Nova tecnologia impulsiona pecuária com seleção de caprinos e ovinos mais produtivos

Uma iniciativa inovadora da Embrapa e seus parceiros está prestes a transformar a criação de caprinos e ovinos no Brasil. Um novo serviço, batizado de Prova de Eficiência Alimentar e Desempenho (Pead), oferece aos produtores a ferramenta necessária para identificar quais reprodutores são capazes de produzir mais, consumindo menos alimento. Essa abordagem inteligente promete não apenas reduzir drasticamente os custos operacionais – já que a alimentação representa até 75% das despesas na atividade – mas também impulsionar o melhoramento genético dos rebanhos, alinhando a produção a práticas mais sustentáveis. Os benefícios se estendem à diminuição da emissão de gases de efeito estufa e à redução de resíduos no ambiente.

Ceadoc um centro de tecnologia e precisão
O coração deste novo serviço é o recém-construído Centro de Eficiência Alimentar e Desempenho de Caprinos e Ovinos (Ceadoc), localizado na Embrapa Caprinos e Ovinos, no Ceará. Erguido com recursos de uma emenda parlamentar da bancada cearense, o Ceadoc é uma estrutura de ponta, equipada com baias, comedouros e bebedouros eletrônicos. Com capacidade para receber até 64 animais jovens por vez, o centro garantirá um monitoramento detalhado de cada indivíduo. Sensores e chips serão utilizados para registrar o consumo individual de alimentos, fornecendo dados precisos sobre a eficiência alimentar. Além disso, serão avaliadas outras características cruciais, como ganho de peso, medidas de carcaça (por meio de ultrassonografia) e indicadores de fertilidade.

Os criadores interessados deverão manifestar seu interesse e, após a definição de um calendário, inscrever seus animais para as provas. Levar seus caprinos e ovinos até a Embrapa para esses testes significa ter acesso a uma avaliação científica que apontará os indivíduos com o melhor aproveitamento de nutrientes e desempenho. O objetivo final é claro: utilizar os animais classificados como mais eficientes para elevar o potencial genético de todo o rebanho, resultando em uma produção de carne mais qualificada e rentável.

Impacto a curto e longo prazo na pecuária nacional
Olivardo Facó, pesquisador da área de Melhoramento Genético da Embrapa Caprinos e Ovinos, enfatiza os dois principais impactos desse serviço. “No curto prazo, teremos a identificação de potenciais reprodutores, o que se traduz em ganhos genéticos imediatos para os rebanhos. A médio e longo prazo, a iniciativa será um grande estímulo para a estruturação de programas de melhoramento genético mais amplos para as cadeias da ovinocultura e da caprinocultura de corte no país”, explica Facó.

O pesquisador destaca que, para alcançar um sistema de produção verdadeiramente rentável, é indispensável contar com animais que consumam menos para ganhar mais peso. Ele reforça que a busca por maior eficiência alimentar é intrinsecamente uma estratégia mais sustentável, contribuindo diretamente para a redução de resíduos e da emissão de gases de efeito estufa.

Atualmente, o Brasil figura como o maior produtor de caprinos e ovinos da América Latina, com um rebanho que soma aproximadamente 21,8 milhões de ovinos e 12,9 milhões de caprinos. No entanto, a organização dessas cadeias produtivas ainda apresenta desafios que dificultam a implementação de programas de melhoramento genético robustos. Historicamente, a seleção de material genético tem se restringido a aspectos como porte, morfologia racial ou premiações em exposições. Facó argumenta que a avaliação objetiva das características de eficiência produtiva, por meio de metodologias científicas como as oferecidas pela Pead, é o caminho para identificar animais geneticamente superiores. “O ideal é investir na seleção de animais de forma objetiva, visando obter animais mais produtivos”, pontua.

Precisão no monitoramento individual
A estrutura do Ceadoc foi cuidadosamente projetada para aprimorar a precisão na identificação de características que podem ser transmitidas às próximas gerações. Cada uma das quatro baias pode abrigar até 16 animais e é equipada com comedouros, bebedouros e balanças automatizadas da fabricante Ponta-Integrado. O sistema automatizado reconhece os animais por meio de brincos eletrônicos (chips), permitindo determinar o consumo individual de água e alimento, além da frequência com que visitam os cochos e bebedouros.

“O diferencial do Ceadoc é a capacidade de avaliar a eficiência alimentar individual de um grande número de animais. Métodos tradicionais exigiriam análises em baias individuais ou gaiolas metabólicas, o que elevaria custos e mão de obra, além de tirar os animais do seu comportamento natural em lotes”, esclarece Facó.

Um dos objetivos futuros da pesquisa é desvendar a arquitetura genética de raças locais em relação à eficiência alimentar e desenvolver equações de predição genômica para essa característica. O Ceadoc é uma das poucas estruturas na América Latina dedicadas à avaliação de desempenho com foco em eficiência alimentar para pequenos ruminantes, juntamente com o Instituto de Zootecnia (SP) no Brasil e o Instituto Nacional de Investigación Agropecuaria (INIA) no Uruguai.

Benefícios em cascata para o setor produtivo
A zootecnista Luciana Guedes, coordenadora de pesquisa do Centro Universitário INTA (Uninta) e parceira da Embrapa, avalia que a Prova de Eficiência Alimentar e Desempenho é uma perspectiva inovadora para o setor produtivo. “Integrar esses dados aos programas de melhoramento genético potencializa o ganho genético na característica, disseminando-a de forma consistente nas próximas gerações dos rebanhos. Isso gera linhagens mais produtivas e rentáveis, fortalece a competitividade do setor, reduz custos de produção e promove sistemas pecuários mais sustentáveis, alinhados às demandas de mercado e à preservação ambiental. Em suma, será possível multiplicar no rebanho nacional a característica da eficiência alimentar”, salienta Guedes.

A pesquisadora reforça que a seleção de animais eficientes, que convertem melhor o alimento em carne ou leite, traz vantagens diretas ao campo. “Ao adotar essa estratégia, o produtor reduz o custo com insumos alimentares sem comprometer a produtividade, além de contribuir para a sustentabilidade, com menor pressão sobre recursos naturais e menor emissão de gases de efeito estufa por quilo de carne ou litro de leite produzido”, frisa.

Facó explica que a eficiência alimentar pode ser otimizada de duas maneiras: pela manipulação da dieta, ajustando os nutrientes à demanda real dos animais, ou pelo melhoramento genético, selecionando os indivíduos mais eficientes. Ele observa que, embora a seleção genética exija um trabalho de médio a longo prazo, a identificação de reprodutores jovens superiores nas provas pode trazer resultados de curto prazo. A meta é que material genético comprovado cientificamente esteja acessível aos criadores, consolidando a eficiência alimentar como um indicador fundamental.

É crucial, segundo Facó, diferenciar eficiência alimentar de conversão alimentar. Enquanto a conversão mede quanto o animal consumiu para ganhar um quilo de peso, essa métrica pode levar à seleção de animais de grande porte, elevando custos de manutenção e não sendo positiva a longo prazo. A eficiência alimentar, por outro lado, busca a otimização do aproveitamento dos nutrientes sem necessariamente associar a um tamanho maior do animal.

Parcerias para expandir o alcance
O serviço da Pead será oferecido a produtores de todo o Brasil, com provas de avaliação de desempenho em que animais de diferentes rebanhos podem participar sob condições semelhantes. Essa modalidade fomenta a pesquisa em parceria com o setor produtivo. Diálogos já estão estabelecidos com a Associação Brasileira de Criadores de Ovinos (ARCO) e a Associação Brasileira de Criadores de Caprinos (ABCC) para mobilizar criadores, além da colaboração com a empresa de nutrição animal Integral Mix.

Edemundo Gressler, presidente da ARCO, vê o serviço como uma “ferramenta extraordinária para consolidar o melhoramento de raças envolvidas. Dará oportunidade de aquisição de animais melhoradores, que possam transferir aos seus descendentes essa qualidade fundamental”. A ARCO se comprometeu a articular a participação dos criadores nas provas do Ceadoc. Pedro Martins, presidente da ABCC e da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos no Ministério da Agricultura, também demonstrou interesse em indicar criadores, visando “pavimentar oportunidades e ações que venham a contribuir e melhorar a base do nosso setor da caprinocultura”.

Detalhes do serviço e próximos passos
As provas de eficiência alimentar e avaliação de desempenho terão duração total de 70 a 90 dias. Durante esse período, os animais serão alocados nas baias do Ceadoc, recebendo alimentação padronizada. Serão observados indicadores de consumo de alimentos e água, e a relação com o ganho de peso. Além disso, serão realizadas ultrassonografias para medir a área de olho de lombo e a espessura de gordura subcutânea, perímetro escrotal (relacionado à fertilidade) e escores visuais para conformação, tipo racial e aprumos.

As provas serão realizadas com animais machos jovens, entre 90 e 150 dias de idade, com um mínimo de 32 e um máximo de 64 animais por prova. Ao final de cada ciclo, haverá um evento para a divulgação dos resultados. A estrutura do Ceadoc já passou por testes internos com o rebanho da Embrapa, que resultaram na seleção de sete reprodutores de desempenho superior, disponibilizados para venda pública em agosto. Com informações da Assessoria de Comunicação da Embrapa

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