Amazônia sob pressão: mudanças climáticas transformam o cotidiano de um terço da população

As mudanças climáticas deixaram de ser uma ameaça futura e já se manifestam no dia a dia da população da Amazônia Legal. Uma nova pesquisa de percepção, intitulada Mais Dados Mais Saúde – Clima e Saúde na Amazônia Legal, revela que 32% dos moradores da região sentem diretamente os efeitos do clima em suas vidas.

O impacto é ainda mais evidente entre os povos e comunidades tradicionais — como indígenas, quilombolas e ribeirinhos — onde 42,2% das pessoas afirmam já sentir as consequências da crise climática.

Luciana Vasconcelos Sardinha, diretora adjunta de Doenças Crônicas Não Transmissíveis da Vital Strategies e responsável técnica pelo estudo, explica que esse cenário é agravado por um modelo de desenvolvimento “excludente e predatório”, que privilegia a implantação de hidrelétricas, grandes negócios agropecuários e desmatamento. Esse modelo acaba reforçando a pobreza e a desigualdade, afetando de forma mais direta as comunidades tradicionais.

Doenças e problemas ambientais alteram a rotina
Os moradores da Amazônia Legal relataram uma série de efeitos diretos no cotidiano, destacando o aumento de custos e as alterações ambientais:
Aumento da conta de energia elétrica: 83,4%

Aumento da temperatura média: 82,4%

Aumento da poluição do ar: 75%

Maior ocorrência de desastres ambientais: 74,4%

Aumento do preço dos alimentos: 73%

Cerca de dois em cada três moradores (64,7%) entrevistados vivenciaram ondas de calor nos últimos dois anos. Além disso, a população tem acompanhado de perto situações como seca persistente e incêndios florestais (29,2%), desmatamento (28,7%) e piora na qualidade do ar (26,7%) e da água (19,9%). Entre os povos tradicionais, os relatos mais fortes incluem a piora na qualidade da água (24,1%) e problemas na produção de alimentos (21,4%).

Respostas comunitárias e necessidade de políticas integradas
A pesquisa aponta que a crise climática já está alterando o comportamento da população. Mais da metade dos entrevistados (53,3%) reduziu práticas que poderiam agravar o problema e 38,4% sentem culpa por desperdiçar energia. A maioria (64%) tem o hábito de separar o lixo para reciclagem, uma prática ainda mais comum nas comunidades tradicionais (70,1%).

Luciana Sardinha enfatiza que, apesar de serem os mais impactados, os povos tradicionais demonstram uma capacidade de produzir respostas eficientes por meio da organização em rede e dos seus saberes tradicionais.

Para mitigar os efeitos das mudanças climáticas, a especialista defende a urgência de políticas públicas que foquem na redução das desigualdades regionais e no fortalecimento de governanças com planejamento integrado.

“Isso não é um problema para o futuro. Isso é um problema atual e que traz muitos impactos,” alertou Luciana, reforçando que qualquer modelo de desenvolvimento sustentável deve incluir a participação democrática e o protagonismo dos povos tradicionais.

O levantamento, que entrevistou 4.037 pessoas nos nove estados da Amazônia Legal, foi realizado pela Umane e Vital Strategies, com o apoio do Instituto Devive. Com informações da Agência Brasil

PUBLICIDADE
[wp_bannerize_pro id="valenoticias"]
Don`t copy text!