Captura e posse irresponsável ameaçam a vida selvagem brasileira
A beleza e a natureza dócil de aves como a ararajuba (Guaruba guarouba), com sua plumagem vibrante em amarelo e verde, as tornam um alvo fácil para a captura ilegal e o tráfico de animais silvestres. Esses pássaros, que existem exclusivamente no Brasil em uma área restrita, são um exemplo dos riscos que a interação humana indevida impõe à fauna.
No Parque do Utinga, em Belém, duas ararajubas, um casal, aguardam em um aviário a possibilidade de serem reintroduzidas na natureza pelo Projeto Ararajuba. Contudo, o biólogo de campo Marcelo Rodrigues explica que isso pode não acontecer. “Algumas delas têm origens complicadas de apreensões e acabam ficando mansas, não voam perfeitamente e têm comportamentos que são incompatíveis com a vida livre”, detalha. A proximidade humana, mesmo que bem-intencionada, pode inviabilizar a reabilitação, pois é crucial que as aves se desacostumem da presença humana para evitar a recaptura. Durante o período de reabilitação, elas são alimentadas apenas com frutos nativos, para simular o ambiente natural.
Tráfico de animais: um problema global e uma nova ameaça digital
Essas ararajubas são vítimas de um problema global: o tráfico de animais silvestres. Um relatório global sobre Crimes contra Espécies Silvestres indicou que, entre 2015 e 2021, cerca de 13 milhões de espécimes da fauna e flora foram afetados em 162 países. Marcelo Oliveira, especialista em conservação do WWF-Brasil, destaca que a ciência tem evidenciado o declínio das populações de animais silvestres há décadas. “As espécies de fauna são fundamentais para manutenção das florestas, rios, campos e outros ambientes que garantem a segurança climática do planeta. A retirada de animais e seu ‘encarceramento’ fora de seu ambiente natural contribui para esse processo”, explica.
O Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Reníbíveis (Ibama) alertou para uma nova e crescente ameaça: a exposição de animais silvestres em redes sociais. Muitos animais são retirados de seus habitats naturais devido à prática de jovens que buscam postar fotos de espécies incomuns. Graciele Gracicleide Braga, coordenadora-geral de Gestão e Monitoramento do Uso da Fauna e da Biodiversidade Aquática do Ibama, esclarece: “A juventude brasileira, especialmente a geração conectada às redes sociais, é hoje o principal público consumidor de animais silvestres como bichos de estimação. Esses jovens, em busca de originalidade e visibilidade digital, são atraídos por espécies exóticas”.
Esforços de conservação e conscientização
A ararajuba, por exemplo, é uma espécie classificada como em perigo de extinção. Além de projetos como o de Belém, que visam restabelecer a população dessas aves em regiões onde foram extintas, os centros de Triagem de Animais Silvestres do Ibama informaram que, somente em 2023, mais de 30 mil animais silvestres de diversas espécies foram soltos após passarem por reabilitação.
Para sensibilizar a população sobre os impactos negativos da exposição de animais em ambientes domésticos, o Ibama e o WWF-Brasil lançaram a campanha “Se não é livre, eu não curto”. Bráulio Dias, diretor do Departamento de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, enfatizou que a exposição desses animais em contextos domésticos alimenta a demanda por espécies da fauna brasileira, impulsionando o tráfico e intensificando os danos à biodiversidade. “É fundamental promover a diferenciação entre animais silvestres e domesticados e reforçar que o bem-estar da fauna está diretamente relacionado à sua permanência em habitat natural”, afirmou.
Além da campanha, o Ibama oferece um canal para denúncias anônimas de práticas ilegais, a Linha Verde, que pode ser acessada gratuitamente pelo número 0800 061 8080. Com informações da Agência Brasil


