Estudo revela que Brasil lidera fake news sobre vacinas na América Latina

Uma pesquisa recente aponta que o Brasil é o país com maior volume de desinformação sobre vacinas na América Latina, concentrando 40% desse tipo de material que circula na rede social Telegram. O alto volume de fake news é apontado como um dos principais fatores que impactam negativamente a adesão da população às campanhas de imunização no país.

O mapa da desinformação na região
O estudo, intitulado “Desinformação Antivacina na América Latina e no Caribe”, mapeou 81 milhões de mensagens postadas entre 2016 e 2025 em 1.785 comunidades de teorias da conspiração do Telegram, abrangendo 18 países da região.

O levantamento, elaborado pelo Laboratório de Estudos sobre Desordem Informacional e Políticas Públicas (DesinfoPop) da Fundação Getulio Vargas (FGV), mostrou que o Brasil lidera tanto o volume de mensagens quanto o número de usuários ativos em grupos de conspiração sobre imunização.

O país é responsável por mais de 580 mil conteúdos falsos ou com desinformação sobre vacinas.

Outros países com alto volume de desinformação incluem:
Colômbia, com 125,8 mil mensagens falsas.

Peru, com 113 mil.

Chile, com 100 mil publicações com conteúdos falsos.

Razões para a liderança brasileira
Segundo Ergon Cugler, coordenador e pesquisador do DesinfoPop/FGV, a proeminência do Brasil neste ranking se deve à falta de regulamentação do ambiente digital e à polarização social.

“Temos um ambiente digital ainda pouco regulado, com plataformas que lucram com o engajamento por meio do medo. Temos também uma sociedade polarizada, o que cria um terreno fértil para o discurso conspiratório”, explicou o coordenador.

Cugler enfatiza que a desinformação se tornou um mercado lucrativo, operando como um “funil de vendas”. Inicialmente, ela espalha o medo com alegações falsas e, em seguida, vende supostas “curas”, como terapias, cursos e produtos milagrosos.

Alegações falsas e “antídotos” perigosos
As teorias conspiratórias identificadas no estudo visam plantar medo e dúvida, minando a confiança na ciência, muitas vezes usando jargões científicos para dar uma aparência de seriedade, mas sem qualquer embasamento.

Entre as alegações falsas mais disseminadas, destacam-se:

Vacina provoca morte súbita (mencionada em 15,7% das mensagens).

Vacina altera o DNA de quem a toma (8,2% das mensagens).

Falsas menções de que a vacina provoca Aids (4,3%), envenenamento (4,1%) ou câncer (2,9%).

Os grupos também promovem falsos “antídotos”, misturando pseudociência, espiritualidade e consumo. Algumas alegações incluíam a necessidade de ficar descalço no solo para “limpar energias” (2,2%) ou a compra de dióxido de cloro (1,5%) e outras substâncias químicas.

O Ministério da Saúde alerta que essas informações são “totalmente erradas” e podem causar graves danos à saúde, inclusive a morte. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) classifica o dióxido de cloro como saneante (usado para desinfecção e higienização) e alerta que a substância é altamente tóxica, reativa e pode levar a graves riscos.

Pico da desinformação durante a pandemia
O volume de conteúdos falsos sobre vacinas atingiu seu ponto máximo durante a pandemia de covid-19. O DesinfoPop/FGV registrou um aumento de 689,4 vezes nas postagens de comunidades conspiratórias entre 2019 e 2021, saltando de 794 posts em 2019 para 547.389 em 2021.

Embora o volume tenha diminuído após o pico, a situação ainda é preocupante: em 2025, os conteúdos antivacina ainda circulam 122,5 vezes mais do que em 2019.

O coordenador Cugler orienta a população a sempre desconfiar de conteúdos que apelam para a emoção ou o medo e a checar a fonte. Ele recomenda buscar sempre informações em fontes oficiais, de saúde pública ou de jornalismo profissional, e conversar com profissionais de saúde.

Para auxiliar a população, o Ministério da Saúde lançou o programa Saúde com Ciência, uma iniciativa de defesa da vacinação e de combate à desinformação, que disponibiliza informações confiáveis e permite o envio de dúvidas para a equipe da pasta. Com informações da Agência Brasil

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