Quase metade das brasileiras se sente desrespeitada em casa, no trabalho e nas ruas
Quase metade das mulheres no Brasil (46%) relata não ser tratada com o devido respeito no país. Essa sensação de desrespeito permeia diversos ambientes, sendo mais aguda nas vias públicas, onde 49% das entrevistadas afirmam se sentir menos respeitadas. Os dados são da 11ª Pesquisa Nacional de Violência contra a Mulher, o maior levantamento do tema realizado no país pelo DataSenado, pela Nexus e pelo Observatório da Mulher contra a Violência (OMV) do Senado.
A pesquisa ouviu mais de 20 mil mulheres em todas as regiões e seus resultados confirmam que o machismo permanece como uma regra social predominante. Marcos Ruben de Oliveira, coordenador do Instituto de Pesquisa DataSenado, ressalta a importância dos dados: “Esse acompanhamento e atualização bienal dos dados permite que a gente mensure como está e o que tem mudado no país em relação à violência contra mulheres e a percepção sobre o tema. Ou seja, é essencial para apoiar senadores e governo na hora de criar e medir o sucesso de leis e políticas públicas de proteção às mulheres”.
Percepção de machismo atinge patamar máximo
A percepção de que o Brasil é um país machista é praticamente unânime: 94% das entrevistadas em 2025 mantiveram o mesmo índice de 2023. No entanto, houve um agravamento na intensidade desse sentimento. O grupo que classifica o Brasil como muito machista saltou de 62% para 70% em apenas dois anos, o que corresponde a um aumento de 8 milhões de mulheres com uma avaliação mais crítica sobre a desigualdade de gênero.
Desde 2017, o percentual de mulheres que enxergam o Brasil como machista nunca ficou abaixo de 90%. O aumento dessa percepção coincide com o retorno da sensação de que a violência doméstica tem crescido: 79% das mulheres acreditam que esse tipo de violência se intensificou nos últimos 12 meses, retomando o maior patamar da série histórica do levantamento.
O perigo está em todos os lugares
Desde 2011, a rua é consistentemente citada como o ambiente onde o desrespeito é mais vivenciado. Embora o percentual tenha diminuído ligeiramente entre 2023 e 2025, quase metade (49%) das entrevistadas ainda considera as vias públicas o lugar de maior vulnerabilidade.
Preocupantemente, a percepção de que o desrespeito é maior dentro de casa aumentou 4 pontos percentuais, englobando cerca de 3,3 milhões de mulheres a mais que agora veem o ambiente familiar como o local mais inseguro. O ambiente de trabalho, por sua vez, mantém-se como o segundo local onde a percepção de falta de respeito é mais alta, sem alteração significativa.
Beatriz Accioly, antropóloga e líder de Políticas Públicas do Instituto Natura, comenta o cenário: “Embora seja preocupante a percepção de que as mulheres não são respeitadas no círculo social mais íntimo, aquele que, em tese, deveria ser um espaço de proteção e acolhimento, isso vai ao encontro dos números altos de violência doméstica no país. Infelizmente, não é só a rua que apresenta perigo e desrespeito, conforme demonstram nossos altos índices de feminicídio”.
Maria Teresa Prado, coordenadora do Observatório da Mulher contra a Violência no Senado Federal, complementa que a situação demonstra como “a violência contra a mulher deixa de ser um assunto restrito à esfera doméstica e passa a ser estrutural, com efeitos sociais e econômicos de longo prazo.”
Escolaridade e vulnerabilidade social
A análise dos dados por nível de escolaridade revela uma relação direta com a percepção de respeito e vulnerabilidade. Entre as mulheres não alfabetizadas, 62% afirmam que as mulheres não são tratadas com respeito, um índice muito superior ao registrado entre as que concluíram o ensino superior, onde o percentual é de 41%.
Apesar de a percepção de respeito aumentar com o nível de instrução, ela não é eliminada. Mesmo entre mulheres com diploma universitário, apenas 8% dizem que as mulheres são plenamente respeitadas.
A diretora executiva da Associação Gênero e Número, Vitória Régia da Silva, explica o impacto desse cruzamento: “O cruzamento entre escolaridade e percepção de respeito também mostra como as desigualdades educacionais se convertem em vulnerabilidade social. Mulheres com menor acesso à educação formal não apenas percebem mais situações de desrespeito, como também enfrentam maior dificuldade para denunciar ou acessar serviços de proteção”.
Variações regionais no desrespeito
O sentimento de instabilidade em relação ao tratamento social é generalizado em todo o país, embora haja variações regionais:
Sul: 53% das mulheres afirmam que “às vezes” não são tratadas com respeito (o maior índice de instabilidade).
Nordeste: Metade das entrevistadas (50%) diz que as mulheres não são respeitadas.
Sudeste: 48% afirmam que as mulheres não são respeitadas (sem diferença estatisticamente significativa do Nordeste).
Centro-Oeste: 44% relatam a falta de respeito.
Norte: 41% das entrevistadas.
Com informações da Agência Brasil


