Da floresta ao mercado o novo caminho das farinhas locais da Amazônia
Uma iniciativa que une ciência e saberes ancestrais está transformando a produção de farinhas em comunidades quilombolas no Pará. Com o apoio da Embrapa, o Projeto Quirera auxiliou agricultores a profissionalizarem a produção de farinhas de cará, araruta, banana e outros ingredientes regionais, abrindo novas oportunidades de mercado e gerando renda sem a necessidade de desmatamento.
O nascimento de uma inovação social
O Projeto Quirera, a primeira iniciativa de inovação social da Embrapa no Pará, foi desenvolvido em parceria com a Rede Bragantina de Saberes e Sabores, um coletivo que reúne agricultores e associações da região. O projeto se baseia em uma abordagem que respeita e incorpora o conhecimento local para o desenvolvimento de soluções técnicas. O resultado mais visível foi a modernização das agroindústrias comunitárias, que agora produzem até quatro vezes mais farinha com maior qualidade e menos desperdício.
Com a inovação, farinhas sem glúten, como as de cará, banana, pupunha e tucumã, voltaram a ser produzidas. Essas farinhas, que antes eram consumidas apenas no âmbito doméstico, agora atendem a um nicho de mercado diferenciado, são mais nutritivas e podem ser usadas para fazer pães, bolos e shakes.
Melhorias no processo de produção
O projeto trouxe avanços significativos para a produção artesanal. A secagem, antes feita ao sol e suscetível à umidade, passou a ser realizada em secadores elétricos adaptados e estufas fechadas. O corte manual foi substituído por máquinas, e as perdas foram reduzidas pela metade. As adaptações foram feitas com equipamentos de baixo custo e de fácil manutenção, como ventiladores e resistências de fritadeiras elétricas. As melhorias não só aumentaram a produtividade e a qualidade do produto, mas também trouxeram mais segurança sanitária para os alimentos.
A pesquisadora da Embrapa Laura Abreu destaca que o sucesso do projeto se deve ao fato de a comunidade ter sido tratada como parceira desde o início. A iniciativa também contribui para o resgate de alimentos que estavam em risco de desaparecer, como o cará e a araruta.
Modelo que inspira
Para a Embrapa, o projeto Quirera representa uma nova forma de fazer ciência, que valoriza a cultura local e busca soluções acessíveis e replicáveis. Segundo Laura Abreu, o sucesso na região Bragantina pode inspirar a replicação do modelo em outros territórios tradicionais da Amazônia. A iniciativa mostra que é possível produzir com tecnologia, gerando renda e dignidade, ao mesmo tempo em que se protege a floresta. Com informações da Assessoria de Comunicação da Embrapa


