Indústria disponibiliza primeiro arroz rastreado com tecnologia da Embrapa

O Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar), ferramenta desenvolvida pela Embrapa que utiliza tecnologia blockchain, começa a ser aplicado para a cadeia de arroz a partir deste mês. A Arrozeira Pelotas leva ao mercado o primeiro lote do cereal rastreado, oferecendo, por meio de um QR Code na embalagem, o acesso a informações sobre a origem da matéria-prima e o processo pelo qual o produto passa até chegar ao consumidor.

Neste primeiro momento, foram rastreadas cerca de 300 toneladas de arroz branco tipo 1 da marca Brilhante. Mas, a ideia da Arrozeira Pelotas é produzir novos lotes, expandindo para outros produtos, como o arroz parboilizado e o arroz parboilizado integral.

O trabalho de rastreabilidade foi realizado junto a produtores que cultivam as variedades do portfólio da Embrapa: BRS Pampa e BRS Pampeira . Os lotes estão sendo distribuídos nesta última semana de agosto para comercialização no Distrito Federal e no Rio Grande do Sul. Em seguida, o produto deverá chegar a outros mercados nos quais a Arrozeira Pelotas atua, como os estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso do Sul e Pará.

Atendimento à legislação e às demandas dos consumidores
Realizada por demanda do Ministério da Agricultura e Pecuária ( Mapa ), uma iniciativa que visa atender à Lei do Autocontrole , que prevê o compartilhamento de responsabilidades entre governo e setor produtivo na fiscalização da produção agropecuária. A legislação, ainda em processo de regulamentação, determina a necessidade de monitoramento e registro auditável de informações ligadas aos processos produtivos, de maneira a garantir a qualidade, segurança e conformidade legal aos produtos.

Supervisora ​​de qualidade na Arrozeira Pelotas, Nathalia Xavier explica que o projeto para rastreabilidade teve o apoio da diretoria e gerenciamento da empresa, que já vem trabalhando para atender às legislações vigentes, adotando mecanismos de autocontrole e certificações. “Com o Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade da Embrapa, o Sibraar, nosso objetivo é disponibilizar aos consumidores informações relevantes sobre o produto, demonstrando transparência no controle do nosso processo de produção”, completa.

Segundo o pesquisador responsável pelo desenvolvimento da tecnologia, Alexandre de Castro , da Embrapa Clima Temperado (RS), é importante fomentar uma cultura de rastreabilidade para que o consumidor tenha acesso às informações sobre o que está consumindo, além de promover um diferencial de mercado para uma indústria. “Ainda é uma questão cultural que está se iniciando no Brasil. Na Europa, isso já está mais difundido e as pessoas só compram o produto se for rastreado. Os europeus são mais exigentes em relação à origem dos produtos comercializados, acrescenta”.

Sistema desenvolvido pela Embrapa garante integridade dos dados
Disponibilizado pela Embrapa Agricultura Digital (SP) em 2022, o Sistema Brasileiro de Agrorrastreabilidade (Sibraar) utiliza tecnologia blockchain para o cadastro das informações da indústria – um banco de dados criptografados, com informações registradas em blocos conectados seguindo uma sequência temporal que garante a inviolabilidade das informações inseridas na plataforma.

“Essa tecnologia garante a integridade dos dados. Após o registro não é possível alterá-los. E, indiretamente, garante uma modificação, uma veracidade do dado. Isso é importante para garantir um histórico, uma trilha de auditórios ou de auditabilidade”, complementa Castro. As informações são armazenadas em um centro de dados da Embrapa seguindo protocolos de segurança. O sistema também adota padrões internacionais aceitos em mais de 150 países, a partir da parceria com a Associação Brasileira de Automação (GS1 Brasil), tornando-o apto a atender ao mercado internacional.

“O Sibraar foi concebido inicialmente para o setor sucroenergético, mas já vem sendo customizado e expandido para a agroindústria vinculada a outras cadeias agrícolas e para empresas licenciadas”, conta o supervisor da área de negócios da Embrapa Agricultura Digital, Anderson Alves . A operação, hoje, é realizada por meio da Ferpall Tecnologia Ltda ., que oferece ao mercado a rastreabilidade para o açúcar mascavo e demerara da marca Granelli e para frutas, verduras e legumes (FLV), além do arroz Bilhante.

Recentemente, a Embrapa firmou parceria com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) para definição de protocolos e rastreabilidade de suínos e frangos de corte e também tem em vista parceria para o setor de pescados.

Critérios de rastreabilidade do arroz e acesso pelos consumidores
De modo geral, a rastreabilidade pode envolver dados sobre os elos da cadeia produtiva, sendo dividida em: originação (fornecedor/produtor), industrialização, distribuição e distribuição (varejo/atacado). Para o arroz Brilhante, estão sendo registrados, num primeiro momento, dados ligados aos produtores (originação) e à indústria.

No âmbito dos produtores, as informações envolvem nome de propriedade, CPF, geolocalização, certificações e cultivares utilizados nos lotes, respeitando-se as exigências da Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD). Já em termos de indústria, leva em conta, principalmente, dados de fabricação e de validade, laudos de classificação vegetal e ficha técnica do produto.

Essas informações são exibidas no que se chama de “página de rastro”, acessadas pelo celular mediante leitura do QR Code estampado nas embalagens e inserção do número do lote. Além dos dados já indicados, ainda estão disponíveis o código de rastreio do lote, a assinatura digital do lote, especificações do produto, informações nutricionais, e uma imagem da embalagem. Também é possível conferir a oferta do arroz no campo ao longo do ano. A página do rastro recebe um certificado de atualização emitido pela Embrapa.

Castro acredita que a iniciativa pode agregar valor aos produtos e facilitar a abertura de novos mercados. Para Nathalia Xavier, a implementação da rastreabilidade é uma forma de demonstrar ao consumidor o comprometimento da Arrozeira Pelotas com a qualidade e a segurança de seus produtos, garantindo o cumprimento das metas regulatórias do mercado interno e do processo de exportação.

Alves avalia que o País vem passando por um movimento de transformação digital na indústria e no setor agropecuário, que também alcança o consumidor. “Ainda que a rastreabilidade via QR Code na embalagem não seja uma obrigação legal, vemos que o próprio consumidor, cada vez mais consciente, começa a exigir das indústrias e redes de varejo que esse tipo de ferramenta esteja disponível para auxiliar na sua escolha no momento da compra”, comenta.

Parceria com cadeias produtivas é importante para expandir a rastreabilidade
Para validar o uso do Sibraar nas diferentes cadeias produtivas, de forma geral, a Embrapa estabelece parcerias com associações de produtores interessadas na implementação da rastreabilidade em seus produtos. É o caso de articulação com a Associação Brasileira da Indústria do Arroz ( Abiarroz ), que prevê a construção de protocolos de rastreabilidade e a integração ao Sibraar dos sistemas de gestão e monitoramento de empresas associadas, como a Arrozeira Pelotas. A indústria é a quarta maior do estado do Rio Grande do Sul, segunda no ranking do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) de 2023, com capacidade mensal de beneficiamento em cerca de 25 mil toneladas.

Andressa Silva, diretora-executiva da Abiarroz, ressalta que a Lei do Autocontrole tem funcionado como um trampolim para a rastreabilidade. “O Sibraar é importante porque traz a tecnologia da Embrapa, incorpora o programa de autocontrole já existente na indústria e promove a rastreabilidade do produtor até o consumidor, numa cadeia protegida por blockchain”, afirma.

O papel da Embrapa, que não tem função regulatória, é intermediar a relação entre as associadas e as empresas de rastreabilidade, ajudando na definição dos critérios de rastreabilidade e apoiando a expansão de outros associados – mais de 50 indústrias e cooperativas, no caso da Abiarroz . Neste caso, contate com a participação da Embrapa Clima Temperado, Embrapa Agricultura Digital e Embrapa Arroz e Feijão (GO) para qualificar os critérios utilizados no rastreio dos produtos.

Além de atender às regulamentações quanto à qualidade e segurança do produto, Andressa Silva destacou entre os benefícios da rastreabilidade a melhoria da gestão da cadeia de suprimentos, como a possibilidade de individualização de responsabilidades por não conformidades, a proteção contra fraudes, o aumento da confiança do consumidor e agregação de valor. “O produto que adota a rastreabilidade e o autocontrole, e que está dentro de um conceito de sustentabilidade, acaba agregando valor em relação a outro que não tem essas práticas e isso termina refletindo na própria valorização da cadeia produtiva”, completa. Com informações da Embrapa.

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