Paraminense Benjamim de Oliveira será tema de samba enredo do Acadêmicos do Salgueiro em 2020
O Rei Negro do Picadeiro! Este é o tema do Acadêmicos do Salgueiro no carnaval carioca de 2020. Benjamim de Oliveira será o assunto de uma das principais escolas de samba do Rio de Janeiro que tenta levar no próximo ano, pela décima vez, o título de campeão do grupo especial.
Mantendo as tradições de valorizar a temática negra na Sapucaí, desde 1960 a escola já mostrou Zumbi dos Palmares e Chica da Silva, e em 2020, comemorando 150 anos do nascimento do primeiro palhaço negro do Brasil, Benjamin de Oliveira elevará o nome de Pará de Minas a outro patamar.
Uma grande festa foi realizada no domingo, 5 de maio, na quadra da escola e reuniu famosos e claro, a comunidade, que é quem faz o desfile. Com uma decoração baseada no circo, foi apresentado o enredo. Já o samba será escolhido através de uma competição, como acontece todos os anos. A sinopse foi entregue a compositores que vão disputar durante quatro sábados a partir de 7 de setembro. No dia 11 de outubro será a final e o público poderá conhecer o samba enredo do Salgueiro em 2020.
Em entrevista à imprensa carioca, o carnavalesco Alex de Souza disse que a intenção é “trabalhar algo mais lúdico, colorido, leve, mas que traga uma mensagem importante para a atualidade. Chegamos a Benjamin, personagem pouco conhecido, pouco reverenciado, mas com uma contribuição imensa para a arte”
O secretário municipal de Cultura e Comunicação Institucional Paulo Duarte e o diretor de Cultura José Roberto Teixeira estiveram no lançamento do enredo na quadra do Salgueiro.
Para o secretário uma homenagem e uma forma de levar o nome de Pará de Minas e de Benjamim de Oliveira para o mundo inteiro conhecer:
Paulo Duarte
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Além de representar o município, Paulo Duarte e José Roberto Pereira levaram até o carnavalesco Alex de Souza e ao presidente do Acadêmicos da Salgueiro André Vaz, o livro “Pará de Minas – Meu amor” que conta a história do município e também do primeiro palhaço negro do Brasil.
Além disso, foi entregue uma carta solicitando uma parceria entre Pará de Minas e a escola de samba para um intercâmbio cultural:
Paulo Duarte
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Veja a sinopse escrita pelo carnavalesco Alex de Souza e entregue aos compositores. A partir dela será escrito o samba enredo que dará vida a toda a magia do carnaval na Marquês de Sapucaí:
Nasci livre!
Sou filho do “Negro Malaquias”, sujeito danado de brabo, que caçava os “fujão” da fazenda do sinhô e da sinhá, que até eram “bão”. E minha mãe, Leandra, era cativa de estimação.
Um dia o circo chegou lá na Vila 02, eu levava broa de milho para vender na entrada; tinha uns doze anos e resolvi fugir. O picadeiro representava liberdade, sonho e fantasia. Antes que me esqueça, meu nome é Benjamim Chaves, mas meu pai me chamava de “Beijo”, “Moleque Beijo”.
Parti no Circo Sotero. Lá, a obrigação da meninada, era aprender desde cedo, todas as tarefas. Mesmo eu, que era um agregado, aprendi debaixo de castigo, a cuidar dos animais; todas as acrobacias e outras coisas mais…
“A mãe da arte de todos os números é o salto” e eu dei um salto na vida. Tem que aprender a cair, pra saber levantar.
Aprendi muito com o “Mestre Severino” e adotei seu sobrenome, agora pode me chamar de Benjamim de Oliveira. Mas entre sonho e realidade, vida de “beijo” é difícil, é difícil como o quê…E de tanto apanhar, fugi de novo. Meu destino era fugir, destino de negro…
Fui atrás de uma caravana de ciganos, mas “quá” 03, “num” é que os “ladino” 04 queriam me trocar por cavalo?
Fugi e fui pego por um fazendeiro, provei que era circense e ele me deixou seguir viagem.
E de circo em circo, substituí o palhaço principal, que estava doente, no Circo frutuoso, começando aí minha história…
A noite começava a fervilhar nas cidades grandes, eram novos tempos, teatros, café-concerto, a elite buscava o teatro sério e o “Zé Povo”, o que fosse mais ligeiro, encontrava no circo o divertimento que queriam. “Todo artista tem de ir aonde o povo está!”
Minha popularidade crescia, uma vez até o presidente, o marechal de ferro, Floriano Peixoto, por eu cantar e dançar chulas05 foi lá me cumprimentar06.
No Spinelli lancei a forma de teatro combinado com circo que chamariam pavilhão. Comédias, paródias e a arte de representar por gestos, sem palavras. Fizemos clássicos, como Otello 07; farsas, melodramas, operetas como A Viúva Alegre 08, até uma paródia de O Guarani 09, que acabou projetado nas telas, o cinema surgia na bela época10. O primeiro Momo, que seria mais tarde, a representação do “Rei da Folia”, foi pela primeira vez, representado por mim, na minha opereta fantástica O Cupido do Oriente. Assim como inúmeras peças, de minha autoria.
Fui ator, diretor, autor, produtor, dançarino, compositor, cantor (até gravei discos), e palhaço sim senhor! O PRIMEIRO PALHAÇO NEGRO DO BRASIL! E o palhaço o que é? E o que fui? Uai?! Acima de tudo: Um artista brasileiro!!!
Abram as cortinas, acendam as luzes, que o show tem que continuar! Respeitável público, minhas senhoras e meus senhores, nessa passarela/picadeiro, o meu querido Salgueiro vai apresentar: Novos Benjamins do circo, teatro, cinema e televisão, com o aplauso “d’ocês”!
Despeço-me com um “Beijo” do “Moleque” e o meu muito obrigado!!!
Alex de Souza
Carnavalesco
01 – Benjamin Chaves, (Pará de Minas, 11 de junho de 1870 — Rio de Janeiro, 3 de maio de 1954) conhecido com o nome artístico de Benjamin de Oliveira. Ele e seus irmãos nasceram livres, mesmo ele tendo nascido um ano antes da Lei do Ventre Livre, que alforriava automaticamente todos os filhos de escravos.
02- Antiga Vila do Patafufo, Cidade do Pará, que em 1921, passa a se chamar Pará de Minas, em Minas Gerais.
03- Expressão regional. “Mas quá” é usado quando você acha uma coisa estranha.
04- Ladino:Espertalhão; diz-se da pessoa astuciosa que age desonestamente.
05 – Chula – Dança popular do Norte de Portugal, de andamento vagaroso, com canto acompanhado por rabecas, violas, guitarras e percussão. No Brasil, se tornou dança típica do Sul do Brasil, introduzida por tropeiros. Dançada em desafio, praticada preferencialmente por homens. A chula tem bastante semelhança com o Lundu sapateado, encontrado em outros Estados brasileiros.
06 – É no circo do Comendador Caçamba armado em Cascadura, subúrbio carioca que o jovem palhaço chama a atenção de um inesperado espectador: o próprio presidente da República, Marechal Floriano Peixoto.
07- “Otelo, o Mouro de Veneza”, é uma obra de William Shakespeare.
08- “A Viúva Alegre” de Franz Lehár, é uma das operetas de maior sucesso da história.
09- O Guarani é um romance escrito por José de Alencar e adaptado a ópera por Carlos Gomes.
10 – A Bela Época, também conhecido por Belle Époque é um período que começou no final do século XIX e terminou com o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914. Marca o surgimento do cinema e doo telefone. “era de ouro” no âmbito cultural e científico. A França era o “coração” da Belle Époque Mundial.
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