Desigualdade climática: ricos poluem 400 vezes mais e esgotam o limite global de carbono

Um novo relatório alarmante da organização global Oxfam, intitulado Saque Climático: como poucos poderosos estão levando o planeta ao colapso, revela a profunda disparidade na responsabilidade pela crise climática. A análise aponta que o 0,1% mais rico da população mundial emite, em média, 400 vezes mais gases do efeito estufa do que a metade mais pobre do planeta.

Consumo insustentável e esgotamento do “orçamento de carbono”
Os dados do estudo mostram que um indivíduo do grupo mais rico emite cerca de 800 quilos de gás carbônico equivalente (CO₂e) por dia. Em contraste, uma pessoa do grupo de menor poder aquisitivo emite, em média, apenas dois quilos diários. A Oxfam alerta que o 0,1% mais rico intensificou sua participação nas emissões globais em 32% desde 1990, enquanto a parcela da metade mais pobre do mundo caiu 3%.

Baseando-se nos cálculos do Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (IPCC), que estabeleceu uma margem de 1.149 Gigatoneladas (Gt) de CO₂e para manter o aquecimento global em 1,5°C (meta do Acordo de Paris), o relatório traz um alerta sombrio: 89% desse “orçamento de carbono” já foi consumido desde 1990.

A diretora-executiva da Oxfam Brasil, Viviana Santiago, reforça a necessidade de responsabilização. “Quando a gente fala que o princípio das responsabilidades comuns, porém diferenciadas é o que deve iluminar a atuação dos países na crise climática, isso também tem a ver com o nosso modo de vida enquanto conjunto da sociedade”, disse ela.

Estilo de vida e investimentos destrutivos
Os pesquisadores destacaram que a manutenção do aquecimento global abaixo de 1,5°C exige uma mudança radical. Eles calcularam que a parcela 0,1% mais rica da população precisa reduzir suas emissões individuais em 99% até 2030.

A responsabilidade dos mais ricos é evidente: se toda a população global adotasse o mesmo padrão de emissão do 0,1% mais rico, o limite seguro de carbono seria consumido em menos de três semanas. Viviana Santiago explica que “o próprio estilo de vida, e também a maneira como elas geram suas riquezas e consomem está completamente relacionada com a emissão de carbono”.

Além do consumo direto, os investimentos financeiros dos mais ricos são um grande motor da crise climática. O estudo aponta que 60% das aplicações de capital dessa minoria são feitas em atividades econômicas de alta emissão, como mineração, gás e petróleo. Um bilionário médio, por exemplo, é responsável por emitir 1,9 milhão de toneladas de CO₂e anualmente apenas por meio de seus investimentos.

Poder e influência nos acordos globais
O relatório também critica como a influência financeira dos mais ricos se traduz em poder decisório, inclusive em espaços cruciais como a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP).

A Oxfam citou o caso da COP29 (2024), onde 1.773 pessoas ligadas aos setores de carvão, gás e petróleo receberam credenciamento. Essa delegação era maior do que a soma dos representantes dos 10 países mais vulneráveis ao clima. “A gente percebe como esse poder e essa riqueza, de potenciais poluidores e que constroem a crise climática, também estão nesses espaços onde o mundo tenta construir acordos para pausar o aquecimento global”, reforça a diretora-executiva.

Em conclusão, Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional, sintetizou o problema: “A crise climática é uma crise de desigualdade. Os indivíduos mais ricos do planeta financiam e lucram com a destruição do clima, enquanto a maioria da população mundial paga o preço das consequências fatais do seu poder sem controle”.

O relatório recomenda medidas como a taxação de super-ricos, a limitação da sua atuação em ambientes de incidência política e a melhor distribuição do orçamento climático. Com informações da Agência Brasil

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