e coordenador do Núcleo de Tecidos Oculares do MG Transplantes, Paulo Lener explicou que, no caso das córneas, diferentemente da doação de órgãos, o único fator que deve ser compatível entre doador e receptor é a idade. “Quanto mais jovem o receptor, mais jovem deverá ser o doador”.

Cenário
Durante o encontro, ele aproveitou para exibir gráficos com as doações captadas nos hospitais da área de abrangência do BTOC – BH e discutiu formas sobre como diminuir a fila de pessoas que aguardam por um transplante de córnea.

“Reestruturar as CIHDOTT’s (equipes responsáveis pelo processo de doação de órgãos dentro dos hospitais) é a melhor forma de captar mais doadores, especialmente os de coração parado, que há alguns anos correspondiam a 80% do número de doações em Minas. Atualmente, eles são apenas 20%, sendo 80% das doações vindas de óbitos por morte encefálica”, explicou o médico.

Segundo ele, o problema foi geral. “Em relação a essa dificuldade com as CIHDOTT’s não há culpados. Todos nós perdemos. Agora, juntos, precisamos voltar ao que era antes da pandemia, quando grande parte dessas equipes foram desestruturadas e deslocadas para outras atividades dentro dos hospitais”.

A coordenadora do BTOC do João XXIII, Deborha Pereira Silva, ressaltou a importância da iniciativa.

“A doação de córneas é um ato de solidariedade, que pode transformar a vida de pessoas que aguardam pelo transplante. Promover esse tipo de discussão permite que mais pessoas entendam o processo de doação de córneas, se sensibilizem e multipliquem as informações”, pontuou.

E ainda reforçou: “essa conscientização é fundamental para aumentar o número de doadores e, consequentemente, mais pessoas poderem ser beneficiadas com o transplante”.

Vida nova
Cristina Matias foi uma das receptoras de córnea presentes na ação. Devido ao diagnóstico de ceratocone – doença caracterizada pela deformação progressiva da curvatura da córnea, ela precisou de transplante nos dois olhos. A primeira vez, em 2009, e a segunda, mais recentemente, em 2023.

“Foi um baque quando soube que teria que transplantar. É uma espera árdua. Receber as doações foi uma libertação. Estar aqui hoje me permitiu saber quantas pessoas estão envolvidas nesse processo e ver o brilho no olhar dos profissionais com o desejo de ajudar”.

Cristina expressa gratidão aos profissionais e aos doadores e familiares. “Nos momentos mais difíceis das vidas deles tiveram uma generosidade tão genuína. Mesmo com tanta dor, eles conseguiram oferecer o bem maior e ajudar tantas pessoas. Eles me deram a possibilidade de enxergar. Isso é muito bom! É a transformação da dor em amor”, afirmou, emocionada.

Sobre a doação
A córnea é a estrutura transparente que reveste a parte da frente do olho. O transplante permite sua substituição total ou parcial em caso de perfuração ou opacificação (embaçamento), contribuindo para a recuperação da visão do receptor em mais de 90% dos casos.

O doador de tecidos oculares pode ter entre 2 e 79 anos, sendo necessário passar por uma triagem social, médica e laboratorial para definir se há alguma contraindicação à doação. Em caso de possíveis doenças infectocontagiosas detectadas, os tecidos podem ser utilizados para fins científicos, se autorizado pela família.

Paulo Lener ressalta que pacientes cegos por diabetes, glaucoma, catarata ou usuários de óculos ou lentes de contato também podem ser doadores.

“Esses e outros problemas na visão não são impedimentos para doação da córnea, já que vários deles estão localizados no fundo dos olhos e a córnea está na superfície. Na dúvida, na hora de captar um possível doador, os profissionais da área da saúde podem fazer contato com o banco de olhos para não perderem a oportunidade de uma doação”.

A retirada dos tecidos deve ser feita até 6 horas após o óbito (podendo ter o prazo estendido até 12 horas em caso de resfriamento do corpo) e é realizada com técnicas cirúrgicas, sem que a aparência do doador seja modificada.

A médica coordenadora da CIHDOTT do Hospital das Clínicas, Adriana Magalhães, ressalta a segurança de todo o processo. “Nosso sistema de doação é regulamentado e extremamente ético, responsável e confiável”.

Bancos em Minas
Minas Gerais conta com três Bancos de Tecidos Oculares credenciados pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT). Dois estaduais, da Fhemig, localizados no Hospital João XXIII, em Belo Horizonte, e no Hospital Regional João Penido, em Juiz de Fora; e outro federal, no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia. Com Agência Minas

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