Pesquisador identifica compostos de animais marinhos e plantas que matam parasita da doença de Chagas

O Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde (SES) de São Paulo, lembra neste domingo (14), o Dia Mundial da Doença de Chagas, com uma notícia promissora para os avanços no tratamento da doença. O farmacêutico e pesquisador do instituto, André Tempone, que se dedica ao estudo do tema há 20 anos, identificou compostos de animais marinhos e plantas que conseguem matar o parasita transmissor da doença.

Uma das moléculas mais promissoras foi encontrada no coral-sol (gênero Tubastraea), espécie invasora que vem se disseminando por toda a costa brasileira desde a década de 1980 e ameaçando os corais nativos. O animal foi coletado em São Sebastião, litoral norte de São Paulo. “Nós extraímos seus compostos químicos e fomos isolando um por um, até chegar naquele que possui atividade contra o protozoário”, conta o pesquisador. O trabalho foi publicado em 2022 na revista ACS Omega e deve ajudar a desenvolver medicamentos mais potentes no futuro.

O composto natural isolado foi testado em células e mostrou seletividade para o parasita, matando somente as células infectadas sem afetar as saudáveis. Agora, em colaboração com a Universidade de Oxford, os cientistas trabalham na síntese da molécula (desenvolvimento em laboratório) para eliminar a necessidade de extraí-la do coral, e futuramente devem testá-la em animais.

Além das investigações com animais marinhos, Tempone também descreveu, em colaboração com a Universidade Federal do ABC, uma molécula encontrada na planta brasileira canela-amarela (Nectandra barbellata) que eliminou o Trypanosoma cruzi em testes in vitro. “O grupo da Universidade de Oxford fez a síntese da substância e seus derivados, e já passamos de uma centena de derivados melhorados. A molécula natural circulava no sangue de animais por apenas três minutos; com as modificações, ela agora age por 21 horas”, destaca o cientista.

Transmitida pelo barbeiro infectado com o Trypanosoma cruzi, a doença de Chagas é silenciosa e costuma demorar para ser diagnosticada – mais de 90% dos pacientes levam anos para descobrir a infecção. O problema é que o tratamento funciona melhor no início da infecção; em estágio avançado fica mais difícil eliminar o parasita. Por isso, além do controle do vetor, a busca por novas terapias é fundamental. Atualmente existe apenas um fármaco disponível para o tratamento da doença, que apesar de melhorar o quadro, não elimina o protozoário.

Sequelas graves da doença
Endêmica em 21 países das Américas, a enfermidade faz parte de um grupo de doenças tropicais negligenciadas (DTN) que colocam em risco cerca de 1,7 bilhão de pessoas no mundo todos os anos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Uma das sequelas mais graves, que acomete 30% dos infectados, é o aumento do coração e insuficiência cardíaca, decorrente de uma inflamação crônica no músculo do coração. Também podem ocorrer problemas digestivos, como dilatação do intestino e do esôfago. Essas complicações costumam levar anos para acontecer.

A fase inicial da infecção pode ser assintomática ou causar febre prolongada (mais de 7 dias), dor de cabeça, fraqueza intensa e inchaço no rosto e nas pernas. Em caso de picada do barbeiro, pode surgir uma lesão semelhante a um furúnculo.

Além da picada, o parasita também pode ser transmitido por alimentos contaminados, mais comumente caldo de cana e açaí in natura, que podem conter restos de fezes do animal. Gestantes infectadas podem transmitir ao bebê.

O risco é maior para pessoas que residem em casas de estuque, taipa, sapê, pau a pique, madeira, entre outras estruturas que permitam a proliferação de insetos em frestas. O barbeiro também pode ser encontrado na mata, escondido em ninhos de pássaros, tocas de animais, cascas de tronco de árvores, montes de lenha e embaixo de pedras. Com informações da Assessoria de Comunicação do Instituto Butantan.

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