Covid-19 longa: quatro anos depois, pacientes infectados no início da pandemia mantêm acompanhamento constante
Em 11 de março de 2020, a covid-19 foi caracterizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma pandemia. Poucos meses depois, o advogado Guilherme Kovalski, então com 35 anos, precisou ser internado devido à doença. Ele deu entrada no hospital em 28 de julho e passou quase sete meses na UTI do Hospital São Marcelino Champagnat, em Curitiba (PR). Foi somente em 21 de fevereiro de 2021 que ele pôde retornar para casa. Durante meses, ele ficou sedado, entubado e dependente de aparelhos para respirar. Foi um período de muita angústia, preocupação e nervosismo para ele e para a família.
Ao chegar em casa, Guilherme enfrentou mais um desafio: foi necessário reaprender a viver. Ele precisou readaptar-se às tarefas do dia a dia, como se alimentar por conta própria, tomar banho e fazer pequenas caminhadas. “Minha saúde ficou muito debilitada. Tive muitas sequelas, como neuropatias no pé, perdi alguns movimentos, precisei fazer diversos tratamentos com vitaminas e fiquei um pouco imunossuprimido”, relembra.
Três anos depois de receber alta hospitalar, Guilherme ainda convive com as sequelas da covid longa. Por isso, ele faz acompanhamento frequente com médicos de diversas especialidades, incluindo infectologistas, nefrologistas, ortopedistas, pneumologistas, cirurgiões vasculares e endocrinologistas. “Hoje, sinto que a cada dia estou me recuperando um pouco mais. Cada dia é uma luta diferente. Há dias melhores, em que as sequelas não me atrapalham, e há dias em que as doenças me afetam mais, mas cada dia é a luta para sobreviver, não dá pra desanimar”, desabafa.
Identificação da covid longa
Também conhecida como pós-covid, a condição é reconhecida pela OMS desde outubro de 2021. Ela ocorre com maior frequência em pacientes que tiveram quadros mais graves da covid-19, mas pode ser diagnosticada mesmo em pessoas que nunca testaram positivo para a doença (quando a infecção pelo vírus ocorre, mas não chega a ser percebida pelo paciente).
Os sintomas da covid longa podem durar semanas, meses ou até anos, podendo cessar e retornar novamente. “São vários os indícios. Os mais comuns são: fadiga incapacitante, falta de ar ou dificuldade para respirar (sintomas que pioram após esforço físico ou mental), tosse persistente e dor no peito. Também pode ocorrer febre, dificuldade de concentração, depressão, ansiedade, dor nas articulações, problemas para dormir e mudanças no ciclo menstrual”, explica a infectologista do Hospital São Marcelino Champagnat, Camila Ahrens.
A médica pondera que nem sempre é fácil diagnosticar pacientes com pós-covid, mas o importante é manter a rotina de acompanhamento com profissionais de saúde. “Se os sintomas persistem por três meses ou mais após a infecção, é preciso procurar um médico de confiança. Quando o profissional conhece bem o histórico de saúde do paciente, fica mais fácil fazer diagnóstico. Mas o paciente é sempre o protagonista. Ele sabe o que muda no decorrer do tempo e quais sintomas não são comuns. A conversa franca com o médico e o detalhamento do que está sentindo contribuem consideravelmente para o melhor atendimento”, complementa.
Prevenção e tratamento
A melhor maneira de prevenir a condição é evitar o contato com o vírus que causa a covid-19. Estudos sugerem, ainda, que a vacinação é aliada nessa prevenção. Pesquisas demonstraram que pessoas infectadas pelo vírus, mas que foram imunizadas, tiveram menos casos reportados de pós-covid em comparação com pessoas não vacinadas.
Já o tratamento da covid longa vai depender dos sintomas apresentados pelos pacientes. Pode haver necessidade de acompanhamento com pneumologista, em casos de fadiga ou dificuldades respiratórias; ortopedista, quando há problemas nas articulações; e nefrologista, para avaliar dificuldades renais, por exemplo. Um estudo realizado pela USP e pela Escola Paulista de Medicina, em 2021, mostrou que 36% dos pacientes que tiveram sintomas graves de covid-19 acabaram desenvolvendo lesão renal aguda (LRA). “Essa condição corresponde à diminuição rápida da função dos rins, que são os órgãos responsáveis por filtrar resíduos tóxicos do sangue”, explica o nefrologista do Hospital São Marcelino Champagnat, Rafael Weissheimer.
Pacientes que ficaram internados em situação mais grave normalmente recebem recomendação para acompanhamento com nefrologista. “Não são raros os casos de pessoas que passaram semanas no hospital e hoje precisam de hemodiálise ou, principalmente, acompanhamento nefrológico regularmente pela sequela deixada pelo vírus. O ideal é contar com a análise do especialista, mas alguns sintomas acendem o alerta: excesso ou ausência de urina, presença de sangue ou muita espuma na urina e inchaços, especialmente nos pés e tornozelos”, orienta o nefrologista. Com informações da Assessoria de Comunicação do Hospital São Marcelino Champagnat.