Pesquisadores avaliam eficiência dos sistemas de produção na conversão de nutrientes em leite

A conversão em carne e leite dos nutrientes utilizados na produção leiteira é um indicador de eficiência e sustentabilidade da propriedade rural. Pesquisadores brasileiros e estrangeiros investigam fazendas leiteiras com sistemas diferentes para avaliar a eficiência do uso de nitrogênio (N) e fósforo (P) e o excedente, na forma de resíduos (esterco e urina). “O aumento da eficiência na utilização de nutrientes protege a qualidade dos recursos naturais e minimiza o excedente de nutrientes dos resíduos”, explica Julio Palhares, pesquisador da Embrapa Pecuária Sudeste.

O estudo, divulgado na Revista International Science Total Environment , no final de abril, analisou 67 fazendas de gado leiteiro localizadas na bacia hidrográfica do Lajeado Tacongava, no Rio Grande do Sul, uma das principais bacias leiteiras do Estado. O número representa 82% do total de propriedades da região, dividido em três sistemas de produção: confinado (3 propriedades); semiconfinado (7 fazendas) e pasto (57 fazendas). As avaliações são referentes ao ciclo produtivo de 2018.

O excedente de resíduos refere-se à diferença entre as entradas de nutrientes no sistema (dieta e fertilizantes) e as saídas (leite e carne). Se as entradas são maiores do que as saídas, há um excedente na forma de esterco e urina. Geralmente, avalia-se o excedente em kg por área, devido ao valor fertilizante da exclusão.

As propriedades confinadas apresentaram valores de excedente superiores à procura agrícola. No caso das fazendas a pasto e as semiconfinadas, o excesso ocorreu somente para o fósforo. Os sistemas confinados tiveram as maiores médias de excesso de N por área. Variou de 320 a 1.628 quilos de nitrogênio por hectare (média de 786 kg N). A sobra de P também foi maior nesse modelo, média de 70 kg por hectare. Segundo Palhares, esse saldo é associado ao tamanho do rebanho em lactação e à área. Nas fazendas baseadas em pastagens, o excedente foi menor, 352 quilos de N e 49 quilos de P por hectare ao ano. Nas semiconfinadas, 508 quilos de nitrogênio e 63 kg de fósforo por hectare ao ano.

Quando considerado o valor monetário do excedente de N, as médias foram de US$ 2.615, US$ 4.950 e US$ 12.171 para sistemas baseados em pastagens, semiconfinados e confinados, respectivamente. Para o excedente de P, foram US$ 346, US$ 588 e US$ 1.119 para pastagens, semiconfinados e confinados. Estas quantias em dinheiro representam a transformação dos resíduos em valores dos fertilizantes químicos, considerando a demanda de nutrientes para áreas de pastagem e trabalho de silagem de milho. Assim, a cifra anual dos resíduos em fertilizante potencial é específica. No entanto, para que os excedentes representem de facto esses valores, deverão ser correctamente manejados.

Vários aspectos influenciam os indicadores de eficiência na atividade leiteira. O manejo nutricional inadequado pode resultar em uma redução na taxa de conversão do nitrogênio e na correspondência da ração em produto leite, afetando os indicadores de excedente e eficiência do uso de nutrientes. Além disso, outros aspectos, como bem-estar animal, saúde e fatores reprodutivos que influenciam o balanço de N e P.

A descarga pode ser usada para adubar culturas, como áreas de pasto, e reduzir a dependência de propriedade de fertilizantes químicos. No entanto, a disponibilidade elevada pode representar risco de contaminação dos recursos naturais e de emissões de gases de efeito de estufa (GEE). “Algumas estratégias destinadas a reduzir os excedentes podem ajudar a mitigar os danos ambientais, promovendo práticas agrícolas mais sustentáveis”, conta Julio Palhares. Do ponto de vista econômico, o elevado excedente representa desperdício de nutrientes comprados. O uso eficiente determina menor custo de produção.

“A relação entre alto excedente e baixa eficiência no uso de nutrientes é observada nos resultados, demonstrando taxas reduzidas de conversão de insumos em produtos. Os determinantes para essas baixas taxas de conversão são multifatoriais, envolvendo aspectos produtivos, ambientais, culturais, econômicos e de qualidade da mão-de-obra”, explica.

Os resultados indicam que os produtores compraram altas quantidades de ração, mas isso nem sempre apresenta o efeito esperado, ou seja, maior produção de leite. O que se constata é um elevado excedente por área e baixa eficiência na utilização de nutrientes. “Essa situação pode ser revertida com assistência técnica mais frequente no manejo nutricional dos animais. Em fazendas a pasto e semiconfinadas, aumentar a representação de pastagens para atender às necessidades nutricionais dos animais pode ser benéfico”, observa Palhares.

Para o pesquisador da Embrapa, o balanço de nutrientes deve ser visto como uma ferramenta para melhorar os padrões de gestão de nutrientes. Ele afirma que estudos sobre a abordagem do balanço de nutrientes devem ser realizados para apoiar práticas e tecnologias que melhorem a eficiência do uso de nutrientes pela produção animal, evitando a manipulação dos recursos naturais, e para ajudar a resolver o excesso de nutrientes na forma de resíduos. Além disso, a pesquisa pode contribuir para alcançar Objetivos de Desenvolvimento Sustentável relevantes, como fome zero, água potável, consumo responsável e ação climática.

A pesquisa foi desenvolvida pela Embrapa Pecuária Sudeste, Instituto Leibniz de Engenharia Agrícola e Bioeconomia, da Alemanha, Serviço de Extensão Rural (Emater – RS), Universidade de Caxias do Sul e Universidade Humboldt, de Berlim, Alemanha, com o apoio das prefeituras dos municípios da área de estudo. Com informações da Embrapa.

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