Intoxicação por metanol é diferente do abuso de álcool; conheça os sinais

Embora sejam quimicamente similares, o metanol e o etanol – o álcool comum das bebidas – possuem dinâmicas de degradação e riscos completamente diferentes para a saúde humana. Enquanto o consumo excessivo de etanol pode levar à dependência e a doenças no fígado e em outros órgãos, a intoxicação por metanol é extremamente perigosa, podendo causar danos permanentes ou até mesmo a morte em doses baixas. Especialistas destacam que é crucial saber diferenciar os sinais de alerta, visto que o metanol é metabolizado de forma lenta e produz substâncias altamente tóxicas.

A produção silenciosa de veneno celular
A grande distinção entre as duas substâncias está na maneira como são processadas pelo corpo. O etanol é convertido pelo fígado em acetaldeído, que é tóxico, mas geralmente manejável e transformado em ácido acético (vinagre). Já o metanol segue um caminho semelhante, mas resulta em formaldeído, que é então transformado em ácido fórmico.

O problema é que o metabolismo do ácido fórmico em água e gás carbônico, que depende do ácido fólico, é muito lento. Esse atraso provoca o acúmulo da substância nos órgãos, sobrecarregando inicialmente o sistema nervoso, em especial o nervo óptico. Esse acúmulo é o que desencadeia um dos sinais mais característicos da intoxicação por metanol: as alterações na visão, que podem variar de visão turva e névoa visual a cegueira temporária ou permanente.

Cegueira e asfixia celular: os piores cenários
O quadro mais grave é de uma intoxicação severa, onde a alta concentração de ácido fórmico sobrecarrega o metabolismo intracelular, afetando diretamente as mitocôndrias. O neurocirurgião André Meireles Borba explica que as mitocôndrias são as usinas de energia das células. Ao ser desequilibrado pelo metabólito do metanol, o processo de produção de energia é interrompido.

O formaldeído, segundo o médico, age como se “grudasse” no citocromo – uma parte essencial desse motor celular –, comparando o efeito a “encher o pistão do motor de um carro com água”. Na prática, o metanol provoca uma espécie de asfixia em nível celular. A partir de um certo ponto, a incapacidade das células de produzir energia se torna irreversível, o que é extremamente difícil de tratar.

Como identificar a intoxicação por metanol
A principal diferença na manifestação dos sintomas é o melhor indicativo para identificar uma possível contaminação por metanol.

O etanol gera desconforto e impactos de forma rápida. Em contraste, os sintomas do metanol demoram a aparecer, pois a substância é metabolizada lentamente. A oftalmologista Hanna Flávia Gomes, do CBV-Hospital de Olhos do Distrito Federal, informa que os sinais iniciais surgem, em média, de 12 a 14 horas após a ingestão e tendem a se agravar com o tempo.

Os sintomas variam e nem sempre se manifestam todos ao mesmo tempo ou em ordem, incluindo:

Dores de cabeça, náuseas e vômitos;

Dores abdominais;

Confusão mental;

Visão turva repentina, cegueira, névoa visual ou intolerância à luz.

O neurocirurgião André Meireles Borba alerta: “Mesmo que você tenha ingerido álcool, se horas depois da ingestão você começar a sentir sintomas que sejam diferentes dos habituais, especialmente se envolvem a alteração da parte visual, deve haver alguma preocupação. Especialmente se os sintomas, em vez de diminuírem, forem piorando ao longo das horas.”

Tratamento e a urgência do atendimento médico
A urgência no atendimento é fundamental, pois doses a partir de 10 ml de metanol já podem causar cegueira. Especialistas alertam veementemente para que não se tente soluções caseiras, uma vez que a situação piora rapidamente com o acúmulo da toxina.

O tratamento hospitalar envolve o uso de corretores de acidez (como bicarbonato), vitaminas (como ácido fólico) e antídotos, como o etanol venoso. Em casos severos, pode ser necessária a hemodiálise.

A orientação unânime é procurar imediatamente serviços de urgência e emergência próximos. As unidades de saúde estão aptas a realizar a triagem e diferenciar os tipos de intoxicação, ativando as redes de referência para um atendimento rápido e adequado. Com informações da Agência Brasil