Informalidade e desigualdade desafiam as mulheres que sustentam o campo no Brasil

A Organização das Nações Unidas (ONU) emitiu nesta semana uma declaração destacando o papel essencial dessas trabalhadoras para as comunidades, a proteção ambiental e o desenvolvimento sustentável. A ONU Mulheres apelou por ações mais vigorosas dos governos para promover a igualdade e o empoderamento feminino nas áreas rurais.

Apesar de serem motoras de movimentos coletivos por mudanças, a organização alerta que as áreas rurais estão entre as mais afetadas pela pobreza extrema e pela insegurança alimentar, atingindo majoritariamente mulheres e meninas. A ONU projeta que, se as tendências atuais persistirem, 351 milhões de mulheres e meninas ainda estarão em situação de extrema pobreza até 2030.

Informalidade e disparidade salarial no Brasil
No Brasil, os dados do último Censo Agropecuário (2017) reforçam o alerta da ONU. As mulheres representam cerca de 30% da força de trabalho rural e são líderes em 20% dos empreendimentos no campo.

Contudo, a auditora-fiscal Alessandra Bambirra aponta que, mesmo desempenhando atividades essenciais, muitas trabalhadoras rurais não têm seus direitos garantidos. Quase metade desse grupo (48%) não possui vínculo formal de trabalho, o que impede o acesso a direitos básicos como licença-maternidade e aposentadoria.

A desigualdade salarial também é evidente, com as mulheres ganhando 20% menos que os homens em funções equivalentes. Elas ainda enfrentam a dupla jornada, o acesso restrito a crédito e a políticas públicas, além da falta de infraestrutura e da exposição a agrotóxicos nas propriedades.

Políticas e exemplos de protagonismo feminino
O Ministério das Mulheres reforçou seu compromisso com a autonomia econômica das mulheres do campo, destacando a atuação do Fórum Nacional Permanente de Enfrentamento à Violência Contra as Mulheres do Campo, da Floresta e das Águas.

Em outro exemplo de apoio, o Projeto Rural Sustentável (PRS), que atua nos biomas Amazônia e Cerrado para fortalecer cadeias produtivas e a autonomia financeira feminina, mostra o potencial dessas trabalhadoras. Mais de 1.500 mulheres já foram beneficiadas pelo projeto, que faz parte de uma cooperação técnica com o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Sônia Maria de Abreu, produtora de Perolândia (GO), ilustra os desafios. Ela cultiva soja, milho, banana, laranja e mandioca, mas destaca as “barreiras” na hora de comercializar e o acesso ao crédito rural. Sônia revelou que foi sua persistência que permitiu obter o crédito após três anos de tentativas do marido, enfatizando a necessidade de maior valorização feminina no campo.

Na Amazônia, Ediana Capich, produtora de café robusta em Rondônia, representa a terceira geração familiar no cultivo. Ela participa de todas as etapas da produção e comemora o fato de conseguir se sustentar com a sua dedicação, mas ainda busca o reconhecimento do valor de seu trabalho: “Temos habilidades e visão com mais precisão, somos dedicadas e isso traz bons resultados. Mas ainda desejo que nosso trabalho tenha o valor correspondente à altura da dedicação que realizamos”. Com informações da Agência Brasil

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