Estudo aponta que mais de um milhão de mineiros estão acima do peso
“Eu era uma criança que as pessoas na escola já não ficavam muito perto. A dificuldade de fazer amigos era muito grande. Outras crianças falavam: ‘ôh gordo, baleia, saco de banha’. É uma coisa que machuca quem ainda é criança”. Essa é a imagem que Carlos Willian, de 29 anos, tem da infância. Ele foi o primeiro participante da versão brasileira de um reality show sobre obesidade, que estreou neste mês de maio. O programa retrata pessoas com obesidade mórbida tentando perder peso para conseguirem mais qualidade de vida.
Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), obesidade é definida como excesso de gordura corporal que pode prejudicar a saúde.
A Pesquisa Nacional de Saúde, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), indica que a obesidade, doença crônica que mais cresce no mundo, é uma condição de caráter multifatorial, que já atinge cerca de 41,2 milhões de adultos no Brasil – 25,9% da população.
Obesidade em Minas Gerais
Um estudo realizado pela Rede para Enfrentamento da Obesidade e Doenças Crônicas em Minas Gerais (Renob-MG), o Mapa da Obesidade em Minas Gerais, aponta que, somados, o número de adultos que apresentam excesso de peso ou obesidade no estado é de 1.719.678 pessoas. O levantamento teve como base quase dois milhões de adultos que possuíam dados de acompanhamento do estado nutricional na Atenção Primária da Saúde (APS) em 2019, conforme registros no Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SIVAN).
Cerca de 1.183.283 de pessoas apresentaram excesso de peso – Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou maior que 25 kg/m² – e 536.392 mil pessoas apresentaram obesidade – IMC igual ou maior que 30,0 kg/m2. Além disso, a prevalência de excesso de peso foi maior entre as mulheres que entre os homens. O IMC é calculado dividindo o peso (em kg) pela altura ao quadrado (em metros), de acordo com a seguinte fórmula: IMC = peso / (altura x altura).
O percentual de mulheres avaliadas no estudo que apresentaram excesso de peso foi de 63,3%. Entre os homens, o percentual é menor: 56,9%. O quadro se mantém em relação à obesidade. Cerca de 30,3% das mulheres têm a doença. Já entre os homens, o percentual cai para 20,1%.
Quando a única saída é mudar o estilo de vida
O Mapa da Obesidade é um apanhado espacial, temporal e de gravidade da obesidade em adultos atendidos na Atenção Primária à Saúde (APS) do Estado, com base em dados obtidos no SIVAN, referentes aos anos de 2008 a 2019.
Katiuscia Freitas, moradora de Divinópolis, chegou a pesar 122 kg e um dia precisou chamar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para ser retirada do próprio carro. “Aquilo ali foi muito humilhante pra mim. Eu acho que eu cheguei no ápice. Tinha que criar vergonha na cara e mudar meu estilo de vida”, desabafa. Depois do choque de realidade, Katiuscia correu atrás do prejuízo e perdeu aproximadamente 50 kg.
“Já quase não saia para baladas, para passear, nada disso. Eu estava muito limitada. Limitação de não encontrar roupa, de não me sentir bem, de ter dores na coluna”, lamenta.
Além da reeducação alimentar, prática de atividade física e alimentação saudável, Katiuscia passou por uma cirurgia bariátrica. O procedimento é disponibilizado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Ações do Governo de Minas
O Governo de Minas criou, em 2016, a Política Estadual de Promoção à Saúde do Estado de Minas Gerais (Poeps), com o intuito de estabelecer mecanismos para a redução da vulnerabilidade e das desigualdades. Segundo a referência técnica da Superintendência Regional de Saúde de Juiz de Fora, Ana Cláudia Figueiredo, a Poeps atualmente conta com oito indicadores. “Desses oito indicadores, quatro possuem estreita relação com as ações de prevenção da obesidade”, ressalta Ana Cláudia.
Os indicadores são: média do número de participantes das atividades coletivas em atividade física e práticas corporais oferecidas pelo município; número de atividades coletivas de educação em saúde voltadas para à promoção da saúde; percentual da população atendida nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) com registros dos formulários de marcadores de consumo alimentar; e percentual de acompanhamento do estado nutricional da população.
Segundo a coordenadora do Núcleo de Atenção Primária da Superintendência Regional de Saúde (SRS) de Juiz de Fora, Thaís Soranço, em 2023 os municípios da SRS participaram do projeto Rede para Enfrentamento da Obesidade e Doenças Crônicas em Minas Gerais (RENOB-MG). Iniciado em 2018, o projeto é desenvolvido pela Universidade Federal de Viçosa (UFV), com apoio do Ministério da Saúde (MS), Governo de Minas Gerais, entre outras instituições.
“O objetivo do projeto é promover a utilização das boas práticas referentes ao Modelo de Excelência em Gestão Pública (MEGP) para o enfrentamento e controle de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) em municípios com alta prevalência no estado de Minas Gerais, no âmbito da Atenção Primária à Saúde (APS).”, explica Thaís Soranço.
Renob – Rede para Enfrentamento da Obesidade
Concebida no Instituto de Políticas Públicas e Desenvolvimento Sustentável da Universidade Federal de Viçosa (IPPDS/UFV), município do território da SRS Ponte Nova, com o apoio de diversos órgãos, entre eles o Ministério da Saúde (MS) e a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), a Rede para Enfrentamento da Obesidade e Doenças Crônicas em Minas Gerais é uma iniciativa em âmbito estadual que realiza estudo da obesidade e das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como hipertensão e diabetes.
A coordenadora geral do Renob-MG, Helen Hermana Miranda Hermsdorff, destaca que o projeto, iniciado em 2018, busca desenvolver ações de diagnóstico, capacitação, gestão, avaliação e monitoramento para a construção da rede de atenção nutricional para controle da obesidade em Minas Gerais.
“A realidade de Minas Gerais não é diferente do resto do país. Há um crescente aumento da obesidade em todas as regiões, até mesmo no semiárido, o que é muito preocupante”, observa Helen Hermana.
A Renob-MG desenvolveu três eixos de atuação. O primeiro é a formação diferenciada de profissionais e gestores da Atenção Primária à Saúde (APS); o segundo está ligado à pesquisa e à análise diagnóstica; e o terceiro eixo envolve a comunicação e a mobilização social como ferramentas de disseminação de conhecimentos acerca do tema junto à população. Com informações da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.