Divergência entre Rio de Janeiro e São Paulo revela desafio dos mototáxis
As duas maiores cidades do Brasil, São Paulo e Rio de Janeiro, estão em lados opostos na questão do transporte de passageiros por aplicativo em motocicletas. Em São Paulo, o serviço de mototáxi foi proibido por um decreto municipal, com a prefeitura defendendo a medida devido aos riscos de acidentes e à alta letalidade das motos. O prefeito Ricardo Nunes chegou a se referir às plataformas como “assassinas” por promoverem um serviço perigoso. O governo estadual de São Paulo sancionou uma lei que dá autonomia aos municípios para regulamentar esse transporte, reforçando a decisão da prefeitura.
Em contraste, o Rio de Janeiro optou por uma abordagem diferente. O vice-prefeito Eduardo Cavalieri busca um acordo com as plataformas para uniformizar as regras e apertar o cerco contra infrações. O objetivo é criar um padrão de segurança para todos os motociclistas que trabalham nos aplicativos, já que muitos atuam em mais de uma plataforma. A prefeitura também planeja construir pontos de apoio e expandir as faixas exclusivas para motos, reconhecendo que esse tipo de transporte é a fonte de renda de muitos trabalhadores.
Mortalidade em alta e o perfil das vítimas
A preocupação com a segurança é compartilhada por especialistas. Segundo a Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet), um acidente de moto tem 17 vezes mais chances de ser fatal do que um de carro. No Rio de Janeiro, o cenário é alarmante: cerca de 80 vítimas de acidentes com motos são atendidas diariamente nos hospitais municipais.
O perfil das vítimas de acidentes de moto, segundo dados nacionais, é principalmente de homens jovens, negros, entre 20 e 39 anos e com baixa escolaridade. A maioria vive em comunidades e usa a moto para se locomover ou trabalhar, com os acidentes acontecendo com mais frequência nos horários de pico. O técnico do Ipea Erivelton Guedes, que incluiu as mortes no trânsito no Atlas da Violência 2025, considera a disseminação dos mototáxis por aplicativo uma “tragédia anunciada”, pois incentiva um transporte com riscos inerentes à vulnerabilidade dos passageiros.
Alternativas e regulamentação
O especialista em segurança viária Victor Pavarino, da Opas, sugere que, em vez de proibir, as autoridades devem desincentivar o uso da moto como única opção de mobilidade. Para ele, isso deve ser feito por meio do investimento em transporte público de qualidade e de medidas que tornem as cidades mais seguras para pedestres e ciclistas. O diretor do Sindicato dos Empregados Motociclistas do Rio de Janeiro, Alfredo Barbosa de Lima, defende a educação no trânsito, com cursos de direção defensiva e orientações específicas para passageiros, como forma de reduzir o risco de acidentes. Com informações da Agência Brasil


