Resíduo da agroindústria de polpa de goiaba pode ser utilizado na alimentação de tambaqui
A eliminação da agroindústria de polpa de goiaba pode substituir parcialmente o milho na formulação de ração para juvenis de tambaqui (Colossoma macropomum). A substituição pode ser realizada em até 75%. Com esse nível, pesquisadores da Embrapa Amazônia Ocidental (AM) consideram que a facilidade do descarte da goiaba foi positiva e complexa com alguns outros produtos não planejados para a espécie, como o sorgo de baixo e alto tanino, a torta residual da extração do óleo de sacha-inchi e o feijão-caupi.
A busca por fontes vegetais não convencionais para a composição das rações para o tambaqui já foi realizada por diversos pesquisadores no intuito de encontrar alternativas aos ingredientes tradicionais: milho, farelo e óleo de soja, que são caros para os produtores de ração do Amazonas.
O tambaqui possui excepcional para o aproveitamento de fontes de origem vegetal, inclusive o que não é casual, entretanto, muitas dessas pesquisas esbarram em situações nas quais a produção desses ingredientes alternativos não atende às fábricas de ração locais, especialmente devido à quantidade, muitas vezes insuficiente, para a produção comercial; outros possuem sazonalidade de produção, não abastecendo as fábricas durante todo o ano; e em outros casos não possuem qualidade nutricional adequada para substituir as commodities (milho, farelo e óleo de soja).
Os resultados desse estudo estão publicados no Boletim de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa, de agosto de 2023, intitulado “Uso do Resíduo da Agroindústria de Polpa de Goiaba na Alimentação de Juvenis de Tambaqui ”, de autoria dos pesquisadores Jony Dairiki e Cheila Boijink, da Embrapa Amazônia Ocidental, em parceria com Amanda Silva (bolsista de iniciação científica), Francisco Simão (mestrando em aquicultura), Lorena Lanka Silva (mestranda em aquicultura) e Leonardo Takahashi (professor da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – Unesp).
O pesquisador Jony Dairiki explica que, no ensaio com a eliminação da agroindústria de polpa de goiaba, a fonte é que esse ingrediente não convencional pode atender a todos os quesitos oferecidos anteriormente, pois é oriundo de uma agroindústria que tem quantidade, escala de produção e, principalmente, qualidade nutricional.
Uma das deficiências encontradas no produto está relacionada com o elevado nível de fibra bruta, que pode ter proporcionado um ganho de peso inferior nos peixes alimentados com 100% de substituição. Nessa situação, um melhor equilíbrio da ração, aliado à diminuição da fibra oriunda de outras fontes vegetais da formulação, como, por exemplo, o farelo de soja, poderia potencializar o uso da eliminação da agroindústria de polpa de goiaba.
Economia circular e menor custo para piscicultores
Vale ressaltar que as fibras alimentares são resistentes à hidrólise enzimática intestinal, com penetração microbiana completa ou parcial no intestino grosso dos peixes. Em alguns casos, se a fibra fornecida para insolúvel, pode aumentar a velocidade do trânsito gastrointestinal, reduzir o tempo de digestão dos nutrientes e, consequentemente, sua absorção.
Segundo o pesquisador, a aceitabilidade das rações com níveis crescentes de destruição da agroindústria de polpa de goiaba foi positiva. Com exceção do ganho de peso, não houve diferença significativa nas demais variáveis demonstradas, comprovando a possibilidade da substituição parcial em até 75% do milho pela eliminação da agroindústria de polpa de goiaba. Pode-se recomendar o uso dessa eliminação como um modelo de economia circular na alimentação do tambaqui.
O Amazonas possui uma dependência de ingredientes convencionais oriundos de outras localidades, os quais são encarecidos pelo frete e têm seu custo repassado aos piscicultores quando adquirem a ração. Dessa forma, a proposição de economia circular por meio do aproveitamento de subprodutos gerados pela agroindústria estadual é uma alternativa interessante para reduzir o problema. O objetivo desse trabalho foi avaliar a substituição do milho, em 0% (controle), 25%, 50%, 75% e 100%, pelo exclusão da agroindústria de polpa de goiaba na nutrição de juvenis de tambaqui. Os animais foram alimentados durante 60 dias com rações experimentais em duas refeições diárias até a saciedade aparente.
O tambaqui é uma espécie onívora, ou seja, consome na natureza alimentos de origem vegetal, como frutos e sementes, e alimentos de origem animal, como insetos, zooplâncton, e caramujos, entre outros. Essa característica torna o tambaqui uma espécie facilmente adaptável à alimentação com base em rações completas, especialmente com o uso de ingredientes vegetais.
Uso de ingredientes não convencionais
Uma das linhas de pesquisa desenvolvidas pela Embrapa Amazônia Ocidental há mais de uma década avalia o uso de ingredientes não intencionalmente no intuito de diminuir a dependência dos ingredientes intencionalmente: farelo e o óleo de soja, além do milho, na composição das rações para peixes comerciais no estado do Amazonas, como o próprio tambaqui e o matrinxã (Brycon amazonicus), outra espécie de peixe amazônico.
Os principais resultados obtidos nessas pesquisas indicam a possibilidade de inclusão e substituição dos ingredientes convencionais por feijão-caupi (Vigna unguiculata); sacha inchi (Plukenetia volubilis) e seus subprodutos (farelo de folhas e torta residual da proteção do óleo), uma planta amazônica rica em ácidos graxos do tipo ômega 3, cuja inclusão propiciou a incorporação desses ácidos na carcaça e no filé, comprovando a agregação de valor nutricional ao pescado; e os resultados obtidos na bananicultura (farelo de folhas, coração e engaço), que podem propiciar desempenho zootécnico atrelado ao controle de parasitas.
Fontes alternativas para composição de rações
Outras pesquisas sobre o uso de ingredientes convencionais com menor escala de utilização no Amazonas, como o fermento de cana-de-açúcar, o sorgo de baixo tanino e o sorgo de alto tanino revelaram que esses produtos podem compor rações para tambaqui e matrinxã, propiciando, além da diminuição do custo da ração, o controle de parasitas como o acantocéfalo e as monogêneas de brânquias. Todos esses resultados estimularam a produção massiva de fontes alternativas para a composição de rações levadas à recuperação do protagonismo do estado na produção de peixes comerciais nativos.
Dados da Associação Brasileira de Piscicultura (Peixe BR) apontam que o Amazonas ocupa atualmente a quinta posição entre os maiores produtores de peixes nativos do Brasil.
Nesse trabalho, o conceito de economia circular foi proposto à utilização racional de recursos, de tal forma que os resíduos da agroindústria de polpa de goiaba possam ser utilizados como insumos para a fabricação de novos produtos, nesse caso, rações para tambaqui.
Parceiros na pesquisa
Para a realização da pesquisa, a Embrapa fez uma parceria com as empresas Amazônia Polpas e Nalto Polpas, que cederam os resíduos de goiaba, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” Unesp (Campus Jaboticabal) , Universidade Nilton Lins (Uninilton Lins), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam), e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), pela concessão de bolsas de iniciação científica e mestrado, e pelo apoio financeiro com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) no projeto “Nutrição para a Produção Sustentável de Tambaqui: Tolerância aos Carboidratos, Efeito Poupador de proteína e Uso de Alimentos Alternativos”, liderado pelo pesquisador Jony Dairiki. Com informações da Embrapa.