Embrapa lança duas novas variedades de abacaxi com resistência total à fusariose
A pesquisa agropecuária brasileira alcançou um avanço crucial para a cultura do abacaxi. A Embrapa Mandioca e Fruticultura (BA) desenvolveu e lançou duas novas variedades de abacaxi — BRS Sol Bahia e BRS Diamante — que possuem resistência total à fusariose, a principal doença da cultura. Causada pelo fungo Fusarium guttiforme, a fusariose é notória por gerar prejuízos expressivos, atingindo em média 20% das plantas, podendo levar à perda total de lavouras.
A resistência genética desses novos materiais é uma vantagem inestimável para os produtores. Ela elimina a necessidade de dispendiosos fungicidas para o controle da doença, o que resulta em significativa economia de custos e promove maior sustentabilidade na produção. Além disso, garante maior segurança alimentar para os consumidores, já que os frutos são cultivados sem tratamento químico contra a fusariose.
O pesquisador Davi Junghans, líder do programa de melhoramento genético do abacaxi da Embrapa, enfatiza a superioridade dos materiais: “É resistência total, diferente de tolerância.” Ele ressalta que, diferentemente de outras doenças que apenas reduzem a produção, a fusariose pode eliminar uma plantação inteira, inviabilizando o fruto para o mercado.
Mais produtividade e qualidade superior
Além da característica principal de resistência — ausente nas principais cultivares nacionais, como Pérola e Havaiano (Smooth Cayenne) —, as novas variedades apresentam um conjunto de atributos que as tornam produtos superiores:
Sabor e Qualidade: Frutos com elevado teor de açúcares e média acidez, resultando em um sabor excelente.
Produtividade Elevada: A produtividade esperada é de cerca de 56 toneladas por hectare, o que está bem acima da média nacional, que é de aproximadamente 26 toneladas por hectare (IBGE, 2024). Essa diferença se deve justamente à eliminação das perdas causadas pela fusariose no cultivo do Pérola.
Manejo Facilitado: As plantas têm poucos espinhos nas folhas, facilitando os tratos culturais e protegendo o trabalhador.
Pós-Colheita: Os frutos demonstram maior firmeza e resistência durante o transporte, além de apresentarem maior vida de prateleira.
Os experimentos realizados em áreas como a de Frutal (MG) provaram o sucesso das cultivares: em 2023, enquanto a lavoura comercial do abacaxi Pérola sofreu com a fusariose, as plantas do experimento da Embrapa não tiveram nenhum problema com a doença.
O desafio do ponto de colheita e a multiplicação de mudas
As duas novas cultivares são consideradas “irmãos germanos” — com a mesma genealogia, resultantes do cruzamento de uma variedade da Amazônia com a cultivar Gold (MD-2).
É crucial, contudo, que o mercado entenda uma diferença fundamental no manejo: os frutos do BRS Sol Bahia e BRS Diamante são não climatéricos e devem ser colhidos no estágio colorido (com 50% a 75% da casca amarela) para garantir o melhor sabor. Se colhidos verdosos, o fruto fica ácido, ao contrário do Pérola. O pesquisador da Epamig, Daniel Angelucci, enfatiza que a resistência à fusariose é excepcional e reduz drasticamente o uso de fungicidas.
Para garantir que os produtores tenham acesso a material de plantio de alta qualidade, a Embrapa instituiu a Rede Ananás, um sistema que envolve biofábricas e “taleiros” licenciados que multiplicam as mudas em larga escala por meio da técnica de seccionamento de talo. O produtor é incentivado a buscar mudas apenas dos licenciados para assegurar a sanidade e a garantia de origem genética.
Este lançamento está alinhado ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) Número 2 da ONU — “Fome zero e agricultura sustentável” —, reforçando o papel da pesquisa na construção de uma agricultura mais autônoma e sustentável. Com informações da Assessoria de Comunicação da Embrapa


