Ao perceber que o uso de redes sociais está causando sofrimento, procure ajuda
“Eu passei pessoalmente por um problema seríssimo, um episódio de cancelamento público, e posso afirmar que é uma situação desesperadora. Tenho a sorte de ter uma estrutura familiar e uma rede de amigos que me apoiou e servir de blindagem para grande parte dos pensamentos negativos que vem à cabeça em momentos de desespero, como o que eu passei”, relata o empresário Fábio Benedetti, que conta com mais de 150 mil seguidores no Instagram.
Ele relata que teve seu nome envolvido em uma polêmica que gerou grande repercussão anos atrás e foi muito difícil lidar com as críticas e acusações.
O Brasil é o terceiro país que mais consome redes sociais em todo o mundo, segundo levantamento da agência Comscore. São 156 milhões de brasileiros conectados à rede mundial de computadores. Para ilustrar, são quase 7,5 vezes a população de Minas Gerais ou cerca de 2.328 estádios do Mineirão lotados.
A pesquisa Digital Brazil 2023, aponta que a população brasileira acessa por quase quatro horas por dia as mídias sociais, seja para manter contato com amigos e família (54%) seja para leitura de notícias ou busca por produtos (44,4%).
Tanta exposição à vida digital, com o consumo e distribuição massivos de conteúdo e a baixa privacidade ofertada pelas redes, pode influenciar de diversas formas o comportamento dos usuários e afetar também sua saúde mental.
A experiência de Benedetti trouxe a ele uma percepção diferenciada do uso das mídias sociais. “O que é desumano são as ameaças de morte recebidas. Eu torço muito para ninguém mais passar perto do que eu e várias outras pessoas passaram e passam, pois é uma forma doentia de se lidar com assuntos e jamais será a solução. Meu conselho é utilizar as redes sociais como passatempo, uma diversão, e, como qualquer outra coisa, se tiver te fazendo mal, largar”, alerta.
Ele, que também apresenta um programa diário no YouTube, garante que saber lidar com o público é uma habilidade essencial. “No começo, eu estava mais suscetível às críticas e aos elogios. Só quando entendi que essa é uma interação superficial é que parei de levar tudo aquilo a sério”, declara.
Redes sociais e adolescentes
O psicólogo clínico Pedro Couto estuda o impacto das plataformas digitais para o público adolescente. “Muitas vezes, esses jovens idealizam a vida de celebridades ou influenciadores. Outra questão observada é que, na maior parte das vezes, as mídias sociais ignoram ou negligenciam emoções aversivas, como tristeza, ansiedade ou medo, criando uma ideia de que esses sentimentos não existem”, pontua.
“O desejo de imitar certos perfis, somado à imaturidade e dificuldade em se regular emocionalmente, muitas vezes gera sofrimento e acaba por estabelecer uma ruptura com sua própria identidade”, ressalta o profissional.
Contudo, Couto também mostra benefícios das plataformas digitais para os adolescentes. “Uma rede social pode ser uma ferramenta importante para auxiliar jovens a interagir socialmente, possibilitando que participem de grupos e se comuniquem com mais assertividade, principalmente no ambiente escolar. Temos exemplos, ainda, de adolescentes que utilizam essas mesmas redes como forma de se autorregular ou desenvolver repertório, seja se comunicando com amigos no WhatsApp para confirmar as atividades ministradas numa aula ou estudar para uma prova buscando conteúdo no Youtube”, explica.
Rede de Apoio Psicossocial
A coordenadora de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), Taynara de Paula, explica como proceder caso o internauta sinta-se vulnerável e afetado nas mídias sociais ou os pais percebam alterações de comportamento nos filhos.
“Independentemente da origem do sofrimento, é importante buscar ajuda na Unidade Básica de Saúde mais próxima de casa. Caso seja vítima de crime, é fundamental que a pessoa procure a delegacia de crimes virtuais ou o local mais próximo para fazer um boletim de ocorrência”, orienta a coordenadora.
Ela ressalta o papel estratégico da Rede de Apoio Psicossocial. “Além das Unidades Básicas de Saúde, que são a porta de entrada do usuário no Sistema Único de Saúde (SUS), em caso de sofrimento intenso, crise em saúde mental ou ainda possibilidade de que a pessoa ofereça riscos a si ou terceiros, a orientação é procurar o Centro de Apoio Psicossocial (Caps) mais próximo ou uma Unidade de Pronto Atendimento”, explica.
“Os Centro de Apoio Psicossociais (Caps) estão estruturados para atendimento multidisciplinar e de forma territorializada, ou seja, o mais próximo possível do usuário. Nesse sentido, a Secretaria de Estado de Saúde possui política estruturante para acompanhamento em diversos níveis, além do fornecimento de medicamentos, caso necessário”, salienta Taynara de Paula.
Minas Gerais conta com 424 Centros de Atenção Psicossocial, de diversas modalidades, sendo I, II ou III, de acordo com a população do município (até 15 mil, 70 mil ou mais 150 mil habitantes, respectivamente), infanto-juvenil e AD (especialista em atendimento contra o álcool e outras drogas), compostos por equipe multiprofissional, médico-psiquiatra, psicólogo, terapeuta ocupacional, enfermeiro, entre outros. Além disso, o estado conta também com 606 leitos de saúde mental nos Hospitais Gerais.
Em 2023, a Secretaria de Estado de Saúde investiu R$ 123 milhões da Rede de Atenção Psicossocial em todo estado, sendo R$ 15 milhões na Atenção Primária para o fortalecimento das Equipes Complementares de Saúde Psicossocial, das Equipes de Atenção Residencial de Caráter Transitório e das Equipes de Consultório na Rua; R$ 97 milhões para os Centros de Atenção Psicossocial e Serviços Residenciais Terapêuticos; e R$ 11 milhões em leitos de saúde mental nos Hospitais Gerais e no serviço hospitalar às pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de álcool e outras drogas. Com informações da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.