Novo imposto de renda promete reduzir a desigualdade e aquecer o consumo

O Projeto de Lei (PL) nº 1.087/2025, que altera as regras do Imposto de Renda (IR), aguarda a sanção do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, prevista para a próxima semana, após seu retorno da Cúpula do Clima em Belém. A medida, proposta pelo governo federal há cerca de um ano e aprovada no Congresso, visa isentar o tributo para quem recebe até R$ 5 mil mensais e, ao mesmo tempo, aumentar a taxação sobre as altas rendas, a partir de R$ 600 mil anuais.

Isenção para a base e aumento para o topo
A principal mudança estabelece a isenção total do Imposto de Renda para os trabalhadores que ganham até R$ 5 mil por mês. Além disso, haverá uma redução nas alíquotas do tributo para salários que variam entre R$ 5.000,01 e R$ 7.350. Para compensar a perda de arrecadação com essas isenções, o projeto eleva a cobrança sobre os rendimentos mais altos.

Segundo analistas, a futura lei, com potencial redistributivo, deverá impulsionar o crescimento econômico e aumentar o consumo das famílias, que ganharão uma folga orçamentária.

Economia aquecida e bolso mais cheio
Para o economista João Leme, da Consultoria Tendências, o impacto no Produto Interno Bruto (PIB) poderá ser de 0,15 a 0,2 ponto percentual. Ele compara o efeito no bolso dos trabalhadores como um “14º salário, mas distribuído todos os meses do ano”.

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), por meio do pesquisador Pedro Humberto de Carvalho, calcula que os estratos mais baixos da classe média terão à disposição um acréscimo médio mensal de R$ 350 a R$ 550. “Vai ser uma folga orçamentária considerável”, afirma Carvalho.

Impacto na inflação e nas dívidas
Apesar do otimismo, Carvalho não descarta a possibilidade de uma inflação localizada, especialmente no setor de serviços (comércio, saúde, educação e turismo), que é sensível ao aumento da renda disponível e do consequente consumo. No entanto, ele descarta um aumento vigoroso no preço dos alimentos.

Na visão de Victor Pagani, diretor técnico adjunto do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), a inflação não deve ser um problema, pois estaria “sob controle” e em processo de “desaceleração”.

Outro efeito esperado, conforme Leme, é o pagamento de dívidas por parte das famílias. O adimplemento de compromissos anteriores é apontado como uma das destinações mais prováveis para o aumento da renda. O tema da dívida é relevante, visto que, em outubro, oito a cada dez famílias brasileiras tinham alguma dívida a vencer, segundo a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic).

Justiça fiscal e debate estrutural
Para o diretor do Dieese, a medida traz um efeito altamente desejável: a diminuição da desigualdade econômica ao isentar os mais pobres e tributar os mais ricos. Ele argumenta que isso “resgata o princípio constitucional da tributação de acordo com a capacidade contributiva”.

O tributarista Bruno Medeiros Durão, especialista em finanças, considera a correção da tabela um “passo importante na direção da justiça fiscal”, mas defende que o problema do Imposto de Renda no Brasil é de justiça social e exige medidas estruturais, como a volta da tributação de lucros e dividendos.

O advogado critica a isenção sobre o rendimento de capital dos mais ricos, enquanto o trabalhador paga IR sobre o salário, ponderando que o imposto deveria incidir sobre toda a renda. Durão também defende a correção anual da tabela, o aumento do número de faixas e a criação de uma alíquota máxima mais alta para a altíssima renda, que, em sua avaliação, “hoje se esquiva de pagar o que deveria”.

Os entrevistados preveem que o tema da tributação — focando na isenção para os menores rendimentos e na taxação dos “super ricos” — será um dos pontos centrais e mais decisivos na campanha eleitoral de 2026. Com informações da Agência Brasil

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