“Não há Plano B” para a Terra astrofísico alerta sobre emergência climática
Com a proximidade da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, a discussão sobre o futuro do planeta ganha força no meio científico. O astrofísico Ricardo Ogando, do Centro de Tecnologia da Informação Renato Archer (MCTI), alinha-se a um movimento global de cientistas que defende a urgência em priorizar a regeneração da Terra. Segundo ele, o nosso planeta é, inequivocamente, “a nossa única opção”.
Ogando, que integra o movimento Astronomers for Planet Earth, rebate a crença futurista de que a humanidade poderá habitar um “Planeta B”, seja em um futuro próximo ou distante. Ele cita fatores científicos complexos e desafios logísticos que tornam essa visão altamente improvável.
A singularidade da Terra e a “febre” climática
Em entrevista para o podcast S.O.S! Terra Chamando!, o astrofísico explicou por que a humanidade precisa reconhecer o valor da Terra. “A Terra é especial porque é o único planeta em que há vida, segundo a conhecemos. Pelo menos, até o momento, é o que sabemos”, afirmou.
Ogando traça um paralelo entre a crise climática e a saúde, descrevendo o planeta como estando “febril” e em um processo de “inflamação”. Ele atribui a emergência climática, caracterizada pelo aumento da temperatura média global desde o início da atividade industrial, a fatores que vão afetar a todos, sobretudo as comunidades mais vulneráveis. “Vimos recentemente episódios extremos de chuvas no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro. Esse é um fenômeno que vai cada vez mais afetar vários aspectos da vida”, alerta.
Políticas públicas versus atitudes individuais
Membro do grupo de mais de 2,3 mil astrônomos e voluntários que defendem o pragmatismo e a urgência para a situação planetária, Ogando avalia que frear a degradação exige uma combinação de ações.
Embora as atitudes individuais sejam importantes para que os cidadãos se tornem ambientalmente conscientes, o cientista destaca a necessidade de intervenção estatal. “A gente precisa também de medidas públicas, de políticas efetivas que tocam nesse assunto”, afirma. Ele utiliza o exemplo do consumo de canudos de plástico para ilustrar que, sem uma regulação que ataque o problema na sua origem — a fabricação —, o problema persiste.
Desmistificando o “Planeta B”
O astrofísico concorda com a visão do colega Marcelo Gleiser, que em seu último livro classificou a Terra como um “oásis para a vida complexa”. Contudo, ele afasta a possibilidade de encontrar um planeta alternativo viável.
A busca científica por planetas habitáveis envolve uma série de fatores complexos que precisam ser conjugados, como orbitar uma estrela semelhante ao Sol e estar a uma distância que permita a existência de água líquida. “São vários fatores que você tem que conjugar para chegar a um planeta que seja habitável. Mas, ainda tem a questão de conseguir chegar lá. Ou seja, nosso planeta é algo muito extraordinário mesmo”, reitera Ogando.
Ele utiliza uma metáfora para ilustrar o cenário: “Não existe esse plano B ou Planeta B. O planeta Terra é o videogame da vida no modo fácil, e sem direito a continuar”.
Viabilidade de Marte e custos
Sobre as missões de exploração a Marte, como as da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), o astrofísico questiona a viabilidade do Planeta Vermelho como um novo lar. Ele aponta que Marte é menor que a Terra, tem uma atmosfera tênue e carece de água líquida acessível, tornando a manutenção da vida humana altamente improvável.
Ogando também pondera a questão financeira dos investimentos. Embora as pesquisas e missões a Marte envolvam bilhões de dólares, ele argumenta que é mais vantajoso cuidar da Terra. “É muito mais barato ficar na Terra e cuidar dela. Essa é uma conta fácil de fazer”, diz.
O cientista enfatiza que a exploração de outros planetas deve servir para aprofundar o entendimento sobre o funcionamento da Terra, e não como uma desculpa para fugir dela. O estudo de fenômenos em Vênus e Marte, por exemplo, ajudou a humanidade a compreender o efeito estufa e a geologia terrestre.
“A Terra está gritando muito. A Terra está pedindo muito socorro. E quem tem o poder de resolver isso precisa escutar”, conclui Ogando, pedindo que o estilo de vida e o consumo sejam regulados para evitar uma destruição desmedida do planeta. Com informações da Agência Brasil

