Dispositivos eletrônicos para fumar são a porta de entrada para o tabagismo
A indústria do tabaco dispõe de diversas estratégias para que o consumo de nicotina não acabe. No auge da indústria cinematográfica o ato de fumar demonstrava poder, elegância e sedução. Porém, os avanços da ciência transformaram a realidade e agora as organizações têm novas táticas para que a comercialização do tabaco continue. Segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA), os fabricantes fornecem: preço baixo, uso de aditivos palatáveis e doces que influenciam o uso e encantam os jovens.
Os Dispositivos Eletrônicos para Fumar (DEFs) são aparelhos que funcionam com bateria e podem apresentar, por exemplo, o formato de cigarros, canetas e pen drives. Alguns deles contêm aditivos com sabores, substâncias tóxicas e nicotina, que é a droga que causa a dependência, conforme descreve o INCA.
Os DEFs surgiram em 2003 no Brasil, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Desde 2006 é proibida a importação, comercialização e propaganda no país. Em abril deste ano, o órgão reafirmou o posicionamento quanto ao risco dos vapes e pods, dois tipos de DEFs, para a saúde pública. Além disso, o órgão acrescentou na Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 885/2024 que o uso é proibido em locais fechados, públicos ou privados.
Estudos divulgados pelo INCA neste mês de maio, demonstraram que os dispositivos introduzem as pessoas ao tabagismo, contribuem para o vício em nicotina e causa a doença pulmonar grave e aguda, EVALI, que pode levar a óbito.
Tabagismo entre adolescente e jovens adultos e o uso de DEFs
No Brasil há 2,2 milhões de usuários de DEFs, segundo pesquisa do instituto de Inteligência em Pesquisa e Consultoria e Estratégica (Ipec) realizada em 2022. É o caso da estudante universitária B.G., de 24 anos, que começou a fumar aos 19 anos, antes de entrar na graduação. “Comecei a usar cigarro de palha por influência de amigos, nas festas e para socializar.” Segundo ela, o período que fumou com maior frequência o cigarro de palha foi em 2023, e neste período a estudante intercalava o tabaco de costume com o ‘pod’.
Ao perceber que estava usando em excesso o cigarro de palha, B.G. decidiu que iria parar de fumar: “Quando eu decidi parar com o paiero, eu comecei a usar o pod constantemente. O cheiro do dispositivo era mais atrativo que o do cigarro de palha, que era forte”. Para a universitária, a diferença que sentiu no corpo era que o DEFs deixava o peito pesado e dificultava a respiração. “Conforme foi passando o tempo, eu comecei a ter problemas para respirar, em seguida tive uma infecção das vias respiratórias e fiquei 20 dias tomando antibiótico. Foi assim que decidi largar o pod e qualquer fumo, para preservar minha saúde”.
Prevenção e tratamento ao tabagismo
Neste ano, no Dia Mundial Sem Tabaco, que é 31 de maio, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG) trabalha o seguinte tema, “Tabagismo: Cancele essa ideia”. A campanha pretende orientar principalmente jovens que, além de usarem cigarros convencionais, agora são seduzidos também pelos dispositivos eletrônicos.
Para José Domingos Prado Silva, referência técnica em promoção à saúde da Superintendência Regional de Saúde de Uberlândia, a Campanha está acontecendo em várias Unidades Básicas de Saúde (UBS) e em escolas, com o Programa Saúde na Escola (PSE). “As ações de prevenção e combate para o tabagismo acontecem o ano inteiro, mas em maio intensificamos devido ao Dia Mundial Sem Tabaco. É importante lembrar que a sensibilização não fica restrita às áreas escolares e de saúde, há o envolvimento de toda a comunidade”.
A médica pneumologista Vanessa Mendes, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia, destaca que o cigarro causa mais de 50 doenças documentadas nos fumantes ativos e passivos que vivem em contato direto com quem usa o cigarro. Ela pontua que, para os fumantes, os tratamentos são diferentes conforme o tipo de cigarro consumido. “De um modo geral, todo tratamento é feito a partir de um conjunto, com os medicamentos e a terapia de comportamento cognitivo comportamental. O que muda são os remédios, pois depende de qual cigarro o paciente fuma”, explicou a especialista.
Há uma diferença do nível de nicotina entre os cigarros, o que altera o nível de dependência química do paciente. Ela afirma que, no caso do dispositivo eletrônico, a composição inclui os mesmos componentes cancerígenos de um cigarro convencional: “O líquido, ao ser aquecido, gera milhares de substâncias tóxicas no organismo. Há em diversos estudos a comprovação de que o cigarro eletrônico vai além dos casos de EVALI – (sigla em inglês para lesão pulmonar induzida pelo cigarro eletrônico)”. Mendes conclui que há amplos relatos de pacientes sobre pneumonites agudas e doenças respiratórias graves associadas ao consumo dos DEFs. Com informações da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais.