Drones nas lavouras: uma nova fronteira para a agricultura brasileira
Os drones agrícolas estão se consolidando como uma opção promissora para agricultores e prestadores de serviço no Brasil, transformando a maneira como a pulverização de lavouras é realizada. Um novo documento, “Uso de drones agrícolas no Brasil: da pesquisa à prática“, de autoria de Rafael Moreira Soares, pesquisador da Embrapa Soja (PR), e do empresário Eugênio Passos Schröder, detalha os aspectos regulatórios, o uso da tecnologia no campo, resultados de pesquisas e exemplos práticos em diversas culturas.
A ascensão dos drones na agricultura
A presença dos drones na agricultura brasileira tem crescido em volume e diversidade de aplicações. Os modelos mais comuns são os multirrotores e os de asa fixa, ambos com motorização elétrica a bateria. Soares explica que esses equipamentos são classificados pelo peso e altura máxima de voo, e possuem uma vasta gama de hardware, software, câmeras e sensores. Isso permite a execução de diversas tarefas, como mapeamento georreferenciado, monitoramento, produção de imagens e, especificamente nos drones agrícolas, a aplicação automatizada de produtos líquidos e sólidos.
O pesquisador destaca que os drones agrícolas possuem características únicas de pulverização, situando-se como uma tecnologia intermediária entre os pulverizadores terrestres e os aviões agrícolas. Por isso, uma análise criteriosa é fundamental antes da adoção, para garantir que a tecnologia traga benefícios reais à atividade agrícola.
Embora ainda faltem dados e pesquisas para otimizar parâmetros como taxa de aplicação, velocidade, altura de voo e uniformidade das gotas, algumas vantagens inerentes à pulverização com drones são evidentes. A área está em constante evolução, com equipamentos se modernizando anualmente. Soares ressalta que é um trabalho contínuo, dada a diversidade crescente de culturas, produtos e alvos envolvidos.
Um exemplo notável de avanço tecnológico é a tendência de adoção de bicos rotativos nos principais modelos de drones, substituindo as pontas hidráulicas tradicionais. O bico rotativo utiliza um disco giratório de alta velocidade que fragmenta o líquido em gotas, permitindo controlar o tamanho delas e aumentar a uniformidade do espectro, eliminando gotas muito finas que podem causar deriva. A maioria desses bicos pode operar com uma ampla gama de tamanhos de gotas.
A complexa teia da regulamentação
No Brasil, os populares drones são oficialmente conhecidos como Veículos Aéreos Não Tripulados (Vant) ou Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARP ou RPA). Para agricultores ou prestadores de serviços com dúvidas sobre a conformidade legal, o portal do Sindicato Nacional das Empresas de Aviação Agrícola (Sindag) é uma fonte importante de informações. “É essencial estar ciente de toda a legislação vigente e atender aos requisitos para evitar problemas com órgãos de fiscalização e manter a segurança das aplicações aéreas”, afirma Soares.
Como os drones transmitem radiofrequência, precisam ser homologados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) é responsável pela regulamentação e fiscalização da aviação civil e infraestrutura aeronáutica. Já o Departamento de Controle do Espaço Aéreo (Decea) gerencia o espaço aéreo brasileiro e autoriza voos em áreas restritas.
Complementarmente, o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) estabelece regras específicas para a operação de aeronaves remotamente pilotadas destinadas à aplicação de agrotóxicos, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e sementes.
O drone como oportunidade de negócio
O lançamento de drones com tanques de 40 litros ou mais, a partir de 2022, viabilizou a pulverização de mais de 100 hectares por dia com um único equipamento, aumentando sua atratividade no campo. O investimento inicial para o agricultor que decide comprar o próprio drone tende a ser menor do que para um prestador de serviço, pois ele já pode possuir veículos para transporte e funcionários para auxiliar, além de adaptar misturadores de calda já existentes.
No entanto, o empresário Eugênio Passos Schröder alerta que montar um negócio de pulverização com drones exige um investimento que vai além do equipamento em si. É preciso considerar acessórios, veículos de apoio, estrutura administrativa e capital de giro. “Isso significa que, em um cálculo aproximado, o investimento total equivale a cerca de três vezes o valor do equipamento de drone que se pretende comprar”, calcula Schröder. Ele recomenda um planejamento financeiro detalhado e uma análise cuidadosa para determinar o investimento necessário para iniciar a prestação de serviços.
O custo para contratar um serviço de pulverização com drones varia de R$ 100,00 a R$ 400,00 por hectare, dependendo de fatores como relevo, vegetação, complexidade da operação, tecnologia utilizada, distância do local e tipo de produto. “Essa amplitude reflete fatores como dificuldade de acesso ou exigências técnicas específicas. Alguns prestadores cobram por hora de voo; outros, por serviço completo, incluindo o preparo da solução”, ressalta Schröder.
Dicas importantes para a adoção de drones agrícolas
As vantagens dos drones agrícolas incluem a remoção do operador humano da área a ser pulverizada, o que diminui riscos à saúde, a independência das condições de tráfego do solo, a ausência de compactação do solo e amassamento da cultura, o baixo consumo de água e a rastreabilidade dos dados de aplicação.
Para quem pretende adquirir um drone para uso agrícola ou iniciar um negócio de prestação de serviços, os especialistas recomendam atenção aos seguintes pontos:
Legislação: Conhecer as regulamentações nacionais, estaduais e municipais para operação de drones e pulverização de agrotóxicos.
Equipamentos: Escolher o tipo de drone, tecnologia embarcada, capacidade de carga e especificações técnicas conforme as necessidades da pulverização.
Capacitação técnica: Realizar treinamento específico para operação dos drones e aplicação correta de agrotóxicos.
Investimento financeiro: Fazer um planejamento detalhado, considerando custos de aquisição, softwares, seguros, manutenção e mão de obra. Avaliar se o drone complementará ou substituirá tecnologias já existentes.
Identificação do mercado: Analisar o mercado potencial, características das áreas, demanda por cultura, concorrência e tendências tecnológicas.
Parcerias estratégicas: Estabelecer colaborações com empresas e organizações do setor agrícola, como produtores, cooperativas e fabricantes.
Com informações da Embrapa


