Alimentação escolar no mundo precisa de mais qualidade e foco nutricional

Um novo relatório da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), divulgado em setembro, aponta que, embora quase metade das crianças globalmente receba alimentação escolar, a qualidade e o valor nutricional dessas refeições ainda são insuficientes. A organização faz um apelo para que os países priorizem o fornecimento de refeições balanceadas, elaboradas com alimentos frescos e acompanhadas de ações de educação alimentar.

O documento, intitulado “Educação e nutrição: aprender a comer bem”, destaca o papel estratégico da alimentação escolar, que pode elevar em até 9% as matrículas e em 8% a frequência dos estudantes, além de impulsionar o desempenho pedagógico.

Falta de monitoramento e a crise da obesidade
O estudo alerta para a relação direta entre a falta de monitoramento nutricional e o aumento da obesidade infantil, que mais que dobrou desde 1990, em um cenário de crescente insegurança alimentar mundial.

Em 2022, a pesquisa, realizada em parceria com o Consórcio de Pesquisa para Saúde e Nutrição Escolar, revelou dados preocupantes: quase um terço das refeições oferecidas nas escolas foi planejado sem a participação de nutricionistas.

Além disso, apenas 93 dos 187 países avaliados possuíam normas para regulamentar os alimentos nas escolas, e somente 65% desses países controlavam a venda de produtos em cantinas e máquinas automáticas.

Lorena Carvalho, oficial de projetos do setor de educação da Unesco no Brasil, enfatiza que a melhoria da oferta passa pela valorização da agricultura familiar e da cultura local. “É uma questão de identidade regional, de valorização do pequeno agricultor, de manter o recurso na comunidade e fazer a economia circular na região. Tudo isso com base em uma alimentação saudável”, afirma.

Exemplos de sucesso e a urgência da fiscalização
O relatório menciona o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do Brasil como um modelo, especialmente por sua restrição ao uso de ultraprocessados. No entanto, a Unesco sugere a necessidade de maior fiscalização do poder público para garantir o cumprimento das diretrizes.

Lorena Carvalho aponta que a legislação brasileira já limita a alta incidência desses alimentos. A dificuldade, em parte, reside no fato de que produtos ultraprocessados “são mais fáceis de conservar. Eles têm validade maior. Então, o risco de estragar na cantina é menor”, o que pode influenciar algumas secretarias a investirem seus próprios recursos em vez de usar exclusivamente os recursos do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

Outras iniciativas positivas citadas incluem:
A inclusão de vegetais, leite e ovos em escolas rurais da China, que melhorou a ingestão de nutrientes e a frequência escolar.

O programa de alimentação na Nigéria baseado na produção local, resultando em um aumento de 20% nas matrículas do ensino primário.

A introdução de milheto fortificado em refeições na Índia, que aprimorou a atenção e a memória de adolescentes.

Recomendações e próximos passos
A Unesco recomenda que os governos priorizem a aquisição de alimentos frescos e locais, diminuam a oferta de ultraprocessados e insiram a educação alimentar nos currículos escolares.

Para apoiar essa transição, a organização planeja lançar, ainda em 2025, ferramentas práticas e programas de formação para gestores públicos e educadores. O relatório faz parte do Monitoramento Global da Educação (GEM), que acompanha o progresso dos países em relação ao Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS 4), que trata da educação de qualidade. Com informações da Agência Brasil

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