Consumidor quer higiene e preço na hora da comprar carne, além de saber a origem do produto

O que mais importa na hora de decidir comprar carne no supermercado? Preço, condições de higiene, impacto ambiental, bem-estar animal? Para tentar entender qual é a percepção das pessoas consumidoras sobre o consumo de carne, o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec) encomendou uma extensa pesquisa sobre o tema, incluindo também o tema dos alimentos feitos à base de plantas para substituir a carne, os chamados plant-based. A pesquisa inédita foi realizada pelo Instituto Locomotiva em agosto de 2023, e ouviu mil pessoas nas cinco regiões do Brasil. Todas elas com 18 anos ou mais, sendo 58% dos entrevistados da classe C e a maioria residente de alguma capital brasileira.

Dentre os principais resultados, destaca-se o interesse do consumidor em saber o que come: 9 em cada 10 pessoas afirmaram que as informações do rótulo/embalagem são levadas em consideração para escolher um alimento e, entre os que costumam comprar carne, 86% procuram informações sobre a origem desses produtos. Ainda entre os compradores de carne, 95% disseram que a origem deste alimento seria levada em consideração na hora da compra se tivesse essa informação no rótulo/embalagem. No entanto, ainda não há legislação que obrigue essa informação nos produtos.

Outro dado importante da pesquisa é que, apesar do interesse em saber o que se come, o que realmente é mais importante na hora de decidir pela compra ou não da carne são as condições de higiene tanto da carne (34%) quanto do local de venda (20%). O preço foi o terceiro ponto relevante, citado por 16% dos entrevistados como o mais importante.

Por outro lado, apenas 4% dos participantes consideram que o mais importante é como os animais são tratados e 2% consideraram o impacto da agricultura e da produção de carne nas mudanças climáticas.

A coordenadora do programa de Alimentação Saudável e Sustentável do Instituto, Laís Amaral, reforça que o Guia Alimentar para a População Brasileira enfatiza a importância da manutenção da cultura alimentar do país, que inclui a carne. O que não significa que devemos ignorar seu consumo excessivo e a forma como ela chega à mesa. “O Guia também aponta a necessidade de pensarmos a sustentabilidade da produção de alimentos, é essa a reflexão que queremos fazer. E como o consumidor pode realmente ter informações de que aquele produto que ele consome não é resultado de desmatamento, por exemplo”, explica Amaral.

Mais da metade dos entrevistados, 56%, disse não ter acesso a informações precisas e confiáveis sobre as consequências da produção da carne e dos laticínios nas mudanças climáticas. Além disso, 78% dos respondentes reconhecem que a criação de gado e processamento da carne e dos laticínios traz impacto negativo nas mudanças climáticas, mas somente 2% apontam que essa é a principal atividade na geração desse problema.

“O que o estudo evidencia é que, para a maioria das pessoas consumidoras, não está nítida a relação direta entre a produção e o consumo de carne e a crise climática”, disse Julia Catão, especialista do programa de Consumo Sustentável do Idec. Segundo monitoramento do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), atividades como o cultivo de bovinos; tratamento, armazenamento e disposição dos dejetos animais gerados pela produção agropecuária; o uso de agrotóxicos sintéticos nitrogenados e a queima de combustíveis na agropecuária são responsáveis por 73,7% dos gases de efeito estufa (GEE) emitidos no país.

“A pesquisa foi realizada justamente para entender os hábitos e as percepções dos consumidores e, a partir disso, pensarmos em políticas públicas que promovam a alimentação saudável e sustentável”, completa a coordenadora do programa de Alimentação Saudável do Idec.

Plant-based, o falso saudável
Pensando também em entender como a população tem tido acesso a produtos vendidos como possíveis substitutos da carne, foram elaboradas questões sobre os plant-based. Os resultados mostraram que 35% já consumiram algum produto plant-based ou à base de plantas, sendo que 1% afirma que consome esses produtos com frequência.

Quanto aos motivos de consumi-los, 88% daqueles que consomem esses produtos afirmam que levam em consideração as informações sobre sustentabilidade e saúde existentes em suas embalagens/rótulos. Entre os entrevistados que conhecem algum produto plant-based, 51% os consideram mais saudáveis que a carne, sendo que 30% os consideram muito mais saudáveis.

“Essa é nossa preocupação com os plant-based. Eles são vendidos como mais saudáveis e mais sustentáveis mas, na verdade, a grande maioria também são produtos ultraprocessados, ou seja, aqueles que o Guia Alimentar recomenda que sejam evitados”, explica a coordenadora do programa de Alimentação do Idec.

E, apesar de o consumo frequente dos plant-based ainda ser pequeno, existe uma crescente na oferta desses produtos.

“Precisamos pensar nos sistemas alimentares de forma completa. O consumidor tem manifestado seu interesse de ter mais detalhes sobre o produto que está adquirindo, especialmente relacionado a um tema tão contemporâneo/atual como o das mudanças climáticas. Por isso, é muito importante – além de ser um direito – dar informação cada vez mais adequada ao cidadão para que ele possa fazer escolhas mais conscientes, saudáveis e sustentáveis”, conclui Amaral. Com informações da Assessoria de Comunicação do Instituto de Defesa de Consumidores.

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