Estudo indica que bactérias do trigo são capazes de controlar a mancha marrom
Pesquisadores da Embrapa Meio Ambiente (SP) e da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo ( Esalq-USP ) realizaram um estudo sobre bactérias com potencial de biocontrole contra o fungo Bipolaris sorokiniana , causador da mancha marrom em plantações de trigo e cevada. Esse microrganismo, conhecido por influência significativamente na produção desses cereais, pode agora ser batido com o uso de biocompostos desenvolvidos a partir de bactérias isoladas do próprio solo no qual o trigo é cultivado.
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Os pesquisadores investigaram uma região das raízes das plantas, a rizosfera, ambiente com microrganismos (microbioma) capaz de fornecer serviços ecológicos essenciais para as plantas, como nutrição e proteção contra doenças. “A pesquisa mostrou que, mesmo diante de uma variedade de trigo suscetível ao fungo, a inoculação de bactérias antagonistas conseguiu reduzir a incidência da doença”, contou o doutorando da USP Hélio Quevedo, autor principal do estudo.
Uma bactéria foi isolada das raízes do trigo crioulo (genótipos Karakilcik e Iran 1-29-11334). Com isso, os cientistas conseguiram resgatar bactérias que foram perdidas no processo de domesticação dessas plantas. Eles foram armazenados na Coleção de Microrganismos de Importância Agrícola e Ambiental (CMAA) e agora podem ser transformados em tecnologia como base de um insumo biológico produzido ao controle da mancha marrom.
O pesquisador da Embrapa Rodrigo Mendes, orientador do estudo, explica que as bactérias específicas foram capazes de alterar a comunidade microbiana na rizosfera, o que resultou em uma defesa eficaz contra a infecção fúngica. A equipe conseguiu identificar o perfil químico dos inoculantes e as moléculas bioativas responsáveis pelo processo de antagonismo (o combate ao fungo patógeno).
“A caracterização das biomoléculas permitiu compreender como as bactérias estavam presentes no controle do patógeno. Foram identificados diversos biossurfactantes e peptídeos antimicrobianos capazes de atuar na prevenção desses patógenos”, declara o professor da Universidade Federal do ABC ( UFABC ) Celio Fernando Figueiredo Angolini, coorientador do estudo. Ele relata ainda que, além de apresentar atividade antimicrobiana, as moléculas voláteis produzidas pelas bactérias se dispersam de maneira eficiente no solo, aumentando o seu raio de ação. Esses desdobramentos renderam ao trabalho a medalha Nico Nibbering na III Conferência Iberoamericana de Espectrometria de Massa.
O estudo também revelou que a reintrodução de bactérias benéficas, isoladas de variedades tradicionais de trigo, em plantas modernas suscetíveis à mancha marrom, pode restaurar a proteção contra a doença. Isso sugere que a domesticação das plantas pode ter efeitos benéficos na composição do microbioma da rizosfera, enfatizando a importância de se recuperar e utilizar microrganismos benéficos para o controle de doenças.
Além de analisar as alterações no microbioma e os mecanismos de defesa das plantas, uma pesquisa procurou elucidar os efeitos dos inoculantes na supressão do patógeno. Testes demonstraram que a gravidade da doença foi significativamente reduzida nas plantas tratadas com as bactérias antagonistas, em comparação com as infecções inoculadas apenas com o patógeno.
Esse avanço representa uma nova frente na luta contra doenças de plantas, combinando conhecimentos de ecologia microbiana com biotecnologia. A equipe de Quevedo e Mendes espera que essas descobertas abram caminho para o desenvolvimento de soluções sustentáveis e eficazes para o controle de patógenos em culturas agrícolas, beneficiando produtores e o meio ambiente.
Mancha marrom
A mancha marrom é uma doença causada por fungos que afeta as folhas do trigo e pode causar perdas significativas na produção.
Sintomas e identificação: Os sintomas iniciais incluem pequenas manchas amarelas nas folhas, que eventualmente se transformam em manchas necróticas com centros cinzentos e bordas marrons. Pontos pretos, que são os picnídios do fungo, podem ser observados no centro das manchas. À medida que a doença progride, pode levar à morte do tecido foliar, afetando a fotossíntese e, consequentemente, a produção de grãos.
Condições adequadas: A mancha marrom é favorecida por umidade elevada e temperaturas moderadas. A dispersão do patógeno é facilitada pela chuva e pelo vento, o que pode causar epidemias em regiões com essas condições climáticas durante a estação de crescimento.
Perdas na produção: As perdas causadas pela mancha marrom do trigo, variação de acordo com a severidade da infecção, a suscetibilidade da variedade de trigo, as condições climáticas e o manejo da cultura. Em casos graves, a doença pode reduzir o rendimento do trabalho, entre 10% e 50%, ou até mais, em casos mais severos.
Manejo e controle: O manejo integrado da mancha marrom inclui a utilização de variedades resistentes, rotações de culturas para reduzir a carga de inóculo no solo, manejo adequado de resíduos de cultura, e aplicação de fungicidas quando necessário. O monitoramento regular e a aplicação de fungicidas com base no limite de dano econômico são práticas recomendadas para minimizar as perdas.
Resistência a fungicidas: A resistência do patógeno a certos fungicidas pode ser um desafio no controle da mancha marrom. A rotação de fungicidas com diferentes modos de ação é recomendada para lidar com a resistência ao patógeno.
O impacto econômico da mancha marrom do trigo pode ser específico, especialmente em regiões propícias a condições climáticas que favorecem o desenvolvimento da doença. Assim, a adoção de práticas de manejo integradas é essencial para proteger a produção de trigo e reduzir as perdas econômicas. Com informações da Embrapa.